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  • The man behind the champion: “Sem o John não havia a campeã!”
    08 outubro 2019
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  • Fotografia
    Jorge Matreno/ANSurfistas
  • Fonte
    Redação
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  • Campeã nacional garante que abdica de muita coisa para estar onde está e garante que só lhe falta ter apoio financeiro para chegar ao topo do surf mundial.
  • Surgida praticamente do desconhecido, Yolanda Sequeira tem dominado de forma categórica o surf nacional e, inclusivamente, já começou a dar cartas a nível internacional. A surfista nascida e criada no Algarve, mas agora a viver na parte alentejana da Costa Vicentina, tem-se mostrado um fenómeno dentro de água, graças a uma ascensão verdadeiramente meteórica. Aos 21 anos, e depois de um percurso jovem praticamente inexpressivo, Yolanda sagrou-se este ano campeã nacional de surf, dando forma a uma das histórias mais incríveis já presenciada pelas ondas nacionais. Mas como em tudo na vida, a surfista filha de pai português e mãe galesa, tem um segredo para este trajeto sensacional que está a ter. E, neste caso concreto, falamos de um segredo de carne e osso.

    Todos lhe chamam somente John, inclusive Yolanda. São inseparáveis sempre que marcam presença em campeonatos e, talvez por isso, são muitos aqueles que pensam tratar-se do pai de Yolanda. “Há muita gente que me diz que pensava que ele era meu pai”, confidencia-nos, entre sorrisos. John é o técnico da surfista algarvia. Só técnico. Mas não um técnico qualquer. É treinador, psicólogo, patrocinador e, sim, também uma figura paternal na vida de Yolanda Sequeira. John Tranter, ex-surfista britânico e dono de um surf camp em Sines, foi o homem que acreditou no potencial de uma jovem que rompia com todos os padrões estabelecidos e que o continua a fazer através de um surf power e destemido, como talvez nunca se tinha visto pelo nosso país.

    "Sinto que não lhe posso pagar aquilo que ele merece pelo trabalho que desenvolve comigo."

    Tranter levou Yolanda ao topo do surf nacional, mas ela quer mais. Quer conquistar o Mundo. E não se imagina a fazê-lo sem a ajuda do seu braço direito. O homem que, onde quer que esta esteja, está sempre atrás dela. “O John não se mostra, mas sem ele não havia campeã nenhuma”, começa por concretizar Yolanda Sequeira, durante uma longa e emotiva conversa connosco. “Sem ele, de certeza que não tinha conseguido ser campeã, nem vencer os campeonatos que já venci, tanto na Liga MEO como no WQS. Temos alguns problemas de dinheiro, porque sinto que não lhe posso pagar aquilo que ele merece pelo trabalho que desenvolve comigo. Ele faz um grande favor em ajudar-me. O John tem dificuldades como toda a gente, porque está a trabalhar e também precisa de dinheiro como sustento da família. Mas, apesar de me sentir em falta para com ele nesse aspeto, vamos até ao fim. Sinto que sem ele não conseguiria chegar aos objetivos”, garante-nos.

    “A meu ver, e tendo em conta a evolução que tive, o John é dos melhores treinadores do Mundo. Tem uma perspetiva incrível do surf e é muito completo. Tem qualidades em termos do treino físico, mental, psicológico e também estratégico. É uma pessoa muito esperta, gosta muito, muito de surf porque fez isto a vida toda dele. Curiosamente, ele teve problemas idênticos aos meus quando competia, mas um pouco ainda mais extremos, pois ninguém o apoiava e não tinha dinheiro para fazer os campeonatos. Chegou a correr no antigo WQS, até venceu alguns nomes importantes do surf… mas não tinha apoios. O John é uma pessoa que não gosta de expor a vida privada e, talvez, por isso muita gente não saiba disto. Como não teve dinheiro para prosseguir com a carreira de surf acabou por ir para as forças especiais inglesas. É por isso que ele é especialista em tantos aspetos diferentes, desde o corpo à mente”, explica Yolanda.

