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- O bicampeão mundial de skimboard optou por uma outra via na abordagem às ondas grandes que são formadas na Praia do Norte. Destemida, radical, perigosa e cheia de adrenalina, igualmente.
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Nos últimos invernos, a história das ondas grandes da Nazaré não é escrita apenas pelos muitos surfistas que chegam das mais diferentes latitudes para enfrentar a força da natureza na sua expressão mais bruta em busca da onda de uma vida.
Outros, dão azo à criatividade e tomam a arrojada decisão de puxar os limites de uma outra forma. Destemida, radical, perigosa e cheia de adrenalina, igualmente. As regras do jogo não mudam. Só existe é alteração no que está debaixo dos pés.
O brasileiro Lucas Fink é um dos que optou por uma outra via na abordagem às ondas gigantes que são formadas na Praia do Norte, descendo as mesmas em grande estilo com uma prancha de skimboard.
Desta forma, Fink é o responsável por dar uma outra projeção à modalidade na qual conquistou a glória, sendo bicampeão mundial. “Principalmente na Europa, as minhas aventuras na Nazaré trouxeram maior visibilidade e notoriedade ao skimboard”, confessa-nos em conversa, curiosamente num dia em que a arena onde se notabilizou mais parecia uma “piscina”. Coisas de uma temporada que até ao momento tem estado irreconhecível.
Devoto do skimboard, o atleta brasileiro explica que esta é uma “modalidade que encanta e tem muito potencial”. “Arrisco dizer que o apelo visual é maior do que existe no surf. Quem está na praia é impossível não parar o que está fazer e olhar para os praticantes de skimboard”, atira.
Apesar do todo o potencial que apresenta, o bicampeão mundial sublinha que o skimboard é ainda “pouco explorado” e está a “conquistar o seu espaço”.
De Ipanema para a Nazaré
Nascido há 24 anos, Lucas é um garoto de Ipanema, criado no Leblon, "local com excelentes condições para a prática da modalidade" e que mudou uma vida na qual desde tenra idade mostrou aptidão para fazer "desportos de equilíbrio".
Primeiro, o futebol, pelo meio o surf, e depois o skimboard, com o qual teve contato pela primeira vez aos seis anos de idade. A partir dos 10 anos, nunca mais largou a pequena prancha e o resto é história.
"Sinto que a prancha de skimboard é a extensão do meu corpo. Nela encontrei o meu propósito na vida. Antes de fazer skimboard, era como se faltasse algo na minha vida. Desde o meu início na modalidade tudo passou a fazer sentido. Sinto que nasci para ser um embaixador deste desporto", assegura.
Pode-se ter perdido um futebolista, mas ganhou-se um atleta destemido. Porém, até há bem poucos anos, Lucas Fink não tinha como planos descer ondas grandes com o instrumento com o qual alcançou a glória mundial.
“Não era um sonho apanhar ondas gigantes com uma prancha de skimboard. Isso era algo que durante muito tempo nunca havia passado pela minha cabeça. O interesse surgiu quando vi o Brad Domke fazer tal coisa. Era um grom na altura e de imediato fiquei com um brilho nos olhos. Porém, não olhei para aquilo e pensei que ia fazer aquela atividade o resto da minha vida”, revela.
Tudo “começou com uma brincadeira no tempo da pandemia que acabou como objetivo de carreira”. O dínamo para aquilo que Fink faz no presente chama-se Lucas Chumbo, o conceituado big rider e duas vezes vencedor do Nazaré Tow Surfing Challenge. “Foi determinante para a minha formação como big rider e piloto de jet-ski”. É que para além de dar show nas ondas grandes, o atleta sul-americano faz parte da equipa de resgate de Chumbo naquelas estrondosas sessões XXL que têm lugar no Canhão da Nazaré, mas já lá vamos.
“A oportunidade surgiu em 2019 devido à minha proximidade com o Lucas Chumbo, que virou um grande amigo meu. Depois na altura da Covid-19, ficámos confinados no Brasil. Na altura, as nossas rotinas eram semelhantes e comecei a treinar com o Lucas. Ele disse-me: Vou-te preparar. Rapidamente viu que tinha interesse e talento para desenvolver a técnica. Mais à frente, disse-me que era possível desafiar as ondas grandes da Nazaré”, conta.
E Lucas lá seguiu o conselho do outro Lucas, que foi bastante contundente. “A Nazaré é a meca do surf de ondas grandes. Queres escrever história? É lá que a história está a acontecer”, disse Chumbo a Fink.
