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- O longboarder de São Pedro do Estoril apostou no trabalho psicológico de modo a estar mais forte na luta pelo apuramento para a final mundial de longboard.
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Falar de longboard em Portugal é falar obrigatoriamente do nome de João Dantas. Este talentoso longboarder de São Pedro do Estoril já leva no seu currículo títulos nacionais, europeus bem como outros resultados históricos em provas internacionais.
Apesar de toda esta carreira bem sucedida, João continua em busca de mais história para o longboard nacional.
Essa grande meta, que está ainda por atingir, é a presença na final mundial de longboard da World Surf League, que habitualmente decorre perto do fim de cada ano civil. Um evento restrito ao qual só chegam os 25 melhores longboarders após as duras e competitivas provas de qualificação.
Nos últimos anos, João tem lutado com todas as suas forças e fraquezas pelo seu grande objetivo. O ano passado foi 27º classificado após as provas de qualificação, o que significa que ficou apenas a dois lugares de garantir o passaporte para a final mundial.
Com o novo ano já em andamento, o atleta de 22 anos tem nova oportunidade de lutar pela ambicionada vaga da prova que mais uma vez terá lugar em Taiwan.
Uma oportunidade que João Dantas pretende agarrar firmemente. Para tal tem vindo a trabalhar arduamente, em especial no sempre importante aspeto psicológico, conforme fez saber em entrevista ao MEO Beachcam.
Beachcam - O novo ano está aí, quais são os teus planos para a temporada?
João Dantas - No final do mês vou até Bali, na Indonésia, para surfar. Depois, em fevereiro, viajarei até à Austrália para começar o ano competitivo nos eventos de qualificação da World Surf League. O objetivo é o de obter a qualificação para a final mundial do World Tour de Longboard. O ano passado fui 27º e fiquei apenas a dois lugares de chegar à final. O sistema de qualificação é um pouco diferente daquele que temos no surf. Nas duas primeiras etapas todos os concorrentes podem participar, enquanto que na final mundial, que vale 10000 pontos, apenas os 25 melhores atletas têm acesso.
B - De alguns anos a esta parte que tentas o apuramento para a final mundial de longboard. O que tem faltado para garantir essa tão desejada vaga?
JD - Tem faltado apoio e algum trabalho psicológico da minha parte. Esse é uma componente na qual tenho vindo a trabalhar. Sinto que sou competitivo, mas agora estou cada vez mais preparado a nível psicológico. Sinto-me cada vez mais confiante e relaxado dentro de água.
B - Falaste no sempre importante aspecto psicológico na alta competição. Toda essa preparação passa por exemplo pela reação à adversidade?
JD - É toda essa gestão dos nervos. Como não tenho patrocínios as despesas das viagens que faço saem do meu bolso. Existe sempre o stress em fazer render o dinheiro e o meu tempo. Depois, por vezes, quero mostrar na água todo o meu valor e também corre mal. No fundo são as tensões que, no meu entender, todos os competidores enfrentam. Com o tempo vão desaparecendo. Em termos nacionais essa é uma questão que não se coloca, pois estou super relaxado.
B - Todo esse trabalho que tens vindo desenvolver na componente psicológica está a ser feito com o apoio de alguém?
JD - É uma meta que tento atingir sozinho. Acho que não é só a nível competitivo que temos de conseguir controlar bem a nossa mente. Vários aspetos que encontro na competição podem ser transportados para a nossa vida. Desde aprender a lidar com a pressão ou enfrentar situações inesperadas. É preciso saber gerir todos esses aspectos. Por isso, tento fazer tudo por mim próprio em vez de procurar ajuda.
B - Entendes que se fosses de uma outra nacionalidade já terias conseguido o apuramento para a final mundial?
JD - Em Portugal estamos muito na base do que é a cultura do surf, que até começou a partir do longboard. Nos outros países nota-se que existe, dentro de água, um maior respeito para com os longboarders. Há mais abundância e apoio das marcas. Em Portugal, penso que a história seria diferente se existisse um pouco mais de apoio ao nível de infraestruturas e as marcas investissem nos atletas.
B - Vais competir apenas além-fronteiras ou também irás marcar presença no Campeonato Nacional?
JD - O Nacional de Longboard não é a minha principal prioridade. Porém, sempre que tiver disponibilidade irei participar nas provas.
B - Em 2019 não conseguiste alcançar o título nacional, o apuramento para a final mundial, bem como o título europeu. Sentes que foi um ano de desilusão?
JD - Não sinto isso. Em termos internacionais consegui obter o melhor resultado de sempre de um português. Na prova de Espinho consegui chegar aos quartos de final, obtive outros bons resultados e, além disso, fiquei a dois lugares da qualificação para a elite mundial do longboard. Por isso, acho que não foi mau de todo.
B - No teu entender o longboard é ainda visto como o parente pobre do surf?
JD - Acho que sim. O longboard é o parente pobre, mas felizmente o mercado está a subir. Neste momento na WSL, que é a entidade que investe no longboard, estão a tentar descobrir qual o melhor caminho a seguir. Eles querem que o longboard não tenha nada a ver com o surf. Isto para atingir públicos diferentes. Este é um trabalho que começou em 2019, com a introdução do novo circuito, e que este ano ainda será melhorado. Tudo está em fase de mudança e de um dia para o outro as coisas podem ser alteradas.
B - Pegando nessa ideia do parente pobre, como analisas o atual estado do longboard em Portugal?
JD - Quando comecei no longboard em 2014 não havia mais ninguém a praticar. Comecei eu, mais dois amigos e a Kathleen Barrigão. A partir desse momento tudo começou a evoluir. Em Portugal até estamos com um bom nível de longboard e é uma modalidade que está a crescer. Agora é só esperar que a poeira assente e o longboard siga o rumo certo.
B - Para além do longboard que outras ocupações é que tens?
JD - Sou skeeper de barco, atividade na qual já trabalho desde os 18 anos. Ao mesmo tempo também vou dando umas aulas de surf. E isto que faço para juntar dinheiro e ir às competições. Sem isso, tal não seria possível.
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