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- Na viragem da década passada, um trio de surfistas prometia assaltar os pódios do surf mundial. Mas as circunstâncias acabaram por ditar um destino completamente diferente para todos eles...
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No passado sábado houve festa – não sabemos se a pandemia o permitiu ou não… - no seio da família Wright, com o mais velho, Owen, a cumprir o 31.º aniversário. Parece que foi ontem que o jovem wildcard australiano chegou ao convívio da elite mundial, causando surpresas atrás de surpresas e conseguindo bater-se com os melhores surfistas do Mundo. Como foi o caso no mítico Rip Curl The Search, em Peniche, em 2009, onde só a lesão sofrida no tímpano, após um violento wipeout, o impediu de marcar presença nas meias-finais da etapa portuguesa.
Com Kelly Slater a passar a dezena de títulos mundiais e com Mick Fanning e os seus colegas australianos no auge da forma, mas a caminharem já para os 30, o futuro do surf mundial parecia bem entregue a uma mão cheia de miúdos capazes de fazer as delícias dos fãs. Talentosos e atléticos, nomes como Owen Wright, Jordy Smith ou Julian Wilson – este o último dos três a entrar no WCT, em 2011 - surgiram desde cedo a discutir pódios com os mais velhos e impressionavam a cada etapa realizada.
Muitos eram os que arriscavam atribuir-lhes títulos mundiais antecipados. Daquele trio, nascido entre o final da década de 80 e o início da década de 90, iriam sair certamente vários títulos mundiais, diziam muitos. Restava perceber como iria ser a divisão dos mesmos pelos três. Só que todos eles foram surpreendidos pela longevidade de Slater, pela astúcia competitiva de Fanning ou por uma tempestade brasileira, que num ápice constituiu a nova ordem do surf mundial.
Wright, Jordy e Julian foram apanhados neste turbilhão e nem sequer houve um período de transição que permitisse gozarem o seu espaço na história dos campeões mundiais de surf. Os anos foram passando e os futuros campeões mundiais, que ainda não o foram, começaram a envelhecer e a ficar cada vez mais longe da luta. É, por isso, com espanto que olhamos para os seus bilhetes de identidade e percebermos que já não caminham para novos. E, muito provavelmente, já têm o destino traçado como ex-futuros campeões mundiais.
Jordy faz 33 – a sério? – no próximo mês. Julian iguala o sul-africano em novembro. E Owen já vai nos 31 e com um vasto currículo de problemas físicos para trás. O futuro deste trio já é praticamente passado, tendo sido ultrapassados nesta hierarquia de futuros campeões por nomes como Gabriel Medina, John John Florence e até Italo Ferreira, que têm dizimado a concorrência. Desde 2015, apenas Adriano de Souza conseguiu furar o domínio da juventude entre os campeões mundiais.
Se é verdade que o australiano Joel Parkinson passou pelo mesmo e foi já depois dos 30 que conseguiu vencer o seu único título mundial da carreira, em 2012, o mais certo é Jordy, Julian e Owen estarem a preparar-se para serem dignos sucessores de Taj Burrow – provavelmente o melhor surfista do Mundo sem ter um título mundial no currículo. Olhando para outros desportos é o equivalente a futebolistas como Iniesta, Xavi ou Ibrahimovic não terem uma Bola de Ouro, Charles Barkley, Karl Malone ou Russell Westbrook não terem um único anel da NBA ou o tenista Marcelo Rios nunca ter vencido um título do Grand Slam.
Todos eles tiveram o seu momento. Jordy lutou em 2010 frente a Kelly Slater, com somente 22 anos e no terceiro ano entre os melhores surfistas do Mundo. Perdeu o rótulo de surfista que brilhava apenas a etapa caseira de J-Bay, passando a sonhar com mais altos voos. Não impediu o décimo título do rei, mas conseguiu terminar num brilhante 2.º posto. Repetiu essa posição em 2016 e voltou a estar na luta pelo título em 2019, terminando em 3.º lugar após a disputa final em Pipe. O gigante sul-africano conta com seis triunfos em etapas, ao longo das treze temporadas que já soma na elite mundial, mas nunca conseguiu vencer por duas vezes na mesma época. Apesar de nos últimos anos ter regressado à luta e aos lugares cimeiros do ranking, o tempo é cada vez mais curto para Jordy, que em 2021 arrancou com um 5.º posto. Curiosamente, apesar de ter perdido o fulgor de 2010 em termos competitivos, ao longo dos anos ganhou o estatuto de um dos melhores surfistas do Mundo... fora da competição.