    Foi a chegar à casa dos 50 que conseguiu atingir o “estrelato” com a sua pupila, embora prefira se manter reservado na sombra do sucesso da mesma. John Tranter já havia orientado algund talentos locais em Sines, como António Duarte, André Faria ou Vasco Mónica, mas nunca nenhum dos seus surfistas havia atingido a projeção da nova campeã nacional. Ainda assim, Yolanda confessa que a relação entre ambos nem sempre é perfeita. E por culpa dela própria. “Claro que como sou muito casmurra, por vezes também tenho de levar nas orelhas para seguir o caminho certo [risos]. Não sou uma pessoa fácil de treinar. Mas damo-nos como se fossemos da mesma família. Ele abriu-me as portas da família e o filho dele, por exemplo, é como um irmão para mim, a mulher é como uma irmã ou mãe. Ofereceu-me um ambiente muito aconchegador e familiar”, sublinha.

    A viver no surf camp de John, Yolanda passa praticamente todos os dias a treinar com o seu mestre. E talvez seja esse o segredo. Já lá vão mais de 5 anos de relação e os frutos colhidos têm sido muitos. Mas tudo começou de forma fortuita, ainda nos campeonatos regionais, depois de ter começado a surfar com 9 anos em Quarteira, de onde é natural, e de posteriormente se ter mudado para Portimão em busca de evolução. “Quando comecei a surfar tive os meus primeiros instrutores, que me ensinaram as bases. Era uma escola basicamente de iniciação e como não conseguia evoluir mais mudei-me para Portimão para ver se evoluía. [Pausa na entrevista para Yolanda festejar efusivamente um tubo incrível apanhado por Luís Perloiro nos quartos-de-final do Bom Petisco Cascais Pro]. Em Portimão havia atletas com mais experiência, que vinham com regularidade aos campeonatos nacionais. Ia lá todos os fins-de-semana, mas como ainda era um pouco longe e tinha de apanhar sempre o autocarro comecei a gastar um pouco de dinheiro com as deslocações e isso era algo que não tinha muito”, lamenta.

    “Em Portimão também sentia que não estava a evoluir o que podia e que não tinha alguém que puxasse por mim a sério. Sou muito casmurra e preciso que alguém direcione isso para algo positivo. Foi isso que o John fez por mim. Conheci-o num campeonato regional. A minha mãe começou a falar com a mulher dele, que me apresentou ao John. Na altura faziam um summer camp, onde ficávamos durantes os meses de Julho e Agosto e só vínhamos a casa aos fins-de-semana. Surfávamos quatro vezes por dia, passávamos o dia na praia e, essencialmente, divertíamo-nos. Fiz isso dois anos, mas depois deixaram de fazer o summer camp. Quando isso aconteceu passei a ir surfar mais constantemente com ele. [Mais uma pausa, desta vez para ouvir que o tubo de Perloiro foi um 9,75, sendo que para Yolanda teria sido um 10]. Todos os fins-de-semana ia de autocarro para Sines para surfar e treinar e só voltava no domingo à tarde para ter aulas na segunda-feira. Foi difícil gerir isso tudo, especialmente, porque começava a ser muito dinheiro, todos os fins-de-semana 15 euros para ir e mais 15 para voltar”, recorda-nos.

    É, então, que termina a escola e decide apostar tudo na carreira de surfista, mudando-se de malas e bagagens para o Pig Dog Surf Camp, de John. “Quando acabei a escola tomei a decisão de ficar a viver lá. Já tinha um quarto meu, onde dormia quando lá ficava. Passei a ir a casa somente alguns dias de mês a mês, até porque era difícil conjugar os campeonatos nacionais e internacionais e ainda ter tempo para treinar”, assevera Yolanda. Mas apesar das dificuldades, os resultados começaram a falar por si. Também por culpa do local eleito para viver e treinar. Um dos menos explorados da nossa costa, mas que, segundo a campeã nacional, é o ideal para evoluir.

