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- Estão ambos entre os maiores surfistas da atualidade, mas, cada um à sua maneira, desiludiram na estreia olímpica do surf.
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A estreia olímpica do surf foi aguardada com muita ansiedade durante os últimos anos. Muito se escreveu e muita água rolou sobre o acontecimento. O adiamento de Tóquio’2020 devido à pandemia, transportando os Jogos Olímpicos para o verão de 2021, também ajudou à criação e surgimento de novos cenários. O momento finalmente chegou e decorreu num ápice. Em apenas três dias os primeiros surfistas campeões olímpicos foram encontrados. Italo Ferreira e Carissa Moore levaram o ouro para casa. Outros conseguiram também o seu momento alto, medalhados e não só. Foi um momento de verdadeira celebração. Mas nem todos estiveram à altura.
Gabriel Medina e John John Florence foram duas das grandes desilusões de Tóquio’2020, cada um à sua maneira. Fora do pódio final, a ambos pode ser dada a medalha de… lata. É verdade que outros nomes sonantes falharam em termos desportivos. Foi o caso de Stephanie Gilmore, Sally Fitzgibbons, Caroline Marks, Kolohe Andino ou Julian Wilson, por exemplo. Contudo, o desapontamento para com Medina e John John vai muito além do lado desportivo.
Começando por Medina, que deu os primeiros sinais de ineficácia ainda antes de partir rumo ao Japão. Quando questionado por amigos menos atentos ao fenómeno sobre quem seriam os grandes candidatos ao ouro no surf, não tive grandes dúvidas em assumir que a medalha mais cobiçada seria do Brasil. Só restava saber para qual dos dois surfistas canarinho0s. Apesar da imprevisibilidade característica do surf, curiosamente este surgia como o desporto em que o vencedor estava mais à vista. Pelo menos em termos de nacionalidade. É que, independentemente das condições do mar, tanto Medina como Italo se adaptam facilmente a ondas pequenas e grandes.
Insistiram no tema, perguntando qual dos dois seria mais suscetível a ser surpreendido pela negativa. Aí, se até considerava Medina o principal favorito a vencer, tive de escolher o atual número um mundial como o principal candidato a acusar a pressão. Isto porque ainda antes de a prova começar, já o Brasil vivia uma novela em torno da nova relação do campeão mundial de 2014 e 2018. Medina queria viajar com a esposa à força, mesmo contra todas as normas. O que, convenhamos, deixa logo perspetivar algo de menos bom para quando a competição começa.
Ao colocar-se acima do próprio Comité brasileiro, criticando o facto de não poder viajar com a companheira e, pior, fazendo disso um assunto nacional nas redes sociais, Medina estava já a preparar a cama onde se iria deitar. Mas isso era só o início da deceção que foi a presença da super estrela brasileira em Tóquio. Apesar de performances dominadoras nas primeiras rondas, tudo sucumbiu nas meias-finais. Medina achou estar acima do momento e pagou caro a fatura.
Depois da derrota frente a Kanoa Igarashi, decidiu usar o seu mediatismo para criticar o julgamento e o desfecho da bateria logo ali, na areia da praia. Utilizando a tática de “uma mentira dita muitas vezes torna-se verdade”, sobretudo perante uma nova fornada de adeptos brasileiros sedentos de vitórias, mas com pouca noção real do fenómeno surf, lançou a confusão nas redes sociais, onde palavras como “roubo” ou “escândalo” multiplicaram-se vezes sem fim. Uma novela que contou inclusivamente com personagens de alta responsabilidade, como o perfeito do Rio de Janeiro. E, claro, a companheira a fazer diretos nas redes sociais, colocando ainda mais gasolina sobre a fogueira.
Ignorando a parte de que o julgamento cabe a quem é realmente profissional disso, os próprios juízes, alguém, desses que tanto criticaram, olharam realmente para a diferença entre a aterragem de Medina e de Kanoa? Já para nem falar de tantos outros pormenores que foram subvertidos apenas para alimentar uma injustiça que não passou de mau perder. A cama já estava feita… Medina apenas teve de se deitar nela.
