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  • Pecas, o homem dos sete ofícios: “Vivo intensamente o mar, de manhã à noite”
    29 junho 2020
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  • Fotografia
    Jorge Matreno/ANSurfistas
  • Fonte
    Redação
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  • A comunidade do surf conhece-o simplesmente como “Pecas”. Foi assim que se deu a conhecer como jovem competidor. Ou como big rider. Ou como organizador de eventos no clube local, por aí fora...
  • No final do recente Allianz Figueira Pro, o primeiro campeonato de surf a retomar após a pandemia, os sorrisos instalaram-se naturalmente entre a organização da Liga MEO Surf. Alguns eufóricos, outros mais contidos. Uns de missão cumprida, outros, quem sabe, até amarelos. No meio de toda a “festa” permitida pelas novas regras de segurança, havia também um sorriso sereno, mais interior que exterior. Um sorriso de quem poucas vezes exterioriza o stress ou a pressão que possa sentir durante estes eventos. Até porque é ele que tem de tomar as decisões mais importantes durante estes campeonatos. E na Figueira, não esconde, que teve uma das maiores provas de fogo enquanto diretor de prova. “Foi completamente stressante”, admite. Logo ele, que parece a pessoa mais calma durante todo o campeonato.  

    Pedro Monteiro. É assim que se chama e que se apresenta de uma perspetiva formal. Mas a comunidade do surf conhece-o simplesmente como “Pecas”. Foi assim que se deu a conhecer como jovem competidor. Ou como big rider. Ou como organizador de eventos no clube local. Ou até como diretor de provas da Liga MEO Surf e de outros importantes eventos. Um verdadeiro homem do mar e dos sete ofícios. [O quê? Ainda só dissemos quatro… Ok, aqui vão mais três: treinador de surf; professor e formador de meteorologia e oceanografia e ambientalista, por exemplo]. Fora outros tantos cargos e funções que o próprio admite já nem se lembrar. Isto tudo com o alto patrocínio da praia que diz ser uma verdadeira “escola” do mar. Carcavelos, pois claro

    Resumindo, Pecas é um verdadeiro estudioso e um exemplo de dinamismo, experiência e versatilidade no surf português. Embora não se conheça a forma exata do oceano, podemos dizer que Pedro Monteiro é dos poucos que conhece todos os cantos à casa, neste caso ao mar, que é praticamente a sua primeira casa. Embora goste de se envolver ao pormenor em tudo o que faz, garante que não é uma pessoa meticulosa e organizada, e recusa escolher um desses ofícios para seguir num futuro a curto prazo. “Para ser sincero, gosto de fazer tudo isto e não sei qual destas atividades deveria seguir. Gosto de fazer todas elas”, assegura.

    Mas já lá vamos ao trajeto e aos sonhos. Regressemos por agora ao Cabedelo. E também à Murtinheira, praia que acabou por ser apresentada ao país quase de forma involuntária, durante o dia final da etapa. “Tecnicamente fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Talvez não tenha corrido tão bem o facto de prolongarmos a ação na Murtinheira até ao round 3 feminino, porque o mar subiu mesmo muito. Mas é sempre difícil tomar decisões com base em previsões, porque nunca sabemos que mar vamos exatamente encontrar. Se soubéssemos que podíamos ir para a Murtinheira, talvez tivéssemos ido mais cedo e com melhores condições para os juízes, que ficaram muitos heats, alguns deles decisivos, sem as condições plenas. Foram condições muito difíceis de gerir, mas penso que, como organização, superámos as expectativas e o saldo final foi positivo. Não poderíamos fazer muito mais do que aquilo que foi feito”, aponta Pecas.

    "Já tive um amigo de lá que me disse que agora descobrimos o segredo deles".

    Com previsões nada animadoras pela frente e com dois dias quase flats e com marés a complicar e a multiplicar os calls, acabou por ser do outro lado da Serra da Boa Viagem, que os melhores surfistas nacionais foram surpreendidos por condições a roçar a perfeição e dignas de uma prova internacional, pelo domingo de manhã. O Cabo Mondego poderia parecer um Cabo das Tormentas para quem olhava desde o Cabedelo, mas a verdade é que ao virar da esquina estava lá a Boa Esperança. As responsabilidades e os elogios têm de ser atribuídos a quem decide. Neste caso, a Pecas. No entanto, é com a maior naturalidade do Mundo que o diretor de prova admite que “nunca tinha estado” neste spot, nem sequer o conhecia. “Mas já tive um amigo de lá que me disse que agora descobrimos o segredo deles”, atira Pecas, entre gargalhadas ligeiras.

