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- Selecionador nacional revela objetivo de fazer mais que um estágio no Taiti.
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David Raimundo caminha a passos largos para cumprir uma década a liderar a Seleção Nacional de Surf. Depois de ter revolucionado o surf nacional em termos de seleções e conquistas internacionais, Raimundo prepara-se para atacar o segundo trajeto olímpico, após ter ajudado Portugal a qualificar três surfistas para Tóquio’2020.
O primeiro passo para Paris’2024 começa já esta sexta-feira, em Huntington Beach, com o primeiro de três Mundiais ISA que vão ter vagas em jogo para as olimpíadas francesas. Centenas de surfistas, dos mais variados países do globo, vão lutar pela presença em… Teahupoo, no Taiti, onde se vai realizar a prova de surf olímpica em 2024. Esse é um dos muitos temas abordados pelo selecionador nacional, que tem algumas críticas para com aquilo que envolve o atual critério de qualificação.
Na primeira de duas partes desta entrevista exclusiva, David Raimundo comenta ainda as novidades desse processo qualificativo e alguns temas “quentes” associados a Paris’2024. Por fim, revela ainda a intenção de fazer estágios na famosa onda tubular taitiana, mesmo antes de concluído o atual ciclo olímpico e, consequente, processo qualificativo.
Beachcam - Vão existir três momentos de qualificação para as Olimpíadas. Da experiência que teve no caminho para Tóquio'2020, acha que esta é a melhor forma ou deveria haver modificações neste processo?
David Raimundo - O surf nos Jogos Olímpicos é uma realidade nova e recente. Este é apenas o segundo ciclo olímpico. Já na primeira qualificação me manifestei contra o facto de a mesma não ser justa e igual para todos os atletas e países. Dou o exemplo dos atletas do World Tour, que têm mais uma hipótese de qualificação que todos os outros que não estão no Tour. E aqui não se prende com a qualidade dos surfistas em questão. Trata-se apenas de uma situação que vai contra os princípios básicos dos jogos. Outra questão é a qualificação dos atletas que participam nos Jogos Pan-Americanos. Esses, garantem uma vaga regional a competirem apenas contra atletas elegíveis para os Pan-Americanos. Já os restantes atletas de todas as outras regiões do Mundo, para garantirem a vaga de cada continente, precisam de competir contra todos os países do Mundo, com um grau de dificuldade muito maior. O critério devia ser igual para todos. As oportunidades deviam ser as mesmas para todos. Acredito que no próximo ciclo olímpico, isto possa ser melhorado.
B - Seria importante para este processo de qualificação Portugal conseguir colocar um surfista na elite mundial do próximo ano, de forma a ter mais uma via de qualificação?
DR - Se conseguirmos colocar um(a) ou mais surfistas no Tour do ano que vem, as possibilidades iam ser muito maiores e melhores para Portugal. Essa é uma via que ainda está em aberto, tanto nas meninas como nos homens. Acredito que possa ser uma realidade.
B - A prova olímpica de surf em Paris'2024 vai realizar-se numa onda de consequência, com caraterísticas muito específicas. Dada essa situação, considera que este processo de qualificação ao nível do Mundial ISA deveria ser realizado em ondas tubulares?
DR - Isso seria a situação perfeita. Mas eu e todas as pessoas que estão por dentro do surf, sabem que é uma utopia enorme achar isso possível. Os campeonatos ISA necessitam de mais de uma semana para se realizarem e de um local consistente de ondas onde se possa fazer duplo podium todos os dias. Não existe nenhum lugar do mundo que ofereça essas condições.
B - Depois de todo aquele ambiente inesquecível que foi vivido nos Jogos Olímpicos de Tóquio e com todo o potencial que França apresenta em termos de ondas, como vê o facto da prova olímpica de surf ser realizada do outro lado do mundo?
DR – Pessoalmente, acho que não faz sentido os Jogos serem realizados em Paris e a prova de surf ser realizada no Taiti. Se em França não houvesse ondas, Teahupoo poderia ser uma boa solução. Mas existem várias praias de qualidade em França! Algumas delas até já tiveram provas do World Tour durante vários anos, como é o caso de Hossegor, Lacanau e Biarritz. A onda de Teahupoo é, sem sobra de dúvidas, uma das melhores, mais tubulares e intensas do Mundo. Mas realizarem lá a prova olímpica de surf, longe de todo o espírito olímpico, para mim não faz qualquer sentido. Não poder partilhar aquele momento único com todos os outros elementos da equipa Portugal e com todos os restantes atletas e países, retira toda a magia dos Jogos Olímpicos.
“O que aconteceu em El Salvador o ano passado, acho uma vergonha e uma falta de respeito dos atletas para com o nosso desporto”.
B - O que pensa na nova regra que foi introduzida de poder haver um terceiro membro extra por nação? É uma medida justa? Será a decisão ideal para terminar com a presença quase contrariada das principais estrelas do surf mundial no Mundial ISA?
DR - Acho que passar a haver mais 4 homens e 4 senhoras nos jogos olímpicos é uma excelente notícia. Atribuiria as potenciais terceiras vagas, única e exclusivamente, aos países que não tivessem já garantidas duas vagas. Relativamente ao que aconteceu em El Salvador o ano passado, acho uma vergonha e uma falta de respeito dos atletas para com o nosso desporto. A maneira mais simples de evitar isso, era que todos se tivessem que qualificar única e exclusivamente pelos Mundiais da ISA.
B - Como vê a constante opção de surfistas internacionais representarem países europeus, como são os casos mais recentes de Jesse Mendes por Itália e Beyrick de Vries pelos Países Baixos? Pensa que deveria existir uma regulamentação para estas situações?
DR - Vejo com naturalidade, pois a lei prevê isso e os Jogos Olímpicos tornaram-se numa coisa muito apetecível para todos. É uma situação que acontece há muitos anos, em muitas modalidades. Eu, pelo orgulho e amor que tenho ao meu país, não seria capaz de mudar de nacionalidade. Mas respeito as decisões e as razões de quem o faz.
B - Em caso de qualificação olímpica para Paris'2024, está prevista a realização de algum estágio em Teahupoo ou os custos elevados impossibilitam tal situação?
DR - Independentemente de nos qualificarmos ou não - e acredito plenamente que o vamos fazer! - está previsto, caso se consiga ter orçamento, fazer um ou mais estágios em Teahupoo. A direção da FPS está a fazer todos os esforços possíveis para que isso seja uma realidade. Aproveito aqui para frisar uma vez mais, que esta direção tem feito os possíveis e os impossíveis para que a minha equipa técnica possa ter as melhores condições possíveis para atingirmos todos os nossos objetivos.
Esta quinta-feira não percam a segunda parte da entrevista, onde o selecionador nacional perspetiva a participação no Mundial ISA e a sua ausência do mesmo, além de falar dos critérios de seleção e de vários outros temas importantes da atualidade do surf nacional.
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FonteRedação