Acatado o conselho de quem sabe da poda, assim nasceu a trajetória de Lucas Fink numa atividade tão extrema e que o próprio diz que é quase como uma “droga”. “Existe uma descarga de adrenalina muito grande, vivemos momentos muito intensos e queremos sempre fazer mais e melhor”, explica.
Pela arena na qual “tomou o gosto” em 2020 e “aposta a sério desde a temporada de 2021/2022", o atleta do país irmão diz sentir “fascínio” e “respeito”. Desde a primeira hora ficou impressionado com a brutalidade do Canhão. “Jamais vi na vida a natureza manifestar-se da forma tão extrema como na Nazaré. Sentimos a energia da mãe Natureza. Poucos lugares no mundo têm essa presença tão constante. É fantástico ter a oportunidade de conectar e aproveitar o fenómeno para satisfação pessoal.”
Até ao momento, a maior onda que Lucas Fink ali surfou foi no swell que quebrou no dia 8 de dezembro de 2021. Um momento inesquecível, de glória e satisfação pessoal, mas ao qual se seguiu um violento wipeout no dia seguinte. Segundo, Lucas Fink são ossos do ofício. Hoje nos píncaros, amanhã cá em baixo.
“Este é um spot em que vivemos momentos altos e baixos. É impossível estar só num dos lados. Antes de apanhar a onda de uma vida é inevitável passar por uma situação difícil. No swell de dezembro de 2021 apanhei a maior onda, mas no dia seguinte também sofri o maior wipeout da minha vida. Quem não teve sustos, não veio à Nazaré”, entende.
Medo é algo que faz parte na hora de ir lá para dentro e ainda bem que assim é, segundo o bicampeão mundial de skimboard. “Com este projeto, aprendi algo que já tinha sentido noutros projetos, mas não conseguia identificar. Se o teu sonho não te dá medo, não estás a sonhar alto. Sempre senti medo de competir, de perder, etc. Na Nazaré, também senti medo, pois estava a ir totalmente para fora da minha zona de conforto. Era um desafio pessoal, mas também tinha uma oportunidade que muitas poucas pessoas têm”, considera.
Pilotar sim, surfar não
Podia apenas dedicar-se a descer as ondas nazarenas com a inesperável prancha de skimboard, mas a verdade é que Lucas Fink também é interveniente nas sessões de tow-in realizadas no Canhão, integrando a equipa de resgate de Lucas Chumbo. Uma experiência que considera ser tão "divertida quanto surfar", onde por "vezes até dá mais adrenalina, pois a responsabilidade é muita grande por causa do surfista e do próprio equipamento. Está em jogo a onda ou o wipeout de uma vida."
Proveniente de uma modalidade onde apenas conta o binómio atleta/prancha para atingir o sucesso, Lucas mudou de "universo" ao sentar-se aos comandos do jet-ski. Encontrou uma realidade diferente, mas que confere uma valiosa experiência. Mais uma vez, Lucas Chumbo desempenhou um papel crucial nesta adaptação, assim como o experiente Alemão de Maresias.
"Venho de um desporto individual, como é o caso do skimboard, ao passo que o surf de ondas grandes é trabalho de equipa puro. Mudei de universo e fui aprendendo com a experiência acumulada. Percebi que não adiantava estar apenas no lineup para apanhar ondas grandes. Tinha de ser visto como peça de uma equipa. Por isso, preparei-me junto do Chumbo e do Alemão de Maresias, que foi o meu mentor. No tow-in quando estamos a surfar, alguém está a abdicar de fazer o mesmo para pilotar o jet-ski. Tento ser um bom piloto para retribuir a oportunidade que me foi concedida", afirma.
Multifacetado e não escondendo o desejo de “explorar” spots como Puerto Escondido ou Teahupoo, o que parece estar fora dos planos é descer as grandiosas ondas da Praia do Norte com uma prancha de surf debaixo dos pés.
“Só desci a onda da Nazaré com a prancha de skimboard. Nunca meti os pés numa prancha de tow-in. Isso é algo que não me gera fascínio, apesar de muitos dizerem que seria um bom exercício para mim. Faço o que sei e onde me sinto seguro. Acho mais giro a oportunidade de fazer parte da equipa de resgate”, analisa.
O que assina de cruz é um "heat contra o Brad Domke nas ondas grandes Praia do Norte". Um mano a mano entre os dois seres humanos que desafiam enormes montanhas de água com pranchas de skimboard.
Quem sabe, se um dia tal sonho não se concretiza, assim como outros sonhos têm vindo a ser realizados por Lucas Fink.
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FotografiaRed Bull Content Pool
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FonteAlexandre Melo