    Qual o segredo para, perante as dificuldades encontrada, manter a calma? Parece tão simples como não se mostrar o nervosismo. Que há e muito. “Posso parecer sempre calmo nas coisas que faço, mas na realidade estou sempre em stress. Como qualquer outra pessoa estaria nas circunstâncias em que estou. Geralmente não durmo bem, não estou relaxado, não me sinto confiante… Simplesmente, acredito que as condições que nos são dadas são aquelas, com as devidas limitações. Por mais qualidade que tenha a Liga MEO Surf, não somos a WSL, não temos um período de espera tão largo para gerir, nem temos recursos ilimitados. Na realidade, vivo muito bem com tudo o que está ao meu alcance e com o que consigo fazer. Tenho imenso respeito por todos os intervenientes, mas não tenho qualquer problema em ser criticado ou em ter de assumir erros e mostrar que não faço tudo bem. Não fico em stress desse ponto de vista, mas fico em stress por fazer apostas, criar metas e definir estratégias, mesmo sabendo que possam ser falíveis. Depois, vou analisando sempre as condições”, explica-nos.

    “Por mais planeamento que haja, habituei-me muito a fazer uma gestão à vista, reagindo ao que está a acontecer no momento, mesmo já tendo um plano inicial pensado. Na Figueira fiquei dividido. Por um lado, uma alegria enorme em ver altas ondas a quebrar e, por outro lado, um desejo de que algum fator mudasse e nos obrigasse a ir para o Cabedelo. Porque foi para lá que tínhamos feito a aposta para as melhores condições, com a estrutura lá, inclusivamente. Mas já tenho tantos anos de campeonatos, que não tenho inseguranças sobre o que os outros pensam das minhas decisões. Agora, já tenho experiência, mas no início tinha imenso em conta o que todos diziam e achavam. Hoje em dia já tenho mais confiança em mim. Também tenho de elogiar a equipa com quem trabalho, pois tanto a ANS como a Fire estão sempre disponíveis a querer fazer o melhor. O ambiente que se respira é de disponibilidade total e de todos a tentarem fazer o melhor”, admite.

    "Gosto de saber que fiz um bom call, mas gosto ainda mais que os surfistas sintam que foi um bom call. Gosto de ouvir um bom feedback, sobretudo se ele for sentido. Estamos ali pelos surfistas."

    Pecas não esconde que poucas coisas o deixam mais satisfeito que ouvir a célebre expressão “Granda Call”. Assim mesmo, em calão. Tem sido uma expressão recorrente desde que assumiu o cargo de diretor de prova na Liga MEO Surf, há cerca de sete anos, trazendo consigo uma pontaria de decisões quase clínica. “Não estou ali tanto para mim. Gosto de saber que fiz um bom call, mas gosto ainda mais que os surfistas sintam que foi um bom call. Gosto de ouvir um bom feedback, sobretudo se ele for sentido. Estamos ali pelos surfistas. Temos de respeitar as condições e as limitações que temos, os acordos que foram feitos com as equipas todas, as licenças… Qualquer coelho que saia da cartola faz parte de um processo de agilização e de solidariedade entre as equipas. Não é nada que no início do campeonato se saiba ser possível. Olhamos sempre para um plano A, porque os planos B têm custos. Por vezes os surfistas e os treinadores não percebem, ou não lhes cabe também ter de perceber, as dificuldades que temos em decidir. Por isso mesmo, um elogio vindo dos surfistas é muito mais gratificante do que nos sentirmos realizados. No entanto, o mais importante é respeitarmos e sermos respeitados”, frisa o antigo top nacional.

    Para quem só vais às etapas ou só vê na TV, o trabalho invisível feito pelo diretor de prova pode passar despercebido, mas a verdade é que começa bem antes do primeiro dia de prova. Até porque Pecas tem por hábito ir uns dias mais cedo para os locais dos eventos, só para se sintonizar com o mar. “Envolvo-me muito nas coisas. Não sinto que seja muito metódico e rigoroso. Sinto que ando sempre em mil coisas ao mesmo tempo. O que me dá mesmo prazer é ir-me envolvendo no ambiente e estar nele. Estando no ambiente, envolvo-me e entrego-me de alma e coração. Vou muito cedo para as etapas, vivo intensamente o mar de manhã à noite, tento ter o máximo de informação possível, para que o resultado seja o melhor possível. Não penso que seja meticuloso neste aspeto, acho que é mais uma questão de envolvência”, assume.

