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- Atualmente com uma ligação à marca portuguesa Deeply, Johanne acredita que ainda tem margem para progredir no WWT.
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Aos 26 anos, Johanne Defay preparava-se para iniciar a sétima temporada no World Tour feminino, quando a pandemia do Covid-19 colocou o Mundo inteiro, incluindo as competições desportivas, em pausa. Ela que desde a estreia, em 2014, se foi afirmando como uma das surfistas mais consistentes do circuito mundial, terminando sempre como top 10 e chegando mesmo a fazer top 5 em 2016 e 2018. A surfista francesa decidiu regressar às origens, na Ilha Reunião, para passar a quarentena e foi a partir daquele território francês situado no Oceano Índico, junto a Madagáscar, que fez um ponto de situação sobre uma carreira ímpar, que pode muito bem ser considerada a melhor algumas vez conseguida por uma surfista europeia.
Atualmente com uma ligação à marca portuguesa Deeply, Johanne acredita que ainda tem margem para progredir no WWT, apontando a mais altos voos, que até poderão surgir com as novas mudanças impostas no circuito, que vê com bons olhos. No entanto, nem tudo foi fácil para a surfista que terminou no 8.º posto do circuito no ano passado. A falta de patrocinadores foi uma constante numa carreira que teimava em vingar, sempre com a presença de grandes resultados, onde se incluem três vitórias no WCT. Defay também deixou algumas dicas para o futuro do surf nacional feminino.
Beachcam – Desde que chegaste ao WWT que foste das surfistas que conseguiu uma maior evolução dentro do circuito. Com 26 anos, e depois de tudo o que já conseguiste, acreditas que ainda tens espaço para crescer e, por exemplo, afirmares-te como uma candidata ao título mundial?
Johanne Defay – Penso que ainda tenho margem de progressão, tal como todas as outras surfistas. Caso contrário, não faria sentido estar a competir. Ainda tenho muita coisa para aprender e com este novo formato que a WSL vai implementar no próximo ano, julgo que será uma boa oportunidade para surfistas como eu, que precisam de se esmerar ao máximo para serem regulares a chegar às rondas finais dos campeonatos. Mas talvez possa acontecer se conseguir fazer algo de extraordinário nesse evento final. Será uma strike mission apenas com os melhores surfistas do ranking. Veremos como vai ser. Contudo, sei que ainda tenho muito que fazer e aprender na elite mundial.
B – Já venceste a etapas de Fiji, o US Open e Uluwatu, sempre em condições diferentes. Qual a que te deu mais gozo vencer? E qual a etapa que ainda gostarias de vencer?
JD – Penso que Fiji foi o evento mais recompensador para mim. Vencer em condições incríveis em Cloudbreak, com o meu treinador e parceiro junto a mim… foi surreal. Vencer o US Open também foi incrível e mal consegui acreditar. Uluwatu foi um pouco diferente, porque foi um evento mais pequeno, completando o resto do que se tinha iniciado em Margaret River. Também foi uma grande vitória, embora diferente. Adoro aquela onda, com as pessoas todas nos rochedos a ver, foi muito especial sentir essa vibração. A que ainda gostaria de ganhar, se pudesse escolher, seria a etapa de França.
B – Com este percurso sentes que te podes considerar e melhor surfista europeia da história e que és um exemplo para as restantes?
JD – É difícil para mim colocar-me nessa posição ou considerar-me como um exemplo. Talvez mais tarde, quando terminar a carreira, consiga ter uma resposta para essa questão. Até porque, no desporto em geral, és a melhor até que apareça alguém melhor que tu.
B – No início da carreira fizeste parte de uma talentosa geração de surfistas francesas que conseguiram grandes triunfos, sobretudo em provas juniores. Nomes como a Pauline Ado, Canelle Bullard, Justine Dupont ou Maud Le Car. Nessa altura, muitas delas tinham melhores resultados que os teus. Mas foste tu que conseguiste fazer história no WWT. Qual foi a diferença nos vossos trajetos?
JD – Todas essas surfistas são minhas grandes amigas e é difícil saber o que se passou para as coisas terem acontecido assim. A Pauline também fez quatro ou cinco anos de WWT. A Canelle formou-se em fisioterapia e, agora, regressou à competição. A Maud é uma forte competidora e tem sido um exemplo ao tentar inspirar outras surfistas a seguirem os seus sonhos. E a Justine é uma das maiores big riders de sempre. Penso que todas conseguimos alcançar, de certa forma, grandes feitos. Uma carreira é feita de escolhas, trabalho, determinação, confiança e muitas outras coisas, incluindo sorte. Ainda mais no surf, uma vez que é um desporto que se faz no oceano e se está dependente dele.