    “Gosto muito do Algarve, mas na minha opinião Sines, em termos de ondas, é muito melhor. Tem todo o tipo de ondas que queremos. O meu sítio preferido depende sempre das condições, mas, por exemplo, ainda há pouco tempo estive a surfar altas ondas no Malhão. Estava sozinha com o John na água. O que é que posso pedir mais? [risos]. Em 20 quilómetros de costa temos beach breaks, reef breaks, point breaks, ondas grandes, ondas pequenas, ondas melhores com maré vazia, outras com maré cheia, tubos... Há tudo o que é preciso para um surfista evoluir em todo o tipo de ondas. Essa é uma das razões para não sentir medo quando o mar está grande. Por exemplo, estas condições que estão aqui em Carcavelos, para mim é o mais divertido que há. Ainda hoje estive sozinha no mar por volta das 6 horas a apanhar tubos. Só depois é que entrou mais gente”, prossegue.

    "A única coisa que me falta é apoio financeiro. Que mais posso fazer? Estou a tentar fazer tudo o que posso para mostrar que vale a pena apoiarem-me".

    No entanto, nem só de perfeição se faz a vida de uma campeã. Isto porque Yolanda admite que John Tranter e a família são mesmo o único apoio que tem. “Basicamente, consegui competir no estrangeiro com os prize-moneys que ganhei na Liga MEO Surf. Quase todas as despesas foram pagas com esse dinheiro. Tive uma ou outra ajuda, sobretudo da minha família, mas nada de extraordinário. Julgo que antigamente, como não estava tão focada, não merecia apoios tanto quanto acho que mereço agora. Sou a rapariga que aparece às 5 da manhã na praia para ir surfar e que mais vezes vai para dentro de água durante um dia. Faço mais exercício físico que qualquer uma e mesmo assim, mesmo que peça e envie currículos, as marcas não avançam e não querem apostar em mim. A única coisa que me falta é apoio financeiro. Que mais posso fazer? Estou a tentar fazer tudo o que posso para mostrar que vale a pena apoiarem-me”, assevera a surfista algarvia.

    “Sempre disse que o meu principal objetivo é ser a primeira campeã mundial de surf portuguesa. Essa é a minha grande prioridade. Quando era jovem e comecei no surf ainda não tinha o foco que tenho atualmente. Cresci e amadureci muito nesse aspeto nos últimos anos. Agora, sei bem o que é preciso abdicar para as coisas acontecerem. Tenho dado tudo de mim a surfar para mostrar essa evolução. Tenho feito muitos treinos físicos e tenho quebrado as rotinas que seriam normais numa pessoa da minha idade, que passam por sair com os amigos, beber bebidas alcoólicas, etc.. Isso não acontece comigo. Acordo tão cedo que às 21 horas já estou pronta para ir dormir. Não tenho tempo para esse tipo de coisas. Não bebo e, para mim, os atletas não podem beber álcool. É algo incompatível. Se beberes não vais conseguir ter uma performance ao teu melhor”, aponta Yolanda.

    Longe da família, especialmente do sobrinho de três anos que vê apenas mês a mês, Yolanda Sequeira tem de abdicar de muita coisa para estar onde está, mas assegura-nos que os amigos, os poucos mas verdadeiros que tem, compreendem todos os esforços que faz. Contudo, Yolanda admite, com alguma relutância pelo meio que já se deixou ir abaixo mentalmente em algumas ocasiões, aproveitando para colocar o dedo na ferida.  “Não queria muito especificar as situações, mas em certos momentos, no passado, sim, cheguei a colocar tudo em causa”, diz, antes de apontar alguns exemplos.

    “Quando acho que os resultados não são justos, tanto em Portugal como a nível internacional, acontece isso. Obviamente, que quando abdico de tudo, dou tudo de mim e as coisas não acontecem por causa de uns pontinhos… E depois uma pessoa qualquer que não abdica tanto como eu, tem uma vida muito mais fácil do que a minha, em termos de patrocínios e tudo, e passa o heat. Eu dou tudo e não tenho dinheiro. Quando dou o máximo e não sou valorizada por isso é algo que quebra a minha confiança”, reitera a jovem surfista. Felizmente para Yo, há alguém que está sempre atrás de si. “Nesse aspeto o John puxa muito pelo meu lado psicológico. Ajuda-me a ganhar a confiança que necessito e que já deveria ter automaticamente”, remata.

     

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