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- O cut do meio da temporada gerou muita polémica, mas há mais situações que não abonam muito em prol da verdade desportiva.
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A WSL e os seus principais circuitos vivem dias de revolução e reestruturação, após a fase pandémica que colocou praticamente tudo em “banho-maria”. Novos circuitos, novas regras, novas caras e algumas ideias refrescantes que têm a sua lógica e assertividade. No fundo, muitas mudanças, como já é apanágio da realidade do surf mundial ao longo dos anos.
Podemos dizer que em algumas dessas mudanças estruturais, como a criação de circuitos regionais que visam facilitar as carreiras e as carteiras dos jovens aspirantes as estrelas do surf mundial e até mesmo a nova segunda divisão do surf mundial, com a criação do circuito Challenger Series, fazem todo o sentido e estão a mostrar-se, aos poucos, apostas ganhas. Ainda que com alguma areia na engrenagem pelo meio.
Em sentido inverso, existem várias situações, sobretudo no principal circuito, o CT, que estão a merecer várias críticas por parte dos fãs e especialistas, quase de forma unânime. O recente cut a meio da temporada é uma dessas situações e veremos se sobrevive mais do que um ano, tal como aconteceu com o seu “antecessor” de 2011. A final a 5 também mereceu inúmeras críticas e continua a parecer algo desajustada à realidade competitiva, mesmo que os resultados das audiências atestem esta aposta. Talvez estejamos perante um caso de que primeiro estranha-se, depois entranha-se, mas só o tempo o dirá.
Contudo, há mais situações e pormenores, tanto organizativos como competitivos, que continuam a fazer pouco sentido nesta época de constantes mudanças. Aliás, como o surf mundial tem essa característica volátil de experiência e mudança constante, até é bem provável que estas situações sejam corrigidas num futuro próximo.
Aqui ficam sete situações que fazem pouco sentido no cenário atual das provas da WSL. Já deixando de fora essas questões maiores do cut e da final 5, ou até mesmo da falta que faz uma onda de consequência nas Challenger Series, como preparação para esse cenário no principal circuito, ou as regras tão apertadas e até desajustadas em relação a interferências. Já para nem falar da atual mudança no site e aplicação da WSL, que tornou a navegabilidade num verdadeiro jogo das escondidas, onde a informação sobre tudo o que rodeia os melhores surfistas do Mundo e as competições se tornou cada vez mais escassa ou até mesmo inexistente.
Atletas do CT nas Challenger Series – Em pleno arranque do Circuito Challenger Series, esta é logo a situação que salta mais à vista e que já tinha sido notada no ano passado. Podem argumentar que a presença da elite mundial no circuito de qualificação traz mais visibilidade às provas. Logicamente que traz. É bom para os fãs ver Stephanie Gilmore e Kelly Slater a competir em Snappers, por exemplo. Ninguém duvida disso. Contudo, para um circuito que se quer de qualificação pura e dura e que se apresenta como uma projeção da nova geração a caminho do Olimpo do surf, esta situação rouba muita verdade desportiva a todo o processo de qualificação. Se queres estar no Tour tens de vencer os melhores? Certo, não deixa de ser verdade. Contudo, não há nenhuma ponta de justiça para um surfista que está a lutar pela qualificação e que em vez de enfrentar alguém que também esteja nessa luta, pode apanhar, por exemplo, com um John John Florence na ronda inaugural em Haleiwa. É só um pequeno exemplo, pois, entre as muitas dezenas de candidatos ao Tour, nem todos irão medir forças com adversários do CT. Algo que desvirtua completamente o processo qualificativo. E depois há o reverso da medalha, tal como aconteceu na prática no ano passado na Ericeira. Surfistas que vão a estas provas só “picar o ponto” e que até podem acabar por beneficiar compatriotas. Na memória ainda está a saída de água de Italo em Ribeira d’Ilhas a 10 minutos do final do heat. Nem todos os outros surfistas em competição tiveram esse privilégio de ter um adversário – que não entrava nas contas - dissidente.
Surfistas de outros continentes nos QS regionais – Aqui a situação é idêntica em termos de verdade desportiva. Estes surfistas vêm aumentar a competitividade e até a visibilidade das provas regionais, é certo. Tal como aconteceu com o brasileiro Lucas Silveira, que deu um festival e venceu o recente QS de Santa Cruz, em Portugal. Contudo, os que se tiveram de cruzar com ele acabaram por sair prejudicados em relação aos que apenas competiram frente aos adversários naturais. Por tudo de bom que isso possa acrescentar às provas, não deixa de ser sempre areia na engrenagem de toda a verdade do processo qualificativo. Uma coisa é ser-se eliminado por um concorrente direto, outra é deixar a prova frente a alguém que nem está a competir pelo mesmo.
