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  • Camilo Abdula: “Gostava que existisse um Nacional de Surf Adaptado” (ENTREVISTA)
    15 dezembro 2022
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  • Fotografia
    ISA/Pablo Franco
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    Redação
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  • Camilo lamentou ainda a falta de apoios por parte das marcas de surf, falando mesmo numa “bofetada” após esta conquista.
  • De Sines para o Mundo, Camilo Abdula tornou-se no mais recente surfista português a sagrar-se campeão mundial ISA, juntando a sua medalha de ouro à de Marta Paço. Ambos brilharam alto em Pismo Beach, na Califórnia, em mais uma edição do Mundial de Surf Adaptado e, à chegada a Portugal, Camilo Abdula esteve à conversa com o Beachcam, revelando um pouco do seu extenso percurso no surf e abordando os objetivos futuros.

    Além dos vários sonhos que tem, entre os quais ver o surf adaptado nos Jogos Paralímpicos de 2028 e ver a criação de um Circuito Nacional de Surf Adaptado, Abdula deixou ainda uma forte mensagem à indústria, que por muitas vezes tem rejeitado apoios ao surf adaptado.  

    Beachcam (BC) - Como estão a ser as primeiras horas em Portugal, depois do histórico triunfo no Mundial ISA de Pismo Beach?

    Camilo Abdula (CA) - Têm sido horas um pouco caóticas, com tantas mensagens que tenho recebido de amigos e mesmo pessoas que não conheço. Está a ser uma surpresa agradável. Não estava muito à espera de tudo isto. Não estou habituado a estas coisas.

    BC - Como descreves os derradeiros momentos da final e qual foi a tática para gerir o momento?

    CA - Aquilo foi tudo muito estranho. O mar começou a piorar no nosso heat, ficando muito mexido. As duas finais a seguir também foram horríveis, pois havia muito vento. Estava a ser uma bateria difícil porque não estava a conseguir ouvir os beach announcers. Fiz as minhas ondas e não me estava a preocupar muito com aquilo que os outros estavam a fazer. Quando saí da água, sabia que ainda havia notas para sair. Pensava que tinha ficado em terceiro lugar ou na melhor das hipóteses em segundo. Nunca pensei que chegasse à vitória com aquela onda que fiz nos últimos segundos do heat. Foi indescritível quando soube que tinha vencido a final. Foi o John Wheele, competidor australiano, que me informou ao dar os parabéns. Depois de tantos dias de campeonato, com muito stress, a emoção veio toda ao de cima naquele momento. Foi a euforia total.

    CA - No comunicado da Federação Portuguesa de Surf (FPS), disseste que o surf não é a tua vida e que ias voltar a trabalhar. Qual é a tua profissão?

    CA - Sou técnico aduaneiro de profissão. Atualmente, tenho 43 anos de idade e comecei a surfar aos 13 anos. Entretanto, a Federação Portuguesa de Surf encontrou-me e convocou-me para começar a surfar em competição. Tudo começou com a ação da FPS, a quem agradeço o facto de ter-me convocado para representar Portugal nos Mundiais.

    BC - Como é que o surf entrou na tua vida?

    CA - Todos dizem que o Nuno Vitorino é o pioneiro do surf adaptado em Portugal. Porém, antes do Nuno começar a fazer surf, já eu praticava a modalidade no país. Comecei no bodyboard com 13 anos de idade. Aos 18 anos, mudei-me para o surf e aos 40 anos comecei a competir. Antes de fazer competição, fui juiz de surf a nível nacional, treinador e só mais tarde enveredei para a competição, com a ajuda da Federação Portuguesa de Surf. É um percurso estranho.

    BC - Depois deste ouro, o que se segue nos teus objetivos individuais?

    CA - Gostava imenso que voltasse a haver o Europeu de Surf Adaptado, que é uma espinha que tenho encravada. No último que teve lugar, em 2019, fiquei no segundo lugar. Gostava que fizessem um novo Europeu para chegar ao ouro continental. De resto, continuarei a treinar e esperar que seja novamente convocado para defender o título mundial em 2023. Melhor do que isto não sei o que poderá haver.

