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- Após Margaret River apenas vão permanecer na segunda metade da temporada o top 22 masculino e o top 10 feminino, mais dois wildcards por prova…
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Terminada que está a confusa e meio “esquizofrénica” etapa de Bells Beach, o circuito mundial segue a todo o vapor para a etapa de Margaret River, no Oeste australiano. Será já nos próximos dias que a West Oz recebe os melhores surfistas do Mundo para uma etapa que está a gerar imensas expectativas. Mais do que as habituais, numa das paragens (injustamente) mais mal-amadas do Tour. Após esta quinta etapa vai haver lugar a um corte no número de surfistas da elite mundial. Um cut já com muita polémica à mistura e que promete continuar a dar que falar nos próximos tempos.
Onze anos depois, as hostes do circuito mundial voltam a ser abaladas por um há muito anunciado cut. Na altura, foi uma "extravagante" e histórica etapa em Nova Iorque que acolheu as decisões. Houve de tudo. Polémica, a suspensão do saudoso Bobby Martinez, drama e até altas ondas, por mais incrível que pareça. Pelo meio, também havia um Tiago Pires aflito nas contas. Ainda que esse fosse um cut mais injusto e ainda mais questionável em relação ao atual e que desse corte tenha surgido a maior fornada de campeões da história recente do surf mundial...
Foi há quase um ano que a WSL anunciou estas mudanças, aproveitando a pausa provocada pela pandemia para projetar (mais) uma mudança de formato. Foram precisos muitos meses, demasiados até, e alguns nomes sonantes agarrados à calculadora para surgirem rumores de que os surfistas preparavam um boicote à etapa de Margaret, como protesto contra o cut. Algo que terá levado uma nega por parte da WSL. Já a história do cut, em si, é diferente. Tal como a da redução de surfistas.
Eis sete notas sobre o tema do momento no circuito mundial, com base no que sucedeu em Bells e no que pode vir a suceder após Margaret. Com muitos nomes sonantes pelo meio, algumas injustiças e também o nosso representante, Frederico Morais.
- Em primeiro lugar, e para que não restem dúvidas, na minha visão, faz todo o sentido existir um corte no número de atletas no CT. Essa opinião já era expressa por Kelly Slater há muito tempo e depois da partida de vários ícones como Mick Fanning, Joel Parkinson, e por aí fora… ficou ainda mais visível essa necessidade. O circuito tem muitos surfistas com nível "apenas" para o WQS - assim como o WQS tem alguns surfistas com nível CT, que nunca lá vão chegar e é assim mesmo a lei da vida. Há inúmeros heats da ronda inaugural que nem toda a gente aguenta ver. São 34 surfistas – mais dois wildcards. Um número exagerado para um produto que se quer cada vez mais comercializável. Uma redução do número de surfista vai tornar o produto mais friendly em termos televisivos, vai criar mais embates entres os principais surfistas e vai oferecer mais espetáculo. Não há dúvida sobre estes fatores sempre apontados pelos defensores dessa redução e vamos poder comprovar isso mesmo já na segunda metade da temporada. Atualmente, a sensação que muitas vezes temos é que há um campeonato dentro do próprio campeonato, que só começa a partir da ronda 3. Na melhor das hipóteses...
- No entanto, embora esse corte, talvez para 24 surfistas, faça sentido, o timing do mesmo tem de ser planeado. Isto é algo que faz sentido e que já houve tempo para pensar e implementar, mas numa mudança de temporada. Fazê-lo a meio da época é errado, desajustado e até ridículo. Quando brincamos com o fogo, a tendência é para termos azar. E foi isso que aconteceu. A teoria nos escritórios da WSL até poderia bater certo, mas na prática vieram os azares. Um Medina que decidiu saltar fora e que deve estar deserto para regressar, ficando, obviamente, seguro por um wildcard, pois, a todas as razões e mais algumas, ainda junta o facto de ser campeão mundial em título. E inúmeras lesões de surfistas que ainda nem sequer se estrearam na temporada. Alguns deles rookies, na iminência de se despedirem do Tour após cinco meses e sem praticamente terem molhado a licra. É injusto e descabido. São estes exemplos que devem ser logo pensados antecipadamente. Nem mesmo os dois wildcards de final de época conseguem salvaguardar as situações de Yago Dora, Carlos Muñoz e Liam O’Brien. Alguém vai sair por baixo…
- A badalada petição dos surfistas e os rumores de possível boicote à etapa do Oeste australiano faz tanto sentido como este cut a meio do ano. A novidade foi dada pela WSL em… Agosto do ano passado. Já lá vão meses suficientes para os surfistas terem percebido o quão desmedida era esta alteração a meio de um ano competitivo. Não creio ser necessário ver as coisas aconteceram para se perceber isso. Teria sentido fazerem algo do género antes do arranque da temporada. Vir criticar este corte em cima de ele acontecer perde toda a credibilidade. Owen Wright foi uma das vozes mais proeminentes, porque naturalmente há 8 meses não acreditava que estivesse agora em risco de cair do CT. Este é dos poucos campos em que a WSL esteve bem, pois não faz qualquer sentido alterar as regras a meio do jogo.
