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- "Obrigado!" Esta é a palavra usada por Nuno Vitorino para resumir a participação num dos mais conceituados eventos de surf adaptado do mundo.
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Diz que aquilo que faz é "pioneirismo", uma "coisa muito bonita", mostrando a todo o mundo que não há "impossíveis", independentemente de poderem existir limitações físicas.
Servindo mais uma vez como fonte de inspiração, Nuno Vitorino montou em apenas "20 dias" uma viagem que desembocou no US Open Adaptive Surfing Championship, uma das mais conceituadas provas de surf adaptado do mundo. Foi o primeiro para-surfista português a competir no evento norte-americano, que teve em 2022 a sua quinta edição. Novamente pioneiro, mostrando o caminho que outros podem vir a trilhar no futuro.
Poucas horas depois de ter aterrado no Aeroporto Humberto Delgado, Nuno esteve à conversa com o Beachcam, onde falou sobre esta rica experiência pelo país do Tio Sam ao mesmo tempo que aborda o futuro, que até pode vir a passar por uma viagem ao Círculo Polar Ártico, entre outros assuntos.
Beachcam (BC) - Como é que surgiu esta ideia de participar no US Open Adaptive Surfing Championship?
Nuno Vitorino (NV) - Tomei a decisão de participar nesta prova, pois gostava de, no futuro, fazer o circuito mundial de surf adaptado, embora seja muito caro. De momento, apenas consegui participar numa etapa. No entanto, fui o primeiro português a começar esse caminho. Acredito que no futuro vamos ter uma liga profissional bem estruturada. Não é que esta não esteja, apesar de serem apenas duas etapas, à semelhança do que temos na World Surf League (WSL). Se formos ver, já existem cerca de 100 atletas a fazerem com regularidade este circuito. Para o ano, o que está falado é que sejam realizadas quatro etapas, ao invés das duas de 2022. Em 2023, gostava de fazer, pelo menos, uma etapa.
BC - Como foi surfar em Oceanside?
NV - Não conhecia, nem nunca tinha visto a onda de Oceanside, a não ser através de imagens e vídeos. Só que estar lá é sempre diferente. No primeiro dia, o mar estava grande, muito bump e havia bastante vento. Para surfar melhor aquela onda, necessitava de uma prancha um pouco maior e mais larga. Só que isso são tudo coisas que fazem parte da experiência.
BC - Tinhas acabado de chegar a Oceanside e afirmaste de imediato que o US Open está "muito organizado". Sentiste que toda essa organização difere das outras provas em que já participaste?
NV - Não tem nada a ver. Isto são eventos com prize-money de 30 mil dólares para atletas profissionais. Ali, somos tratados como profissionais do surf adaptado a todos os níveis. Seja em termos de conforto, apoio na água, segurança ou logística. Estamos num evento gigante em que acabamos por ter cerca de 200 ou 300 pessoas a assistir. O pier de Oceanside estava cheio de pessoas. Estas não vão ali ver uma prova de surf adaptado. Simplesmente, vão ver um campeonato de surf.
BC - Os outros competidores presentes como reagiram à tua presença?
NV - Ficaram muito felizes. Nem sequer é por estar lá, apesar de ser muito amigo deles. Mas, sim, porque Portugal está a vir pela primeira vez a estas competições. Sabem que, a partir de agora, isto não vai parar.
BC - Mais uma vez, mostraste o caminho no seio do surf adaptado português...
Não me importo com isso. Sei que chateio muitas pessoas para que as coisas aconteçam, mas também tenho muitos amigos. Isso deixa-me muito orgulhoso. Acho que a palavra principal desta participação é obrigado. Obrigado por acreditarem e permitir que isto aconteça.
BC - Porque motivo achas que demorou tanto tempo até haver um para-surfista português no US Open Adaptive Surfing Championship?
