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  • Kikas imparável em Trestles e garantido no WCT 2018
    14 setembro 2017
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  • Frederico Morais está nos quartos-de-final do Hurley Pro Trestles com mais uma exibição de luxo, ficando a somente 50 pontos do top 10 mundial e da liderança da corrida pelo título de rookie do ano.
  • O filme parece repetido. Direitas, rail a fundo, muito power e um surf de frontside cada vez mais confiante, afiado e de meter inveja a qualquer adversário. A única diferença é a confiança cada vez mais evidente e um momento de forma cada vez mais soberbo. O facto de muito raramente cair também ajuda - pelo meio, até houve espaço para acertar um reverse. Frederico Morais já deixou de ser o famoso “giant killer” pata tornar-se num desses mesmos gigantes. Voltou a prová-lo em Trestles, onde já está nos quartos-de-final.

    No entanto, a qualificação para os quartos-de-final, após uma prestação incrível em que bateu o líder mundial, a competir praticamente em casa, é apenas a ponta do icebergue. Com mais este excelente resultado Kikas garante já a permanência na elite mundial para o próximo ano, estando a apenas 50 pontos de poder entrar no top 10 mundial no final desta etapa e à mesma distância de assumir a liderança à corrida pelo título de rookie do ano.

    Ainda não é matematicamente garantido, mas o passado estatístico dá-nos essa garantia. Com os 5200 pontos que já conseguiu – e ainda podem ser mais… - Kikas atinge os 24650. A três etapas do final o cut encontra-se quase 10 mil pontos abaixo, pois no final desta etapa Italo Ferreira, que somará 15950 pontos, deverá ser o 23.º classificado, salvo grande surpresa entre os “aflitos”.

    Nunca um surfista com 24 mil pontos caiu do Tour

    Ora, olhando para os valores da qualificação desde que o World Tour passou a ter 11 etapas, o que aconteceu em 2014, vemos que este valor é suficiente para colocar o rookie português já a salvo. No ano passado o cut foi nos 22650 pontos; em 2015 nos 19950 e em 2014 nos 20750. Seria preciso uma hecatombe e uma conjugação de resultados atípica até final para tal não acontecer.

    Mas para que são precisas estas contas, se o surf de Kikas mostra, por si só, que é de elite? Vamos então ver mais contas, mas para as de rookie. Aqui o cenário é diferente. Se Frederico Morais avançar até às meias-finais supera Connor O’Leary. Prevê-se uma batalha renhida entre português e australiano até final, com o francês Joan Duru a poder ter ainda algo a dizer. Contudo, Kikas está num percurso ascendente, enquanto O’Leary começou melhor e tem vindo a decair de forma.

    Olhando para o ano passado Caio Ibelli foi rookie do ano com 26950 pontos, terminando no 16.º posto. Uma fasquia que parece que será superada este ano. Em ternos pontuais já é quase certo, falta perceber em termos posicionais. Mais complicado será bater o rookie de 2015, ano em que Italo Ferreira surpreendeu tudo e todos, terminando no 7.º posto e fazendo 41600 pontos – talvez o melhor rookie de sempre. Já em 2014 não houve rookie, porque nem Dion Atkinson, nem Mitch Crews conseguiram requalificar-se.

    Campeão mundial das direitas e do power

    Após os quartos-de-final em Bells Beach e a final em J-Bay, fica certo que Kikas é dos melhores do Mundo neste tipo de ondas para a direita, onde pode encaixar várias manobras com power e a soltar litros e litros de água. Aliás, se houvesse um título para o campeão do Mundo das direitas o português estava na luta. Em 2017 apenas Jordy Smith, Filipe Toledo, John John Florence e Mick Fanning – este dependendo da decisão sobre o respetivo heat da 3.ª ronda – apresentam eficácia idêntica nestes três eventos.

    São sobretudo estas três provas que colocam Kikas perto do top 10 mundial. Nesta etapa o surfista de Cascais, que começou no 14.º posto do ranking, já garantiu a ultrapassagem a Michel Bourez e Kolohe Andino. Falta ainda perceber qual será a decisão sobre o duelo entre Fanning e Kanoa Igarashi. O norte-americano venceu, mas depois tudo ficou em “águas de bacalhau” devido a uma suposta interferência de remada. Se Fanning perder mesmo na 3.ª ronda, Kikas também o ultrapassará.

    Como já dissemos, se o rookie português avançar às meias-finais ultrapassa Connor O’Leary e entra no top 10 e se for até à final ainda supera também Joel Parkinson – é oitavo, mas será passado por Toledo. Seria difícil imaginar um ano de estreia melhor para Frederico entre a elite mundial. No entanto, há ainda perigos vindos de trás. Neste momento, Kikas só pode ser passado por Seabass e Ace Buchan, mas só se perder nos quartos-de-final e se estes chegarem à final ou se perder nas meias-finais e estes vencerem o evento.

