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  • Surf atingido por um vírus olímpico
    14 novembro 2018
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  • Como consequência desta situação, há nações de pouca expressão no surf mundial, como a Alemanha, a garantirem já títulos mundiais…
  • Durante o último ano o mundo do surf de competição tem sido agitado por um verdadeiro “defeso”. Mas não estamos a falar de trocas entre clubes. Falamos, antes, de trocas de nacionalidades. Tudo isto em vésperas de o surf se estrear como modalidade olímpica, em Tóquio’2020. Os casos mais mediáticos foram os dos tops mundiais Kanoa Igarashi e Tatiana Weston-Webb. Mas nos últimos meses mais de uma dezena de surfistas seguiram-lhes os passos. Estaremos perante um novo “vírus olímpico” no surf mundial? Patriotismo ou interesse? Fica a questão.

    Foi há cerca de um ano que Kanoa Igarashi anunciou a mudança de bandeira, passando a representar o Japão, país onde nasceu, em detrimento dos Estados Unidos, onde cresceu e se fez surfista. A dupla nacionalidade de Kanoa e o mediatismo que possui no país do Sol Nascente fez com que o californiano decidisse representar a nação asiática. Tudo a pensar nos Jogos Olímpicos, como o próprio admitiu. E aqui é bom não esquecer que o Japão terá direito a um wildcard masculino e outro feminino.

    Não ter de fazer a qualificação, sobretudo quando o número de vagas é bastante limitado – 20 para a prova masculina e mais 20 para a feminina -, parece ter sido bastante tentador para Igarashi. Isto depois de a WSL ter anunciado que os surfistas que quisessem competir por outro país nas provas da ISA e nos JO também o teriam de fazer nas suas próprias provas. Quem parece ter pensado da mesma forma foi a jovem havaiana Mahina Maeda, também ela descendente de nipónicos. Campeã mundial júnior em 2014, Maeda mudou, agora, a nacionalidade para japonesa.

    Outra das mudanças que deram que falar foi a de Tatiana Weston-Webb, que passou de representar o Havai para vestir as cores brasileiras. Tal como Maeda, este é um caso ainda mais complexo. Filha de mãe brasileira, Tatiana decidiu mudar para o Brasil, até porque com a entrada do surf no cenário olímpico o Havai perdeu o seu espaço. Apesar de ainda existirem surfistas com a bandeira havaiana nas provas da WSL, a meca do surf mundial já não é representada na ISA e também não irá ser representada nos Jogos.

    A maioria dos havaianos terá, assim, de representar os Estados Unidos, país a que pertencem, tal como acontece já como Carissa Moore ou John John Florence. Ou então, como nos casos de Tatiana e Maeda, escolher outra nacionalidade. Mas há mais a mudarem, pois, além das questões desportivas, todos conhecemos as animosidades existentes entre o Havai e a “mainland”, que faz com que muitos surfistas não queiram sequer sonhar em representar os States.

    Por exemplo, o Canadá viu a seleção bastante reforçada nos últimos Mundiais ISA, em setembro, graças à entrada dos havaianos Paige Alms e Cody Young. No primeiro caso, a famosa big rider nasceu mesmo no Canadá. Já no segundo, o jovem talento havaiano aproveitou o facto de o pai ser canadiano, embora só este ano tenha surfado pela primeira vez ondas canadianas. A jovem Bethany Zelasko foi outra a “rumar” ao Canadá, embora esta seja originária dos Estados Unidos.

    Mas estes exemplos já referidos são apenas a ponta do icebergue, pois Kanoa abriu uma verdadeira caixa de pandora. Ora, esta mesma semana, na última etapa do WQS feminino ficámos a saber que Brisa Hennessy era a mais recente cara nova do circuito mundial feminino para 2019. Contudo, ao contrário do que acontecia até aqui, a surfista havaiana, que conquistou inúmeros títulos nas camadas jovens, surge agora a competir pela Costa Rica, país para o qual se terá mudado.

    Mas se no caso anterior a Costa Rica saiu a ganhar, indo assim colocar pela primeira vez na história um surfista entre a elite mundial, o país do caribe também perdeu uma representante e para uma equipa europeia. Emily Gussoni é o mais recente “reforço” da seleção italiana. Itália que está a criar bases sólidas, pois Gussoni não foi a única cara nova a surgir nas últimas provas da ISA.

