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- Brasileiro nunca tinha chegado às meias-finais como membro do CT.
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No frenesim que invadiu o surf mundial atual, com o choque cultural entre anglo-saxónicos e brasileiros cada vez mais nos píncaros e mais polémico que nunca, são poucos os surfistas que conseguem sair dessa bolha de irracionalidade e conseguir juntar os casos. Ou o mesmo que dizer, agradar a todos. Curiosamente, Ethan Ewing é um desses casos. Muito por culpa das suas linhas lindas, daquele que é considerado o estilo mais polido do Mundo e também graças a uma personalidade pouco mediática e efusiva. E se é verdade que só um ser invertebrado poderá arrastar um surfista da mais fina classe como Ewing para o meio do “lamaçal futebolístico” em que muitos têm tentado transformar o Tour, não deixa de ser menos verídico que o Brasil também apresenta a sua versão do surfista conciliador. Yago Dora. O “intruso” que está a transformar-se em candidato.
Só as recorrentes lesões entre o pouco afamado novo top 22 mundial permitiram que Dora competisse na segunda metade da temporada. Tudo por culpa de uma própria lesão que o tirou da primeira metade da temporada, mas que já lhe garantiu um wildcard que vale lugar no circuito em 2023. E ninguém tem aproveitado tão bem as oportunidades como o brasileiro mais internacional do Tour. Quer seja pelo estilo refinado, como por todo o arcaboiço de viagens e freesurf que o foram moldando. A regressar ao melhor ritmo competitivo, Yago precisou de apenas duas etapas para mostrar que estamos perante uma das maiores ameaças ao pode estabelecido a partir da próxima temporada.
Depois de dois resultados menos conseguidos, mas ainda na ressaca do regresso e de uma lesão bastante complicada, como foi o 17.º posto em G-Land e o 9.º em El Salvador, Dora surgiu como uma lufada de ar fresco no Brasil. Mostrou o melhor surf de todo o campeonato, pelo menos entre os humanos, com uma conexão ímpar com a esquerda de Itaúna. Fez tudo no sítio certo e só parou quando teve pela frente um extraterrestre chamado Filipe Toledo. Aquele que viria a vencer o evento, cimentando a liderança do ranking mundial e o estatuto de melhor surfista do ano. E o mesmo que já o havia eliminado nas duas provas anteriores.
Só que Yago Dora regressou em J-Bay disposto a mostrar que o que aconteceu no Brasil não era acidente de percurso, sobretudo por estar a competir em casa. Curiosamente, na etapa em que tinha feito o melhor resultado da carreira, um 3.º posto em 2017, ainda como jovem convidado. Na altura, despachou Kolohe Andino, John John Florence, Gabriel Medina e Mick Fanning, por esta ordem, até perder para Adriano de Souza nas meias-finais, num dos mais belos cartões de visita na estreia de um jovem talento no CT. No ano seguinte estava no Tour, sem surpresa, mas de lá até cá o melhor que conseguiu foi 5.ºs lugares. Foi preciso aparecer novamente como wildcard para subir na hierarquia. E novamente com impacto e com toda a justiça.
Em Jeffreys Bay mostrou a Toledo que afinal à quarta é que é de vez. E partiu rumo a uma performance espetacular, que só foi travado por apenas 0,17 pontos e frente ao campeão do evento. Mais uma vez. Na memória ficou um surf de elevado recorte técnico e bem acima dos padrões do campeonato. Acima de tudo, elogiado desde o Amazonas até aos Antípodas, lá bem na Tasmânia. Algo que não é fácil para alguém que ostenta a bandeira verde, amarela e azul. E só há duas coisas que o justificam: um surf verdadeiramente empolgante e de estrela mundial e o facto de nunca ter vencido, ao contrário dos seus compatriotas que têm dominado o surf mundial na última década.
Nem sequer é certo que Yago Dora esteja garantido em Teahupoo, onde seria interessante ver a sua evolução em ondas tubulares e pesadas. Contudo, é certo que em 2023 a corrida ao título mundial vai ter mais um nome incluído. Será uma grande surpresa não ver Yago Dora no top 5 final. Sobretudo se conseguir manter este nível absurdo e a conexão dentro e fora de água. Obviamente, que é necessário fintar as lesões e manter-se a 100 por centro. Mas, tal como Ewing fez este ano, para gaudio de todos os verdadeiros fãs do surf mundial, também Dora o fará na próxima temporada. Não deve faltar muito até chegar o primeiro triunfo na elite. Até porque já caiu no goto dos gregos e troianos do surf mundial, o que ajuda muito a concluir a escrita da narrativa.
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