"Sentia que nenhuma marca me queria a representá-la. É complicado para o ego…"
B – Quão difícil foi esse teu trajeto, tendo em conta que grande parte dele foi feito sem patrocinadores principais e sem um rendimento fixo?
JD – Em toda a minha carreira júnior tive a Roxy a patrocinar-me, o que foi uma preciosa ajuda. Foi um sonho. Depois, fiquei sem patrocinador durante quatro anos. Estamos a falar dos anos mais importantes, porque queria qualificar-me para o World Tour. Tive a sorte de me conseguir qualificar logo no primeiro ano após a Roxy me ter dispensado da equipa, o que acabou por não ser um desastre tão grande. Isto porque quando chegas ao circuito mundial, os prize moneys das etapas acabam por ser suficientes para viajar com mais uma pessoa. Não digo que seja fácil. A história é muito longa… Quando és um atleta profissional esperas poder ganhar algum dinheiro, que não sirva apenas para te pagar as viagens para os campeonatos. Especialmente se pensares a longo prazo, no pós carreira. Contudo, ao mesmo tempo, estava a viver o meu sonho. Por isso, decidi não pensar muito nisso e apenas desfrutar. Claro que houve sempre aquele sentimento de não teres o apoio de ninguém ou de não te sentires boa o suficiente para merecê-lo, o que foi duro para mim. Sentia que nenhuma marca me queria a representá-la. É complicado para o ego…
B – Com esta nova realidade imposta pelo Covid-19 os campeonatos pararam e os surfistas que estão numa situação idêntica a essa, que são muitos, ficaram sem essa possibilidade de garantirem os únicos rendimentos que tinham. No teu caso, o quanto te afetou a paragem do Tour? Com os atuais patrocínios que tens terias capacidade para suportar um ano inteiro sem competições?
JD – Felizmente, agora tenho vários patrocinadores. Patrocinadores que vão ao encontro dos meus valores e que me dão apoio das mais variadas formas. Por isso, a minha situação não é má. Por outro lado, ir a campeonatos de surf trata-se de uma despesa elevada, porque viajamos o ano inteiro, precisamos de alugar carro, apartamento, etc... Por isso, quando ficamos em casa acabamos por ter muito menos despesas.
B – Conta-nos como é que surgiu a possibilidade de seres patrocinada por uma marca portuguesa?
JD – Foi a Deeply que me contactou no ano passado e disseram que se tinham interessado pelo meu perfil e personalidade. Neste momento, é o meu terceiro patrocinador, por isso o apoio que me dão é muito importante. E é bom porque estamos a falar de uma marca europeia, numa indústria que é dominada por marcas anglo-saxónicas e agora também um pouco por brasileiras. É importante começarmos a ter as nossas marcas, os nossos exemplos, os nossos campeonatos. É por isso que estou super feliz com esta parceria com a Deeply. Adoro as pessoas da marca com as quais trabalho e também me dou muito bem com o resto dos surfistas da equipa.
"Estou um pouco petrificada com toda a situação. Vou tentar regressar a França o mais rápido que conseguir."
B – Nesta altura da pandemia, muitos surfistas estão impedidos de surfar, o que é uma dura realidade, sobretudo para os atletas. Contudo, sabemos que mais tarde ou mais cedo, a situação vai regressar à normalidade. Já na Ilha Reunião não é bem assim, uma vez que há sete anos que existe uma lei que proíbe o surf na ilha [os atletas de alta competição são exceção], devido à forte presença de tubarões na água. Como é que vês essa situação?
JD – É delicado. Apesar das críticas sobre o fecho das praias em França, quando penso que estão prestes a reabrir e que brevemente se vai poder surfar lá, fico cheia de vontade de regressar. Aqui, as praias foram reabertas no início desta semana, mas tenho muito medo de ir surfar. O inverno está quase a chegar e é nessa época que acontecem mais ataques de tubarão. Estou um pouco petrificada com toda a situação. Vou tentar regressar a França o mais rápido que conseguir.
B – Por fim, como vês o estado atual do surf feminino português? Há alguma surfista que acompanhes mais? O que pensas que falta às portuguesas para conseguirem chegar ao circuito mundial?
JD - Sim, sigo a prestação de algumas surfistas portuguesas, sem dúvida. Antigamente, quando era da Roxy, viajava muito com a Francisca Pereira dos Santos e, agora na Deeply, tenho a Camilla Kemp como colega de equipa, assim como a Mariana Assis na Smoothstar. E também convivo em muitos campeonatos do WQS com a Teresa Bonvalot. Não passo o tempo necessário com elas para perceber exatamente o que lhes falta para darem o passo seguinte, mas talvez seja uma questão de confiança ou de falta de um exemplo que as possa guiar a esse objetivo. Sem esse exemplo é difícil perceber que é possível lá chegar. É algo que necessitas de querer muito mais que as outras surfistas.
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FotografiaDeeply
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FonteRedação