Surfistas sozinhos na água no sistema overlaping heats – Esta é uma situação peculiar e que apenas foi notada este ano porque realmente sucedeu. Não fosse o que aconteceu este ano em Portugal e talvez nunca fosse possível perceber este possível problema. Nos oitavos-de-final, Filipe Toledo enfrentou o rookie Jake Marshall em Supertubos, com o jovem norte-americano a lesionar-se e a abandonar o heat. Com Toledo na frente a vitória estava assegurada, embora o surfista brasileiro tivesse continuado na água perante o sistema de overlaping heats ativo, ou seja, com outros dois surfistas de outra bateria ao lado. Não mandará o bom senso dar por terminada a bateria em que apenas está um surfista na água já com o triunfo garantido? Regras são regras, é um facto. E não veio mal ao Mundo por aqueles cerca de 20 minutos deitados ao ar. Contudo, embora não tenha sido isso que Toledo fez, em última análise, nada impede um surfista que está nessa situação, e que tem a prioridade sobre o heat seguinte, de “escolher” o adversário que quer apanhar na ronda seguinte. Obviamente, que isto talvez nem tenha passado pela cabeça de Toledo e até pode acontecer em casos que o surfista não se cruze na próxima ronda com o heat seguinte, mas nesta situação concreta, o surfista brasileiro poderia ter deixado apanhar ondas um adversário que achasse potencialmente mais acessível e bloquear com a prioridade o outro surfista que quisesse evitar na fase seguinte. Isto não aconteceu, repito. Mas a margem para um dia suceder está lá. Há situações que devem ser pensadas antes de acontecerem. E se há quem pense que este tipo de mentalidade não pertence ao surf, também havia quem achasse que um surfista não era capaz de fazer contas de matemática para calcular até que ponto poderia fazer uma interferência ou não de forma a ganhar a bateria. E depois lá tiveram de mudar as regras…
Redução de entradas em Haleiwa e subjugação aos havaianos – Voltando ao circuito Challenger Series, uma das pequenas arestas por limar de um circuito extremamente bem pensado, é a última etapa e o facto de nem todos os surfistas que correram o circuito terem acesso a esta prova havaiana. Até pode fazer sentido ter uma etapa final mais pequena em termos de número de surfistas - e sou um real defensor de uma redução do número de surfistas no Tour, por exemplo, ainda que não deva ser feito a meio de um ano. Contudo, o processo desta situação visa a histórica prioridade dada aos surfistas havaianos. Ou seja, há menos vagas para os surfistas das Challenger Series para haver mais locais em prova. É a WSL a ceder mais uma vez às exigências havaianas – algo que já só acontece naquele ponto do globo - e que apenas desvirtua todo o processo qualificativo, como as outras situações acima mencionadas.
Challenger Series em simultâneo com circuito regionais e Pro Junior – Apesar da positividade que há nesta nova realidade do circuito WQS, dividido em qualificação regional e mundial, há ainda que acertar calendários. É certo que a margem de manobra pode não ser a maior, mas na prática os surfistas qualificados para as Challenger Series têm muito poucas possibilidades de competir em eventos regionais na primeira metade das temporadas. Já para não falar dos surfistas juniores, que ainda possam ter alguma ambição no escalão. É certo que o sistema de qualificação regional salvaguarda vagas para os surfistas mais bem posicionados no ranking das Challenger Series que falhem a qualificação regional. Contudo, estes surfistas, quando regressam para a segunda metade das temporadas regionais, que acontece nas primeiras metades dos anos civis, partem sempre em desvantagem perante a concorrência. E não é matemático que não haja mais que um surfista ou até um punhado deles apanhados nesta situação. Até porque um surfista que faça as sete etapas das Challenger Series e que perca sempre de primeira, dificilmente estará salvaguardado por uma vaga de suplente ou wildcard pelo seu ranking. Pode ser extremamente difícil conjugar calendários e fazer dois circuitos em simultâneo pode exigir mais gastos a esses surfistas, mas é uma situação que acaba por não beneficiar determinados atletas, fazendo quase que alguns deles apenas surjam nesta ótica de Challenger Series praticamente num ciclo de dois em dois anos. Veja-se o que aconteceu este ano na região sul-americana...
Sistema de seeding trancado – O sistema de seeding do CT é um dos processos mais bem definidos e regrados e que é fácil de entender, sendo até possível saber antes das etapas quais os surfistas que vão estar em cada heat. Contudo, não deixa de ser uma situação um pouco injusta para aqueles que têm menos seeding. Destrancar o seeding não será a solução, pois poderia colocar tops contra tops nas rondas iniciais. Contudo, deveria haver mais liberdade, que ajudasse a trazer ainda mais imprevisibilidade a um desporto que já faz dessa imprevisibilidade um dos seus pontos fortes. Talvez fazer grupos de seeding ou potes de cabeças de séries. Os melhores do seeding continuavam a apanhar os piores do seeding, mas de uma forma aleatória. Por exemplo, os seis melhores do seeding teriam de se cruzar sempre com os seis piores, mas as baterias eram definidas através de sorteios, evitando saber que o número um vai sempre contra o wildcard com pior ranking. É, somente, uma ideia, que ajudaria a destrancar o sistema e que até traria mais atração à constituição das baterias.
Juízes a julgarem surfistas da mesma nacionalidade - Este pode ser um ponto sensível, por dois lados. Primeiro porque ninguém quer colocar em causa a seriedade dos juízes. Depois, porque facilmente a WSL pode justificar falta de meios para colocar isto em prática. Mas estamos a falar de um desporto olímpico e a evolução só pode passar por aí. Independentemente dos recursos disponíveis e da seriedade e profissionalismo do painel dos juízes. Há que apostar na formação e na diversificação de juízes e trazê-los em maior número para as etapas. Como fazer num heat das Challenger Series em que esteja na água um surfista brasileiro, um francês, um australiano e um norte-americano? Tem de existir um número de juízes suficiente e uma diversidade que permita, por exemplo, colocar nessa bateria um juiz espanhol, um português, um havaiano, um sul-africano e um peruano. Não existem? Aí passa pela formação de mais juízes e pelo crescimento do painel para pelo menos 9 nacionalidades - 8 no caso do CT, em que só existem heats com o máximo de três surfistas - num futuro a longo prazo, obviamente. Não é colocar em causa a seriedade de quem julga um compatriota, até porque em última instância, em vez de poder beneficiar, até poderá estar a ser condicionado de forma inata por essa ligação. São as regras básicas do desporto.
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