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- A bodyboarder portuguesa inicou o seu confinamento ainda antes do início do período de estado de emergência em Portugal. Já lá vai mais de um mês sem voar com a sua prancha nas ondas.
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Desde que se conhece que Joana Schenker tem uma vida ligada ao mar. É aí que é feliz, ganha a vida e em 2017 atingiu o topo do bodyboard mundial ao sagrar-se campeã do mundo do Circuito Mundial da Association of Professional Bodyboarding (APB).
Neste arranque de 2020, Joana vinha a treinar intensamente para preparar o assalto a um novo título mundial. No entanto, a pandemia do novo coronavírus veio alterar tudo e a bodyboarder algarvia, assim como tantos outros atletas que precisam do mar para exercer a sua profissão, ficou impossibilitada de treinar no terreno.
Uma mudança drástica de rotinas e que a própria Joana Schenker, para dar o exemplo, iniciou ainda antes do estado de emergência entrar em vigor no país. Já lá vai mais de um mês de confinamento, naquele que já é o maior período de jejum da sua vida em termos de afastamento do mar.
Enquanto espera pacientamente em casa, no Algarve, pelo regresso ao oceano, a atleta de 32 anos tenta passar da melhor forma o muito tempo disponível. Foi isso que tentámos perceber nesta conversa entre o Alexandre, este vosso escriba, e a Joana Alexandra.
MEO Beachcam (BC) - Já há muito que não treinas no mar. Como é que tens passado estes dias?
Joana Schenker (JS) - Antes de isto tudo começar já estava a fazer a minha quarentena voluntária. No início não estava a custar muito, pois aproveitei o facto de estar em casa para fazer algumas coisas que tinha em agenda. No entanto, os dias estão a passar e agora já começam a faltar coisas para fazer.
Há momentos em que não me importo de estar em casa, mas ao longo do dia cai a ficha para o que está a acontecer e vou tendo recaídas. Nesta fase deixei de ver as previsões do mar para não ficar com aquele 'bichinho'. Vou ocupando o tempo com exercício físico, leio livros, ouço música, entre outras coisas.
BC - Falaste que, nestes longos dias, tens feito exercício físico. Que tipo de exercícios são esses?
JS - Já há muitos anos que treino em casa e tenho a muito rotina normal, que tenho mantido. Salto à corda, faço pesos, utiliza a bola de pilatos, entre outros exercícios. Nestes dias tenho treinado mais toda essa componente, mas não há nada que possa substituir o treino dentro de água. Naturalmente que esse é o meu treino principal. Tenho aproveitado também para fazer ginástica natural. De certa forma, este período também está a ser bom para descobrir alguns pontos fracos.
BC - Neste período sentes mais falta do quê? De estar simplesmente no mar a apanhar ondas ou da própria competição em si?
JS - Acho que sinto mais falta de todo processo de ir à praia, pois é nesse local que passo metade do meu dia. Quando não estava em casa, onde também já passava algum tempo, estava quase sempre na praia e não noutros sítios. Nesta fase, não estou a fazer metade daquilo que deveria fazer diariamente.
O pior de tudo isto é não ter um objetivo fixo quando acordo e saio da cama. Normalmente, acordo e vou ver o mar, de modo a descobrir como estão as ondas. Agora isso não existe e parece que não tenho rumo. Estou a perder tempo de treino. No Algarve, temos muitas praias escondidas e onde poderia estar a surfar nesta altura, apesar do vírus. Só que não faço isso, pois tenho a obrigação de dar um bom exemplo.
BC - É do conhecimento público que és vegetariana. Numa fase em que tens estado mais parada tem sido difícil manter algum controlo na alimentação?
JS - Nesta altura é quase impossível não comer mais do que é normal, apesar de todos os esforços que são feitos para evitar essa tendência. Estamos em casa aborrecidos, pelo que às vezes decido ir comer quando não tenho muita fome. Não me estou a privar de nada, mas tento sempre manter um certo equilíbrio.
BC - No início deste período de confinamento vimos muitas pessoas a ignorar a realidade e a continuarem a ir à praia. Qual é o feedback que tens tido em relação às praias da zona onde resides?
JS - Devido à atual situação não tenho visto muitas vezes o mar. Só saio de casa para ir ao supermercado. No entanto, daquilo que percebo está tudo muito mais calmo. O período mais complicado foi a primeira semana em que vigorou o estado de emergência, uma vez que ainda cá estavam muitas pessoas de férias e que não estavam a prestar interesse a toda esta situação.
Atualmente já todos caíram em si e perceberam que é preciso respeitar o dever geral de recolhimento. Será mais fácil sair desta situação se todos nós respeitarmos o que é pedido.
BC - Quanto ao Mundial de Bodyboard, o início do mesmo foi fortemente prejudicado devido à pandemia do novo coronavírus. Tens alguma novidade quanto a um possível reagendamento das provas que foram suspensas?
JS - Neste momento apenas sei o que foi tornado público. As provas que iam abrir o Mundial foram suspensas e devem ser reagendadas se possível. Dado o que está a acontecer não sei até que ponto iremos ter tempo para fazer as provas todas. Apesar de tudo, ainda mantenho a esperança de que vou competir em 2020. Agora tudo dependerá da evolução da pandemia nos próximos dois ou três meses.
BC - Está numa fase da tua vida em que já tens 32 anos. Sentes que caso em 2020 não houvesse Mundial poderias vir a sair mais prejudicada em relação a outras atletas que são mais novas e têm portanto mais anos de competição pela frente?
JS - Isso é algo que não me passa pela cabeça. O que sinto em mim e nas outras atletas é que se não houver competição poderemos sair prejudicadas em relação aos compromissos que temos com os patrocinadores. Esta é realidade na qual todas as modalidades vão sofrer um pouco, mas acredito que os patrocinadores tenham a sensibilidade que está acima de nós o que está a acontecer. Apesar de tudo espero que os patrocinadores não percam a fé e não abandonem os atletas. Se não houver competição teremos todos de nos reinventar um bocadinho.
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FotografiaAPB World Tour
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FonteAlexandre Melo