Tal como Jordy, Owen Wright também teve o seu ponto alto bem cedo, quando em 2011 lutou taco a taco com Kelly Slater pelo título. Na memória ficam três finais seguidas feitas pelos dois surfistas, com dois triunfos para KS e um, pelo meio, para Owen. Era apenas a segunda temporada entre a elite mundial e acabou por não conseguir impedir Slater de festejar o título de forma antecipada – com aquele célebre “escândalo” das contas mal feitas na penúltima etapa, em que o título foi dado antes do tempo a Slater. Em Pipe acabaria por ceder a segunda posição do ranking a Joel Parkinson, mas, na memória coletiva do surf mundial, Wright fica como o verdadeiro “vice” daquela disputa. Desde então, nunca mais sonhou tão alto. O melhor resultado que conseguiu foi um 5.º posto, em 2015, quando chegou a Pipe com hipóteses de vencer o título e com o rótulo de ser o candidato a atravessar o melhor momento de forma, sobretudo em ondas pesadas. Só que um violento wipeout numa sessão antes do campeonato acabou por arredá-lo da etapa e da luta pelo título, deixando marcas profundas. Foram quase dois anos a recuperar de uma lesão cerebral e depois do regresso nunca mais conseguiu terminar como top 5 mundial. Após onze temporadas no WCT, com duas delas marcadas pelas lesões, Owen conseguiu quatro triunfos. Dos três pode ser o que tem menos triunfos, mas terá sido o que conseguiu os mais icónicos, sobretudo aquele em 2017, na Gold Coast, no primeiro campeonato que fez após recuperar da comoção cerebral provocada pela queda em Pipe. Em 2021 começou com uma falta de comparência à etapa de Pipe, devido ao nascimento do segundo filho...
Embora sem o impacto dos outros, sobretudo por nunca ter lutado por um título diretamente com o rei, Julian Wilson conta com um vice-título mundial no currículo. Ao contrário de Jordy e Owen, Julian teve uma entrada mais “lenta” no circuito. Só em 2017, na sétima temporada entre a elite mundial, conseguiu terminar o ano como top 3 e na época seguinte conseguiu o tal vice-título mundial, após uma épica disputa com o grande rival Gabriel Medina. Depois desse grande resultado, que o parecia catapultar finalmente para os patamares em que o colocaram ainda antes de chegar ao WCT, quando era o “menino bonito” da imprensa australiana de surf, Jules acabou por cair a pique, terminando fora do top 10 em 2019. Essa queda parece ter sido confirmada recentemente em Pipe, com uma derrota na 3.ª ronda na etapa inaugural do circuito de 2021. Contabiliza apenas cinco triunfos em 10 temporadas entre a elite mundial.
Outros dos melhores surfistas contemporâneos sem um único título mundial:
- Taj Burrow (melhor resultado: 2.º, em 1999 e 2007, e 3.º, em 2003 e 2008);
- Dane Reynolds (melhor resultado: 4.º, em 2010);
- Rob Machado (melhor resultado: 2.º, em 1995, e 3.º, em 2000);
- Cheyne Horan (melhor resultado: 2.º, em 1978, 1979, 1981 e 1982, 3.º, em 1983);
- Gary Elkerton (melhor resultado: 2.º, 1987 e 1993).
*Menções honrosas: Luke Egan, Shane Powell, Dane Kealoha, Simon Andersen, Bede Durbidge, Ian Cairns, Shane Beschen, Michael Ho, Brad Gerlach, Bruce Irons, Dave Macaulay, Michael Campbell…
P.S.: Curiosamente, a nova geração brasileira, que revolucionou o surf mundial, também parece estar a criar o seu futuro campeão mundial sem título. Contudo, Filipe Toledo, atualmente a caminho dos 26 anos, ainda terá alguma margem de tempo pela frente para cumprir as expectativas de todo o seu talento.
Os mesmos 26 tem Kolohe Andino, que também parece caminhar para o mesmo destino deste trio. Embora, neste caso, talvez tivessem sido apenas os americanos, sobretudo californianos, a preverem algo de grandioso para a carreira do Brother…
E no lado feminino temos Sally Fitzgibbons a caminhar a passos largos e de mão dada com os compatriotas Owen e Julian para o mesmo destino.
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Fotografiawsl
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FonteRedação