E como a lei de Murphy é tramada, quando tudo corre mal só pode piorar. Foi isso que aconteceu de seguida. Qual karma, nem a medalha de bronze quis ir para o pescoço do surfista brasileiro, que foi derrotado por Owen Wright por apenas… 20 centésimos. Já nem menciono o espetáculo de redes sociais que se seguiu entre Medina e Kanoa, porque é algo que nem merece o tempo perdido. Ao contrário de todo esse show off, Italo foi lá e fez tudo direito para levar o ouro para o Brasil. Merecido e inquestionável!
Medina tem, agora, três anos para retificar a atitude e perceber o que significa mesmo o espírito olímpico. Mesmo que os mais puristas ignorem, este foi um dos momentos mais altos do surf enquanto competição – e é só disso que falamos. Nunca o desporto foi tão visto a nível global. E a prova disso são aqueles amigos leigos que continuam a questionar-me sobre o que se passou com Medina, aos quais é necessário explicar o exagero da polémica inexistente. Em Paris’2024 certamente que Gabe será novamente um dos favoritos ao ouro. Resta saber se vai encarar isso com seriedade ou com a ligeireza de quem se acha acima das regras.
Noutro ponto de ordem, também fui questionado sobre o que se passou com John John. Aqui a explicação é mais simples, até porque não se trata de comportamento antidesportivo. Antes, uma boa dose de egoísmo. O que também demonstra que o havaiano até compreendeu a importância do momento. Talvez, o tenha compreendido em demasia. Se as dúvidas em torno da condição física de John John pareciam apenas teorias da conspiração, rapidamente se percebeu que a presença deste em Tóquio não fez qualquer sentido.
Aquando da lesão, em Junho, muitos foram os que viram Florence automaticamente fora dos Jogos Olímpicos. Só o próprio acreditou nessa presença, através de médicos super especialistas e operações milagrosas. Encetou uma recuperação supersónica em apenas dois meses e anunciou a ida a Tóquio. Ainda que mais parecesse uma tentativa desesperada de marcar presença, que seria posteriormente remediada a dias do início da prova, quando percebesse que não estava em condições de competir.
Perante isto, Kelly Slater assistiu a tudo em silêncio, sem nunca se pronunciar, mas certamente dorido por todo este processo. O 11 vezes campeão mundial era o substituto de John John e a maioria dos fãs da modalidade sabiam que a presença do maior surfista de todos os tempos na estreia olímpica do surf teria uma simbologia tremenda para o momento. Seria uma espécie de justiça poética, independentemente da capacidade do king lutar por medalhas – não há dúvidas que, neste momento, seria superior à de JJF.
Só que, incredulamente, mesmo admitindo que não estava a 100 por cento e falando numa história de que no Tour todos competem a 80/90 por cento, John John foi a Tóquio, com o aval da equipa médica norte-americana. Já a manobrar, mas bem longe do seu potencial. O resultado foi óbvio: eliminado nos oitavos-de-final sem honra nem glória pelo compatriota Kolohe Andino, também ele a vir de lesão.
Se até aqui a história já não abonava nada a favor do surfista havaiano, tudo piorou com o anúncio feito esta semana, poucos dias após vir de Tóquio. John John vai falhar o resto da temporada do CT para recuperar da lesão no joelho direito. A lesão com que competiu nos Jogos Olímpicos e que remeteu Slater ao desprezo do maior evento desportivo do Mundo. O que está feito, feito está. No entanto, foi um dossier mal gerido por parte de Florence e sobretudo da equipa norte-americana, que naturalmente deixou alguns fãs algo magoados com o príncipe de Pipeline.
Tóquio’2020 não foi palco de glória para Medina e John John, embora tenham muito tempo para se redimirem em Paris’2024. Em Teahupoo, ambos poderão lutar pelo ouro, sendo mesmo dos principais favoritos, caso se qualifiquem. Contudo, até lá terão de se contentar e lidar com a medalha de lata!
John John Medina
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Fotografiawsl
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FonteRedação