- A juntar às injustiças com os lesionados, há outras que podem sair deste malfadado corte. Quer o destino que um dos surfistas que esteja abaixo do cut seja um dos que mais tem entusiasmado neste arranque de temporada. João Chianca está na iminência de deixar o circuito, depois de ter já provado mais que uma vez que é aqui o lugar dele. Perdeu duas vezes para John John Florence, mas colocando sempre o havaiano em sentido e obrigando-o a surfar no máximo. Em nenhum dos heats que já fez no Tour teve scores abaixo dos 10 dígitos. Estes é daqueles casos que se não existissem tantas lesões tinha de estar salvaguardado por um wildcard, em virtude da performance exibida. E só de pensar que ainda temos ondas como Teahupoo e G-Land ainda ficamos mais deprimidos sobre a situação do rookie brasileiro. Enfrenta qualquer um de igual para igual e tem sido a grande surpresa da temporada. Sim, bem mais que qualquer Robson da vida. Pode não se traduzir em resultados, mas em performance não engana. É deste sangue novo que o Tour precisa. A WSL não o pode deixar escapar!
- Estas mudanças não olham a nomes. Basta observar o lote de “favoritos” que ainda não estão garantidos para a segunda metade da época. Stephanie Gilmore ou Jordy Smith são casos de surfistas que estão dentro, mas ainda em risco de perderam as vagas. Já Sally Fitzgibbons e Owen Wright estão fora do cut e veem a continuidade no circuito em risco. Falamos de surfistas que no início de cada época estão sempre entre a lista de candidatos ao título mundial. No caso de Steph são sete títulos mundiais que correm o risco de deixar a elite de uma das formas mais desprestigiantes que a WSL decidiu encontrar. Não quero com isto dizer que o estatuto deva garantir lugares fixos, porque esta é uma situação bem diferente. Mas na realidade foi isso que a WSL fez anos após anos com Kelly Slater. A verdade é que do lado feminino apenas quatro nomes estão garantidos, faltando fechar outros seis. Do lado masculino há mais margem, com 13 nomes já fechados e nove ainda por apurar. Veremos que surpresas nos vai trazer Margaret. Mas escrevam já que vai ser inevitável perder grandes nomes do circuito.
- Por outro lado, temos também o “nosso” Frederico Morais neste corte. Tal como Tiago Pires esteve em 2011, ainda que de forma diferente. Nessa altura, o ranking era unificado, contando resultados de WQS e CT, com claro favorecimento aos surfistas do CT, que podiam colocar os três melhores resultados do principal circuito na contagem. Saca estava praticamente dentro do top 10 mundial do CT, depois de um arranque forte com um 3.º lugar na Gold Coast, onde só foi parado por Slater. Mas a ausência de eventos suficientes no WQS colocaram-no no limbo e a ponto de ser cortado da elite mundial. Esse foi mesmo o exemplo mencionado pelos próprios surfistas para reclamarem da situação. Tiago acabou por conseguir a permanência “in extremis”, num corte que implicava saídas e também entradas. E que entradas! Medina, John John, Miguel Pupo… uma verdadeira constelação de estrelas. Talvez, a única coisa boa que resultou desse cut, que deixou de existir logo no ano seguinte. Agora, a situação só envolve “descidas” às Challenger Series. E Kikas é um dos visados, caso não avance bem na prova de Margaret. Despindo a camisa de fã e compatriota, este é um caso bem diferente das “injustiças” já enumeradas. Um surfista que tem como ponto forte ondas como Sunset e Bells e que não passa da ronda 3 em nenhuma delas, sendo, inclusivamente, eliminado por Jadson Andre no Havai, coloca-se a jeito de merecer a posição em que está… (E teria imensíssimo gosto que Frederico me fizesse engolir estas palavras.)
- E por que não encontrar soluções alternativas e, sobretudo, justas, para criar entradas e saídas do Tour a meio de uma temporada, independentemente da altura do ano, premiando e castigando performances. Exemplos? Um surfista que perca duas ou três vezes consecutivas na ronda 2 cai automaticamente do circuito, sendo substituído, por exemplo, pelo líder do ranking das Challenger Series ou por um surfista que tenha sido prejudicado por uma lesão em anos como o de… 2022. E não venham com a possibilidade de um nome sonante ter um azar e ficar nessa situação. Basta analisar os números do recente formato competitivo para perceber que os melhores surfistas nunca caem ou raramente caem na repescagem. Aqui ficam os números… É só uma pequena uma sugestão, como podem surgir tantas outras. Ou então, é já delírio pessoal, depois de dias a fio a tentar perceber e acordar a cada novo call em Bells Beach.
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