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- Têm apenas 17 anos e costumam passar temporadas em Portugal, aquele "paraíso com ondas" que tanto admiram. Entre os QS e o circuito Pro Júnior, que vai agora começar, tanto Uri como Yonatan procuram dar nas vistas e mostrar o potencial do surf de Israel.
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Entre os vários surfistas que vieram até Portugal para participar nos dois QS disputados no passado mês de abril, tivemos uma dezena de competidores provenientes de Israel a vestirem a licra. Concretamente, oito homens e duas mulheres.
Um contingente já assinalável por parte de uma nação que também contou com uma etapa no QS regional europeu de 2021/2022. A tal passagem por Netanya, em pleno Mar Mediterrâneo, que consagrou Teresa Bonvalot como a nova campeã europeia da World Surf League (WSL).
Nesta entourage israelita, entre uns com mais experiência e outros mais novatos nestas andanças, deparamo-nos em Santa Cruz com dois jovens surfistas muito próximos a António Laureano, o jovem big rider português que também ali estava, ainda que sem vestir a licra de competição. Até porque isso já são outros quinhentos. "Não é algo que me chame muito a atenção. A verdade é que não sou uma pessoa muito dada à competição. Aquilo que me dá mesmo vontade de competir é nas ondas grandes. Aí, podem convidar-me sempre, que lá estarei", contou-nos Laureano.
Mais à frente na conversa, António explicou então o que estava ali a fazer junto de Uri Uziel e Yonatan Amir, dois surfistas de apenas 17 anos. "Fui até ao QS de Santa Cruz porque tinha dois amigos israelitas a competir. Fui dar aquele apoio de amigo, que eu próprio também gosto de receber durante as provas ou naquelas ondulações gigantes. Também gosto que os meus amigos estejam a ver aquilo que faço e marquem presença nos bons e maus momentos. Estava junto deles para ajudar em tudo o que precisassem", confidenciou o big rider de 20 anos.
Neste campeonato em particular, Uri, que já tem mais experiência acumulada no QS, repetiu o resultado alcançado uma semana antes, na Caparica. Foi 33º classificado, enquanto Yonatan, um confesso fã da Pedra Branca, terminou na ronda 2 a sua participação na Praia da Física. Para Amir, o QS de Netanya e a perna portuguesa foram os três primeiros QS da carreira.
Competições à parte, estes dois jovens também tiveram a oportunidade de aventurarem-se no tow-in da Praia do Norte com um guia de luxo, António Laureano. Tudo aconteceu em pleno domingo de Páscoa, numa iniciativa promovida pela Jet Resgate Portugal, que arrancou recentemente com uma nova formação de tow-in e resgate com moto de água.
Fotografia: Laurent Masurel/WSL
Diz Laureano que esta é uma amizade que nasceu de forma "engraçada" e que teve Francisco Laranjinha como elo de ligação, ele que é o treinador de Uri e Yonatan, mas também do próprio António. "No verão passado, conheci o Yonatan Amir, enquanto o Uri Uziel conheci há pouco mais de três semanas. Fui treinar e eles estavam lá. A verdade é que agora somos bastante amigos". De tal forma, que já foi feito o convite para António Laureano ir até Israel. "Já me convidaram, pois gosto muito de kebab. Tanto o Uri como o Yonatan já me disseram que lá é que se pode degustar um verdadeiro kebab."
Precisamente foi em Israel, por altura do Netanya Pro, onde ficou determinado que Francisco Laranjinha iria consolidar-se como treinador destes dois jovens surfistas. Assim explica. "Inicialmente, trabalhei com o Yonatan no QS dos Açores realizado em 2021. Aí, o Uri e outros surfistas israelitas, como o Amir Rafaeli, vieram ter comigo. Pediram-me ajuda e eu comecei trabalhar com eles. Adoraram. Na altura do QS de Netanya, no qual acompanhei a minha surfista Camila Cardoso, os pais deles vieram ter comigo a agradecer o trabalho desenvolvido e perguntaram-me se poderia fazer a perna europeia do QS 2022 com eles e assim dar continuidade a este trabalho. Desde o início que tive uma forte ligação com eles, pois sentem que estou ali para tudo. Há uma grande empatia em termos dos sentimentos partilhados e ao mesmo tempo sentem que estão a evoluir enquanto surfistas."
Neste trabalho, Francisco está em permanente ligação com Israel em "prol de um objetivo comum". "Já tenho conversas com os treinadores da componente mental e os preparadores físicos. É toda uma rede trabalho na qual existe uma comunicação. Tem sido um desafio engraçado porque a barreira linguística entra em tudo. Porém, no final do dia estamos todos a trabalhar para o mesmo. São treinadores preocupados, que também têm uma boa ligação com os miúdos."
Fotografia: Leo Domingos
A acompanhar de perto a permanente evolução dos seus pupilos, o 'coach' Laranjinha não tem dúvidas quanto ao potencial de Yonatan Amir e Uri Uziel. "Ambos têm uma enorme margem de progressão. É aquilo que todos querem ter, mas poucos têm. No caso do Uri, talvez a margem seja um pouco mais forte. À semelhança do que eu próprio fiz, o Uri começou com um trabalho de autodidata desde pequeno, isso deu-lhe uma grande bagagem. Considero que o autodidatismo e a autonomia são cruciais, até porque o treinador é um 'guide line' e não uma pizza feita. Já o Yonatan só tem quatro anos de surf, mas já fez um enorme trabalho enorme de evolução".
O potencial é imenso, mas há um pequeno pormaior, que pode atrapalhar o caminho que os jovens Uri e Yonatan pretendem trilhar no surf de competição. "Em 2023, como completam 18 anos, vão ser chamados para cumprir serviço militar. E isso dá-lhes vontade de trabalhar, pois se tiverem um determinado ranking a nível nacional e internacional podem fazer a tropa, mas têm licença para ir treinar e competir. Não é preciso ir para a frente de combate. Para mim, enquanto treinador, é uma novidade ter de lidar com uma situação destas. O surfista ou qualquer outro desportista é um bolo completo. Isto são tudo questões que entram em jogo e podem influenciar a performance. Eles sentem a pressão do tempo e que têm de chegar mais longe", assegura Francisco Laranjinha. Esta é uma situação que por exemplo já afetou Anat Lelior, que até veio a representar Israel na prova olímpica de surf de Tóquio'2020.
Para Uziel e Yonatan, Portugal é um "paraíso com ondas", que nada tem a ver com aquilo que encontram diariamente no seu país. "Neste viagem a Netanya tenho uma história engraçada, que testemunhei com a Camila Cardoso. Quando chegámos e vimos que estava a entrar o vento onshore, aquilo para nós não era nada bom, mas para os surfistas israelitas é sinónimo de que estão a chegar ondas. Isto apesar de todo aquele vento."
Fotografia: Pedro Mestre/WSL
Ultrapassada a etapa portuguesa, o foco destes jovens competidores está apontado ao circuito Pro Júnior europeu, que arranca já esta quarta-feira em Ain Diab, Casablanca, Marrocos. "Temos agora em maio esse campeonato em Marrocos e depois seguimos de imediato para Ferrol em Espanha. A seguir há uma pausa grande e no regresso vamos ligar o último Pro Júnior, nos Açores, com as primeiras etapas do QS europeu", finalizou Francisco Laranjinha.
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FotografiaDR António Laureano
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FonteAlexandre Melo