    “Tenho um princípio que é só ver previsões do mar cinco dias antes de o campeonato começar. A partir daí, varro tudo o que são previsões e todo o tipo de análises. Vou vendo a evolução. Neste campeonato, sim, tive de fazer este processo de uma forma meticulosa, ponto a ponto. Falei com pessoas conhecedoras, com os surfistas locais, com muita gente... Faço uma mistura de sabedorias e tento encontrar a minha versão. No entanto, há outros campeonatos em que há ondas e não preciso de estar preparado desta forma. Tento analisar sempre a amplitude de maré, o swell, o vento, mas neste campeonato tudo isso foi muito mais complexo. Não fico propriamente feliz em ter um campeonato difícil de prever em que as coisas correm bem. O objetivo é que as coisas corram da melhor maneira e estamos lá para garantir isso. Ter dificuldades dá sempre uma sensação de superação. No entanto, se nos derem facilidades, vamos usufruir delas de braços abertos”, confessa Pecas.

    "Cheguei a ajudar a montar o palanque, fui juiz, fui competidor, ia buscar os almoços, recebia inscrições, à noite dormia no palanque para não o roubarem ou vandalizarem."

    Arrumado e dissecado que está todo o processo que envolveu uma das etapas mais marcantes e históricas do circuito nacional de surf, não só por ter sido a primeira pós-Covid 19, mas também por tudo o que a envolveu, vamos então conhecer melhor o Homem dos sete mares. Um surfista que, apesar de atualmente destacar-se cada vez mais como diretor de provas, garante nunca se ter imaginado nesse papel. Tudo começou no clube local, vulgarmente chamado Lombos. “Nunca pensei ser diretor de prova, mas já ajudava o clube onde trabalho a organizar campeonatos. Cheguei a ajudar a montar o palanque, fui juiz, fui competidor, ia buscar os almoços, recebia inscrições, à noite dormia no palanque para não o roubarem ou vandalizarem. Já organizei cerca de 50 campeonatos intersócios em Carcavelos, que é das praias mais difíceis. Nem a WSL consegue dar volta a isso, quanto mais um intersócios. Primeiro, por causa do crowd. Depois, por causa das correntes e das marés. E também a falta de ondas, porque dificilmente há três dias seguidos de ondas boas em Carcavelos. Por isso, penso que Carcavelos é uma grande escola para organizar campeonatos”, assevera Pedro Monteiro, que antes da Liga MEO Surf já desempenhava as mesmas funções no Capítulo Perfeito.

    “Já fiz e faço tantas coisas ligadas ao surf, que, às vezes, tenho dificuldade em saber qual seria o caminho único que gostaria de levar dentro do surf. Num lado mais ambientalista já cofundei o SOS – Salvem o Surf. Já fiz um estágio profissional num recife artificial para surf. Dou aulas e formações de meteorologia e oceanografia. Além de ter sido competidor, de surfar ondas grandes, ser treinador e diretor de provas, dirigente desportivo... Adoro ajudar os miúdos e fazê-los evoluir, de ir surfar e passear com eles. Gosto de ir para a Taça de Portugal e ser o chefe de equipa, colocando uma disciplina pensada e oferecendo uma experiência única a todos, de espírito de equipa e apoio. Gosto de ser dirigente e resolver as coisas macro. É um pouco isso que faço no clube. A quantidade de pessoas que o meu trabalho conseguiu envolver é muito gratificante. Claro que estar a acompanhar uma WSL, ver previsões e viajar para todo o lado, era um sonho, obviamente. Também poderia ser empresário do surf, por exemplo. Atualmente, estou envolvido com um grupo empresarial grande, com a minha escola na Caparica, e tem sido muito giro. Gosto de fazer tudo”, reforça.

    Ainda assim, Pedro Monteiro, que é sempre um bom nome para estrangeiro ver, ficaria agradado se desenvolvesse as atuais funções a nível internacional e explica como usa os campeonatos do WCT para evoluir na função. “Faço quase sempre o exercício de acompanhar os calls da WSL. Por vezes, na etapa portuguesa até me ligam a perguntar a opinião, como ligam a outras pessoas entendidas. Acho que seguir essas decisões ajuda-me a perceber a razão de eles terem dado um call e não terem dado outro ou perceber os erros que cometem. Apesar de terem mais dias de escolha, têm uma responsabilidade gigante pela frente, porque têm o Mundo inteiro a ver. Contudo, penso que ainda se vive um pouco na era de que ‘o estrangeiro é que sabe’”, remata, em forma de cut back, pois claro.

     

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