    BC - Só uma eventual participação nos Jogos Paralímpicos em 2028...

    CA - Isso então seria a perfeição total. Teremos de esperar até ao próximo mês de janeiro para saber se o surf adaptado vai ser ou não modalidade paralímpica. Esperemos que sim.

    BC - Tens uma profissão que ocupa grande parte dos teus dias. Consegues ter tempo para surfar diariamente?

    CA - Não. Quando estamos na hora de verão, talvez consiga fazer surf todos os dias. Como saio do trabalho por volta das 18h00, consigo surfar. Durante o inverno, surfo durante a hora de almoço quando tenho disponibilidade. Se não for possível, faço surf apenas nos fins de semana.

    BC - Quais os locais onde surfas mais regularmente?

    CA - Costumo surfar no Pico Louco ou no El Point. No fundo, nas ondas mais conhecidas aqui da zona de Sines.

    BC - Da estreia num Mundial, em que foste 13º, à medalha de ouro passaram quatro anos. Qual é o segredo para esta tremenda evolução, mesmo não surfando todos os dias?

    CA - É treinar ao nível de manobras com o meu treinador, mas também com os diferentes técnicos da Seleção Nacional, primeiro o Bernardo Abreu e agora o Tiago Prieto, que deram-me uma grande ajuda em todos os estágios que fizemos. Pela visualização de vídeos, conseguiram detetar alguns erros que fazia nas manobras. Foi por aí que consegui melhorar os erros que cometia. Sinto que melhorei bastante e espero melhorar ainda mais até ao próximo ano.

    BC - Desta vez, a Seleção não contou com a presença do Nuno Vitorino. Sentes que foi alguém que te influenciou muito neste teu percurso?

    CA - O Nuno além de ter sido um excelente companheiro de equipa é alguém com experiência ao nível de seleções, pois já tinha sido nadador paralímpico. Foi uma ajuda enorme na integração na Seleção e é um grande amigo que fiz. Sinto sempre a falta dele nos campeonatos e estágios que fazemos.

    BC - Desta vez, foste o mais veterano entre os competidores portugueses, num grupo que tinha dois atletas muitos jovens, o Tomás Freitas e a Marta Paço. Como lidaste com isso?

    CA - Foi bom. Já conhecia o Tomás através do estágios que fizemos. A Marta, claro, é a caçula da equipa, também já a conhecia. Correu tudo muito bem.

    BC - Por seres o mais experiente, tanto o Tomás como a Marta pediram-te conselhos?

    CA - Às vezes, sim. O Tomás como é o elemento mais recente da equipa está um pouco mais calado. No entanto, nós tentamos sempre dar uma ajuda dentro de água. Ajudamos também o selecionador a identificar os erros dele. Nas reuniões, falamos todos. É tudo tranquilo.

    BC - Acreditas que as duas medalhas de ouro arrecadadas pela Seleção Nacional no Mundial ISA podem impulsionar ainda mais o surf adaptado no país?

    CA - Adorava. Gostava que tivéssemos um Campeonato Nacional de Surf Adaptado, através do qual fosse possível escolher os melhores atletas para representarem a Seleção Nacional. Só assim é que ficamos mais fortes, tendo outros competidores com que possamos medir forças. Atualmente, marcamos presença em campeonatos que acontecem em Espanha. É dessa forma que conseguimos evoluir.

    BC - Esperas que o título mundial que conquistaste permita reunir mais apoios para a tua carreira?

    CA - Gostava. Estou a refazer o meu currículo, depois desta vitória. É uma pena que as empresas, nomeadamente as que estão ligadas ao surf, não apoiem. No passado, já tentei pedir a empresas um fato de surf ou um leash, mas a resposta foi sempre negativa. Depois, a verdade é que o surf adaptado traz medalhas para Portugal. Acaba por ser uma bofetada para todos.

     

     

     

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