NV - Demorou tanto tempo porque o problema é sempre o mesmo: o custo. Não é uma questão de existirem ou não para-surfistas que pudessem ser competitivos. O custo é o cerne da questão. Uma participação destas no US Open fica muito cara, ainda para mais para um para-surfista que precisa sempre de apoio e levar alguém consigo. Por isso, o custo é sempre a dobrar ou a triplicar. E mesmo assim não estamos a trabalhar da forma correta, pois deveríamos ir com tudo estruturado, o que incluí operador de imagem, etc. Porém, o futuro faz-se caminhando e acho que a minha participação no US Open foi para abrir caminho, de modo a que outros competidores possam começar a ir. Depois, sim, podemos começar a pensar em competir de igual para igual com os outros países. Ainda não estamos nesse patamar, mas um dia haveremos de estar.
BC - Quão dispendiosa é a logística para participares neste tipo de eventos?
NV - Fica acima de cinco mil euros por 10 dias. É mesmo muito caro. Para fazer o circuito todo tinha de ter cerca de 30 ou 40 mil euros. Como já disse, não é só o Nuno que vai. Inclui sempre mais alguém. Imaginem a logística dos banhos, dentro do quarto, vestir na praia, carregar material, dar-me apoio na água, entre outras coisas. Eu para fazer isto bem feito, triplicava os custos, mas também a qualidade. Gostava que as coisas fossem mesmo bem feitas e amplificadas.
BC - Explica-nos como fazes a escolha das pessoas que te acompanham nestes campeonatos?
NV - Tem de ser um polivalente. É alguém que seja bom para me colocar no outside e alguém que seja bom para me empurrar na onda. Como já disse, se houvesse mais budget, poderia escolher duas pessoas diferentes para essas funções. Uma pessoa puramente técnica e outra pessoa com força e ginástica para ir comigo até ao outside. Não havendo, tem de existir um misto. Nesta viagem a Oceanside, apenas fui acompanhado pelo treinador Elson Pereira.
BC - O ano passado, após o Mundial ISA de Pismo Beach, anunciaste o fim da carreira, mas a verdade é que tens continuado a competir. É o 'bichinho' da competição a falar mais alto?
NV - No final de 2021, tomei a decisão de deixar a Seleção Nacional de Surf Adaptado e tornar-me um free surfer profissional. Isto é, poder fazer campeonatos. Não consigo encarar o surf como forma de lazer. A minha forma de encarar o surf é em modo competitivo. É aí que me sinto vivo: na competição. Nunca vou largar as competições. Agora, não me quero é sentir condicionado a competir onde tem de estar marcado. Estou presente nas provas se me apetecer e tiver apoios. Se não tiver, não vou. Antes de estar nessa Seleção Nacional, tinha programado surfar na Nazaré. Só que esse tempo passou e também a nível físico. Fui operado há um ano e já não consigo. Não vou à Nazaré, mas quero fazer outras Nazarés da vida.
BC - Quais são essas "Nazaré"?
NV - Quero ser pioneiro ao surfar em outros locais, como a Austrália e o Havai. Tenho isso em mente já para 2023. Mesmo quando foi na The Wave, em Bristol, fui o primeiro tetraplégico do mundo a surfar naquela piscina de ondas artificiais. Eles estavam cheios de medo. Questionaram-se como é que uma pessoa tetraplégica ia surfar naquele local. Também tenho estruturado o projeto de fazer o Círculo Polar Ártico. Gostava muito de executá-lo.
BC - Em que locais gostavas de surfar na Austrália e no Havai?
NV - Se for à Austrália, o plano passa por surfar numa piscina de ondas. Para o Havai, não sou de aventurar-me em Pipeline. Contudo, já sou de surfar em Waimea ou uma outra onda mais tranquila. Quero é passar a mensagem de que não há impedimentos físicos para as pessoas terem os seus sonhos e irem atrás deles.
BC - Em dezembro, vamos ter mais um Mundial ISA. Apesar de já não competires pela Seleção Nacional, está planeado integrares a comitiva que vai novamente até Pismo Beach?
NV - Não vou a Pismo Beach. Tenho planeado apoiar a comitiva que for e ajudar em termos logísticos tudo aquilo que a Federação Portuguesa de Surf necessitar. Isto, agora, é o momento de largar o palco para outros. Se é para estar fora, é mesmo para estar fora.
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FotografiaDR/Nuno Vitorino
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FonteRedação
