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- Hoje em dia exerce a profissão de osteopata, tendo o seu consultório em Hossegor.
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Era uma manhã nublada de outubro. O sol ainda parecia tímido, à espera do momento certo para aparecer. Tal como parece acontecer quase todos os anos durante aquelas duas mágicas semanas. Era dia 9 e a contagem decrescente para o grande dia estava quase a chegar ao fim. Os trials do Rip Curl Pro Portugal aconteciam nos Super. Tiago Pires era o único português com entrada direta e uma jovem geração lusitana lutava por uma vaga frente a alguns nomes internacionais.
Naquela altura era assim. O crédito do surfista português ainda estava longe do atual e ter um wildcard direto para a etapa do WCT de Peniche era apenas um mero assunto de discussão. Só anos mais tarde viria a tornar-se uma realidade. Na água estavam José Ferreira, Francisco Alves, Nic von Rupp, que na altura competia pela Alemanha, e um francês de nome PV Laborde. Uma cara conhecida para os mais atentos dos circuitos juniores, mas um perfeito desconhecido para o comum dos mortais.
As coisas pareciam encaminhadas para um português se juntar a Saca no quadro principal, depois de no ano anterior Justin Mujica ter vencido os trials e Francisco Alves ter substituído Jeremy Flores por lesão. A 30 segundos do final Zé Ferreira liderava e parecia com o bilhete garantido. Só que os beach breaks são mesmo assim e um último set proporcionou oportunidades diferentes a todos. PV aproveitou e virou a bateria em cima da buzina.
Em 30 segundos ficámos a perceber como se dizia azia em francês. Mais um dos muitos episódios em que os gauleses levavam a melhor. Felizmente, coisa do passado. Mas um passado bem doloroso. Em delírio, Laborde saiu da água em ombros, para desilusão de todos, inclusivamente dos milhões de grãos de areia daquele extenso areal. Xico Alves saiu a reclamar com os beach announcers por não terem avisado mais cedo que já tinha atingido o limite máximo de 15 ondas surfadas. E a nação lusitana saiu mais uma vez vergada.
Nesse ano quis o destino que Portugal fosse apenas representado por Tiago Pires na prova principal. O convite tinha sido dado pela Rip Curl ao norte-americano Dillon Perillo. A outra vaga seria ocupada por um francês, também da Rip Curl. All-in!. Por essa altura, PV já estava quase oficialmente retirado da competição, depois de uma promissora carreira júnior. Mas ainda foi a tempo de conseguir uma vaga numa etapa do WCT, de forma quase miraculosa. Imaginem a alegria. Dele o dos franceses, obviamente.
No lugar dele qualquer um extravasaria e foi por isso natural que muitos se tivessem cruzado com ele num qualquer bar algures pelo Baleal. Era a noite da véspera do arranque da etapa e PV parecia ter sido atropelado por um set de ondas infinitas. Só que as ondas a sério vinham no dia a seguir. Bem pesadas, à moda de Supertubos. Na estreia frente a - nada mais, nada menos - Joel Parkinson e Kolohe Andino viu o australiano vencer com 17,17 pontos, ficando-se por uma módica quantia de 2,96 – talvez trazida ainda da noite anterior…
Brincadeiras à parte, na segunda ronda, PV já deu uma ar da sua graça e, apesar da eliminação por combinação frente a Mick Fanning, ainda somou 6,17 pontos. Terminava ali o grande momento da carreira do francês. Até porque os estudos já faziam parte das suas prioridades nessa altura. Nunca mais entraria numa prova do WCT. Foi ali, em Peniche, a primeira e última vez que o conseguiu.
Nesse mesmo ano, Laborde fez o mundial de juniores, mas saiu derrotado de primeira. No WQS também teve em 2012 o derradeiro ano a tentar o sonho. Como ponto alto nesse circuito teve o 7.º posto alcançado em 2009 na Cordoama, ainda muito jovem. Nunca conseguiu sequer chegar perto do top 200 mundial e cedo percebeu que a carreira de surfista ia dar lugar à medicina.
Hoje em dia exerce a profissão de osteopata, tendo o seu consultório em Hossegor. O que é muito útil, sobretudo nos dias de altas ondas, uma vez que o surf nunca deixou de fazer parte da sua vida. É por isso natural que nos melhores dias surja sempre a surfar algumas das rainhas da sessão.
Em 2014 e 2015 ainda fez um par de provas no WQS, enfrentando depois um hiato para o vermos de regresso em 2019. Foi em Santa Cruz que fez uma aparição surpresa. Começou na ronda inaugural do QS3000 português e foi avançando ronda após ronda, recordando-nos do fantasma daquela fatídica manhã de 2012 em Supertubos.
Só foi travado na quarta ronda, mas fez o suficiente para todos nos lembrarmos do pequeno francês que arruinou as aspirações dos jovens portugueses na quarta edição da etapa de Peniche. É que nesse ano tudo terminou com Medina a chorar no pódio, depois da derrota (polémica) para Julian Wilson. Mas antes disso já nós, portugueses, tínhamos sentido essa sensação de maldita frustração…
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FotografiaRip Curl Pro Portugal
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FonteRedação
