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  • Da Sibéria para Portugal, com a sigla WLD a conselho da WSL (ENTREVISTA)
    15 abril 2022
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  • Filho de um pioneiro de kitesurf e windsurf na Rússia, Nikita tem o sonho de ser o primeiro russo a chegar ao CT.
  • Centenas de surfistas rumaram este mês a Portugal para as duas etapas finais do QS europeu, primeira na Caparica e esta semana em Santa Cruz. E foi pelo Oeste que encontrámos um que se destaca dos restantes por uma particularidade que segue o seu nome desde que começou a invasão russa à Ucrânia. Quando Nikita Avdeev surge no quadro competitivo todos percebem a origem por trás do nome. Contudo, a sigla que ostenta é a de WLD (World). Opção própria ou imposição? Nikita explica que foi uma “sugestão” por parte da World Surf League, depois de o próprio surfista ter contactado a organização.

    Embora a WSL nunca tenha assumido publicamente uma posição sobre o conflito - ao contrário da ISA, que baniu a Federação russa dos seus eventos -,nem durante a etapa portuguesa do CT, em plena Europa e durante o início da invasão, a verdade é que no caso concreto de Avdeev houve um “conselho” dado ao jovem surfista natural da Sibéria. Conselho que Nikita não teve qualquer problema em seguir, deixando de parte a bandeira russa, pois para ele apenas interessa “poder continuar a competir”.

    Filho de um dos pioneiros do kitesurf e windsurf russo e formatado nas famosas ondas geladas de Kamchatka, que em 2014 foram mostradas ao Mundo pelo saudoso evento Nixon Surf Challenge, Nikita Avdeev tem uma estreita ligação ao nosso país. É treinado por um português e passa cá alguns meses do ano, sobretudo os competitivos. Tem também o sonho de ser o primeiro russo a chegar ao circuito mundial, mesmo que para já não ostente a sigla do seu país. O único desejo é que tudo se resolva rapidamente no conflito entre Rússia e Ucrânia.

    Beachcam - Antes de mais, quem é o Nikita Avdeev?

    Nikita Avdeev - Sou apenas um cidadão russo, de 21 anos, que perseguiu o sonho de ser surfista. Fazer surf é aquilo que mais gosto na vida. É a minha paixão e isso significa tudo para mim.

    B - Conta-nos como é que o surf entrou na tua vida...

    NA - Tudo começou quando tinha 10 anos, por influência do meu pai. Ele foi um dos pioneiros da prática de kitesurf e de windsurf na Rússia. No entanto, a primeira vez que surfei foi em Bali, na Indonésia. Experimentei e disse desde logo: é incrível!

    B - Tiveste o teu batismo na Indonésia, mas na Rússia onde gostas mais de surfar?

    NA - Temos um beach break em Kamchatka. É semelhante à vossa Praia de Carcavelos. As ondas não são muito grandes, mas com as condições certas são oito quilómetros de bancos de areia perfeitos e sem ninguém por perto. É o meu spot de eleição.

    B - Voltando à Rússia, além de Kamchatka, existem mais ondas com potencial?

    NA – Muitas, mesmo! Se estiverem de visita à Rússia e tiverem tempo, podem apanhar ondas incríveis. Na zona de São Petersburgo e Sochi são várias as ondas a funcionar mensalmente com consistência. Junto à fronteira com o Japão também existem muitas ondas, que estão a funcionar quase de forma diária.

    B - Falaste em Carcavelos. Já lá surfaste muitas vezes?

    N - É a minha onda favorita em Portugal. É traiçoeira e difícil. Ali, podes apanhar a onda da tua vida, mas também pode sair tudo ao lado, apesar das condições estarem perfeitas. É uma verdadeira roleta. Para mim surfar em Carcavelos é muito divertido, tudo pode acontecer.

    B - Resides em Portugal?

    NA - Não, apenas estou cá por uma temporada. A minha residência permanente é na Sibéria, de onde sou originário.

    B - Vens de muito longe. As longas distâncias não são um entrave quando queres deslocar-te para os campeonatos?

    NA - Este ano estabeleci-me nos Açores. Foi lá que fiz a minha pré-temporada, mas também em Carcavelos com o meu grupo.

    B - E quem é o teu treinador?

    NA - O meu treinador é português. Desde o último QS dos Açores que estou a trabalhar com o Francisco 'Xixo'.

    B - Ainda és um jovem, o que procuras no mundo do surf de competição?

    NA - Em termos gerais, quero ser o primeiro surfista russo a chegar ao CT e obter a qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris'2024. No entanto, para já a principal prioridade é melhorar o meu surf, bem como colocar o meu nome e da Rússia no mapa do surf. Depois, logo veremos como é que as coisas evoluem.

    B - Falaste em colocar o nome da Rússia no mapa do surf. Atualmente, a Rússia é notícia pela ofensiva militar sobre a Ucrânia. O que pensas de tudo isto?

    NA - Lamento imenso toda a situação que o povo ucraniano está a atravessar. Estes são jogos políticos. Não sei o que vai acontecer no futuro. Apenas desejo que a vida quotidiana de todas estas pessoas venha a ser restabelecida e em segurança.

    B - Desde que a guerra estalou que competes com a sigla WLD (World) e não debaixo da bandeira russa. Como surgiu esta solução?

    NA - Perguntei à WSL se poderia continuar a competir na sequência de tudo o que despoletou o conflito. Disseram-me que esta era a melhor forma e aceitei. Desde que possa continuar a competir, está tudo bem para mim. Competir é aquilo que gosto de fazer. Todos sabem qual é o meu país, mas eu represento-me a mim próprio.

    B - No teu relacionamento com os restantes surfistas, a temática do conflito militar é motivo de conversa?

    NA - Tento que não se fale, pois é uma questão difícil para todas as pessoas. Prefiro estar focado no surf. Tenho vários amigos e uma boa ligação com todos eles. Isso é bom para mim.

    B - Quem são os teus melhores amigos neste mundo do surf?

    NA - É o meu treinador, Francisco 'Xixo', a pessoa com quem passo a maior parte do tempo.

    B - Depois desta perna portuguesa do QS, que competições se seguem no teu calendário?

    NA - Quero participar no QS5000 que está previsto para Krui, na Indonésia, e depois provavelmente vou regressar à Sibéria.

     

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