    Uma das surfistas que admitiu que o processo de naturalização se deveu ao sonho olímpico foi a ex-competidora do WWT Claire Bevilacqua. Depois de competir toda a carreira pela Austrália, Bevilacqua decidiu tentar o apuramento pela Itália, de onde o pai é natural. Embora não o tenha dito diretamente, desta forma a experiente surfista evita ter de lutar por um lugar na seleção australiana com nomes como Tyler Wright, Sally Fitzgibbons ou Stephanie Gilmore. Como a compreendemos…

    Por fim, há um exemplo bem próximo, também aqui na Europa. A Grã-Bretanha, que nos Jogos Olímpicos sempre competiu de forma unificada, está a apostar forte numa equipa que possa lutar por uma vaga. Além de muitos jovens talentos, os britânicos contam ainda com um nome bastante conhecido do surf mundial: Jay Quinn. Esse mesmo experiente surfista que durante anos representou a Nova Zelândia e que no início da carreira chegou mesmo a ser campeão mundial Sub-18 na ISA pelos kiwis. Quinn vive atualmente no Reino Unido, o que explica a mudança.

    Excluindo o exemplo havaiano, outros casos parecem apontar para uma tendência de surfistas com maiores dificuldades em integrar as equipas dos países dominantes no surf mundial, como Austrália e Estados Unidos, tentarem fazer a qualificação por países de segunda ou terceira linha no surf mundial. E isso não está só a beneficiar esses próprios surfistas, como também os países de menor expressão no surf mundial.

    Recentemente, no mundial júnior ISA, disputado na Califórnia, foi possível ver a bandeira alemã no lugar mais alto do pódio da competição feminina Sub-18. Foi, muito provavelmente, o primeiro título mundial da Alemanha em surf. O feito foi alcançado pela jovem Rachel Presti, que ainda no ano passado competia pelos Estados Unidos. Agora, com os Jogos à porta, Rachel e a irmã Audrey vestem as cores germânicas – e a primeira delas até já teve a oportunidade de (tentar) cantar o hino… Mas estes não foram os únicos reforços da Alemanha, que há já algum tempo passou a contar com o contributo da norte-americana Frankie Harrer. 

    Principais mudanças de nacionalidade na WSL e ISA:

    Kanoa Igarashi, Estados Unidos para Japão

    Tatiana Weston-Webb, Havai para Brasil

    Audrey e Rachel Presti, Estados Unidos para Alemanha

    Cody Young, Havai para Canadá

    Jay Quinn, Nova Zelândia para Grã-Bretanha

    Frankie Harrer, Estados Unidos para Alemanha

    Paige Alms, Havai para Canadá

    Claire Bevilacqua, Austrália para Itália

    Emily Gussoni, Costa Rica para Itália

    Brisa Hennessy, Havai para Costa Rica

    Mahina Maeda, Havai para Japão

    Tia Blanco, Estados Unidos para Porto Rico

    Bethany Zelasko, Estados Unidos para Canadá

    Sebastian Williams. África do Sul para México

    Este paradigma é recente no surf, mas acontece em muitos mais desportos, do futebol ao atletismo, passando pelo ténis de mesa, entre tantos outros. E se no futebol toda esta situação ganha outros contornos mediáticos, com alguma polémica à mistura, não deixa de ser verdade que, apesar de poucos repararem, estas “transferências” de país no surf estão a tomar grandes proporções, pois a cada semana que passa surge uma cara famosa associada a uma nova bandeira. No entanto, é bom frisar que cada caso é um caso e há aqueles em que poderemos estar na presença de verdadeiro patriotismo.

    O surf português também já beneficiou destas mudanças, sobretudo no caso dos “alemães” Marlon Lipke e Nic von Rupp ou dos “brasileiros” Pedro Henrique, Carol Henrique, Eduardo Fernandes e, mais recentemente, Raul Bormann, entre outros. No entanto, essas mudanças aconteceram por razões plausíveis e já há algum tempo, a alguma distância desta “febre” olímpica. O que não quer dizer que nos próximos tempos Portugal não venha também a receber mais naturalizações…

     

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