    Novamente Jordy

    Para chegar ao quartos-de-final Kikas teve de superar um dos heats mais equilibrados do ano, embora tenha sido ele a dominá-lo do início ao fim. Não fosse o pequeno suspense final e teria sido mais um “passeio no parque” como foi na terceira ronda, onde eliminou o havaiano Zeke Lau com uma das melhores prestações da ronda, somando 16,76 pontos. Mas na ronda 4 o nível seria ainda maior. Foram 17,17 pontos, contra 16,30 de Jordy e 16,10 de Ace Buchan, com um 8,50 descartado pelo meio…

    Enfim, não é preciso adjetivar mais a campanha de Kikas. Ele tem-nos dado um novo sentido à experiência de ver um português a competir, que é nem sequer passar pela fase do sofrimento, tal a forma assertiva que tem demonstrado. Depois de vencer o último heat do dia, Kikas vai agora “descansar”, esperando pelo adversário que terá de enfrentar nos quartos-de-final. Será entre Jordy e Seabass, que se enfrentam na quinta ronda.

    É certo que Frederico já provou ser capaz do impossível, mas ficar emparelhado com Jordy Smith não ajuda. O sul-africano está a ser o melhor em 2017, por isso lidera o ranking mundial e veste de amarelo. A juntar a isso, compete em casa, pois mudou-se há um par de anos para a Califórnia, tendo vencido este evento no ano passado. E tem um talento único, sabendo nós que se ele apanha a onda certa vai facilmente parar perto dos 10 pontos. Se tiver de voltar a enfrentar Jordy, cabe a Kikas continuar a mostrar a inteligência competitiva que poucos no Tour têm.

    Candidatos imparáveis

    Quanto ao resto do que se tem passado em Trestles, destaque para aquilo que parece ser a afirmação dos verdadeiros candidatos ao título. Wilko e Owen Wright caíram cedo. Medina a seguir. Toledo, Adriano de Souza e Julian têm dado espetáculo e continuam dentro da luta. Mas Jordy e John John mostram estar um nível acima de todos e dificilmente não será entre eles a decisão do título mundial e até desta etapa.

    Na terceira ronda protagonizaram uma luta especial. Jordy venceu o seu heat frente ao wildcard Evan Geiselman com 18,94 pontos. Florence respondeu com 19,07 frente ao também wildcard Hiroto Ohhara. É certo que, depois, o sul-africano cruzou-se com Kikas e acabou atirado para a repescagem e que John John só competirá na ronda 4 quando a prova recomeçar, esperando ainda saber quem se vai juntar a ele e Jeremy Flores, se Kanoa ou Fanning, mas dificilmente alguém os travará até final.

    Quem também parece lançado é Adriano, que fez o mesmo que Kikas, avançando já para os quartos-de-final, e esperando o vencedor do duelo de goofys entre Jadson Andre e Ace. Depois há um último heat entre Filipe Toledo, Julian Wilson e Bede Durbidge. Os dois primeiros já todos sabem do que são capazes, mas não ignorem o veterano australiano, que na última ronda brindou Joan Duru com um score de 18,43 pontos, mostrando-se em grande forma, mesmo depois de já ter anunciado a saída do Tour no final do ano.

    Oitavo vencedor diferente ou primeiro bis?

    A verdade é que em Trestles, salvo uma ou outra eliminação surpresa, são os favoritos a dominar o palco. A grande questão será saber se à oitava etapa do World Tour haverá um oitavo vencedor diferente, ou se alguém vai fazer o “bis” em 2017 e destacar-se na frente do ranking. A verdade é que dos 10/11 – há a complexa questão entre Fanning e Kanoa, que deverá ser resolvida com um rematch -, surfistas ainda em prova, cinco deles já venceram etapas (Mineiro, Jordy, John John, Toledo e Julian), o que encurta a margem de possibilidade de se manter esta “anarquia” no que diz respeito aos vencedores das etapas em 2017.

    A boa notícia é que, ignorando a incógnita Fanning, Kikas é o melhor classificado dos que ainda estão em prova e que ainda não venceram etapas este ano. Será isso um sinal de que Frederico está prestes a fazer novamente história no surf nacional?

    É isso que vamos ver a partir das 16 horas, quando arrancar o dia final – já confirmado – do Hurley Pro Trestles. E isto com outro cenário diferente daquele a que os portugueses tanto se habituaram ao longo dos anos em todos os desportos: sem calculadora na mão. Pelo menos para as contas sobre a possibilidade de termos um português na elite mundial em 2018 – poderemos ter que as fazer para o título de rookie do ano e para o top 10, mas já sem dramatismos. Os números e o surf de Kikas já mostraram que a continuidade no olimpo do surf vai ser mesmo uma realidade.  

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