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- Alguns estudos ao passado do povo havaiano demonstram acreditar que não é um ritual assim tão ancestral.
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O paddle out é um dos rituais mais marcantes da cultura do surf e nos últimos tempos têm acontecido muitas destas tradicionais cerimónias, que juntam vários surfistas em círculo no mar. A mais recente foi por cá, em homenagem ao falecido ator Pedro Lima. Mas antes disso, também durante os protestos antirracistas nos Estados Unidos aconteceram várias cerimónias destas, umas pela memória de George Floyd, outras pela causa em jogo.
Esta espécie de tributo remonta aos primórdios do surf e leva-nos até ao Havai, a grande meca do surf mundial e onde existe uma das culturas mais vincadas deste estilo de vida. Regra geral, servem como homenagem a alguém que partiu. Os surfistas remam nas suas pranchas até ao outside e levam consigo flores, com o intuito de honrar a memória e o legado da pessoa em questão.
Estas cerimónias continuam a ser muito frequentes no Havai e acontecem sempre que alguém ligado ao mar parte. Ali, berço desta tradição, os surfistas levam ao pescoço os tradicionais colares de flores. Depois dão as mãos e fazem um círculo. De seguida cumprem um breve silêncio, todos aplaudem ou atiram água ao ar para celebrar a vida de alguém que, pelos mais variados motivos, deixou a sua marca em determinada comunidade.
O círculo criado pelos participantes representa a forma como o oceano une as pessoas. Em alguns dos casos, estas cerimónias envolvem a família do homenageado e são várias as vezes em que a mesma família opta por lançar as cinzas ao mar. Embora muitos possam pensar que se trata de uma prática ancestral, alguns estudos ao passado do povo havaiano demonstram acreditar que não é um ritual assim tão ancestral e que não advém dos antigos polinésios.
Há quem defenda que esta cerimónia nasceu no Havai já no início do século XX, por volta de 1920, altura em que o surf começava a ganhar expressão nas ilhas havaianas. Terão sido os Waikiki Boys a introduzir este ritual na ilha de Oahu e a partir daí começou a ganhar cada vez mais admiradores.
Willy Forseith, um dos pioneiros do surf havaiano, garantiu mesmo numa entrevista ao New York Times em 2010, que o primeiro paddle out em que participou foi apenas em 1926, quando tinha seis anos. E garantiu que ninguém tinha visto algo idêntico ser feito em Waikiki antes disso. Mais tarde, em 1950, este ritual chegou à Califórnia, tornando-se também comum na mainland a partir daí.
Este é um tributo com um lado também espiritual e metafísico. A separação, a partida e a continuidade, neste último caso do legado da pessoa em causa, são os grandes pilares do ritual. A compaixão, a solidariedade, a camaradagem e até uma certa introspeção são aspetos em causa entre a comunidade que participa num paddle out.
Em 2018 este tipo de tributo foi mesmo alvo de um estudo científico, realizado por investigadores da Griffith University's School of Humanities, Languages and Social Science. Foram feitas várias entrevistas a surfistas australianos e havaianos que tinham participado em padde outs como forma de analisar o fenómeno social em causa.
“O paddle out abraça a temporalidade de uma vida individual entre família, amigos e comunidade dentro da infinidade e eternidade do oceano. O paddle out comemora e reconhece a condição humana da mortalidade num ritual baseado na natureza, num processo altamente físico e afetivo”, pode ler-se como conclusão do estudo.
Alguns destes paddle outs reúnem centenas de surfistas. Foi assim que aconteceu aquando da morte de Andy Irons, quase há 10 anos. Embora nesse caso, a cerimónia tenha tido uma carga mais pesada que o habitual, uma vez que se tratou de uma perda trágica e inesperada. Outro dos mais marcantes foi o que foi feito aquando do desaparecimento do mítico Eddie Aikau, uma das maiores lendas dos mares do North Shore. Uma cerimónia descrita como uma das mais concorridas de sempre.
Apesar de a sua origem remontar a essas homenagens a quem parte, a verdade é que também se fazem paddle outs noutros contextos. Como por exemplo aconteceu na Ericeira, aquando da cerimónia do nascimento da primeira Reserva Mundial de Surf na Europa. Também podem ser feitos como forma de protestos, contra construções ou desastres ambientais. No entanto, tratam-se de exceções, pois o paddle out é um ritual associado à morte na sua verdadeira origem.
Em todas estas cerimónias, seja no Havai ou em Portugal, como se viu este fim-de-semana na Praia da Murtinheira, as imagens são super impactantes e de uma beleza extrema e, por isso, facilmente correm o mundo.
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FotografiaANSurfistas
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FonteRedação
