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  • Surf australiano em crise! Seca de títulos e falta de referências
    24 julho 2019
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  • Desde que se luta por um título mundial que a Austrália já conquistou 18 canecos, mais do qualquer outra nação. Mas vai para o sexto sem o conseguir...
  • Uma rápida olhadela para o ranking do Worl Tour 2019 basta para perceber que o surf competitivo australiano não atravessa o melhor dos momentos. Faltam resultados, mas, acima de tudo, referências aos aussies. Apesar de ter nascido no Havai, depois da passagem de Duke pelo Down Under, foi por lá que o surf se alastrou como um desporto convencional. Sendo por isso natural que esta questão tenha virado assunto não só na imprensa especializada, como também nos diários australianos, que já questionam a falta de forma dos surfistas do país dos cangurus.

    Ora, com apenas dois 3.ºs lugares para amostra – de Ryan Callinan em Bells Beach e Julian Wilson em Margaret River -, após seis etapas em 2019, o surf australiano vive dias difíceis, estando praticamente arredado da luta pelo título mundial deste ano. Callinan e Julian são mesmo os únicos a estar no top 10, mas são, precisamente, os surfistas que o fecham. O vice-campeão mundial de 2018 está já mesmo a mais de 15 mil pontos de distância do líder Kolohe Andino.

    Um cenário que deixará a OZ pelo sexto ano consecutivo sem vencer o principal troféu do surf mundial. É certo que não é o maior período de seca já vivido pelos australianos num passado recente, pois a viragem do século, com o domínio de Kelly Slater e Andy Irons, foi devastadora para as contas australianas. Contudo, nunca estiveram eles tão longe do topo, pois nesses anos conseguiam, praticamente, entrar sempre na disputa.


    De forma surpreendente, Ryan Callinan é o melhor australiano no ranking a meio do ano, estando no 9.º lugar.

    Desde que se luta por um título mundial que a Austrália já conquistou 18 canecos. Mais do qualquer outra nação, inclusive os Estados Unidos, que conta com os 11 de Slater, e o Havai. Aos três mais recentes de Fanning e ao de Parko, juntam-se ainda os históricos quatro de Mark Richards; os dois de Tom Carroll e de Damien Hardman e o de Barton Lynch, na década de 80; o de Wayne Bartholomew e o Peter Townend no final dos anos 70; o de Nat Young ainda nos primórdios daquilo que viria a ser o Circuito Mundial e o de Midget Farrelly, que foi o primeiro de todos, em 1964; e ainda o de Mark Occhilupo em 1999, que surgiu a meio de dois períodos de “seca” de 7 anos.

    É outro Occy, capaz de terminar com esta ausência de títulos, que os australianos procuram. Pode ser verdade que ainda faltam mais dois anos para igualar esse duplo registo negro de sete épocas a pão e água, mas nessa altura tudo era disfarçado com os vice-títulos de Shane Powell, Mick Campbell, Luke Egan, do próprio Occy ou de Joel Parkinson, além de um Taj Burrow que nunca chegou ao mais que merecido título mundial.

    Desde que o surf ganhou nome próprio que o pior que a Austrália já fez no circuito foi um 7.º lugar final de Matt Hoy, em 1995. É esse registo que pode estar prestes a cair em 2019. O 5.º lugar de Matt Wilkinson em 2016 era já um aviso para o que poderia vir a acontecer. Certo é que longe vão os tempos em que a Austrália fazia all-in no pódio do final do ano, como em 2009, por exemplo, com Fanning, Parko e Durbidge, ou em 1988 (Lynch, Hardman e Carroll), 1987 (Hardman, Elkerton e Lynch) e 1983 (Carroll, Bartholomew e Cheyne Horan).

    Curiosamente, ou não, este período negro que parece estar a alastrar-se no surf australiano coincide com a saída de cena de nomes lendários do surf aussie. O tricampeão mundial Mick Fanning e o campeão de 2012 Joel Parkinson decidiram retirar-se praticamente na mesma altura, juntando-se a eles outro nome que chegou a lutar por títulos: Bede Durbidge. Ainda que noutro patamar, a “queda” de Matt Wilkinson também não ajudou. Tudo somado, são muitas baixas de uma vez só, sendo por isso natural a ausência de referências no circuito mundial.


    Fanning foi a última grande lenda criada pelo surf australiano, com a sua recente "reforma" a deixar um enorme vazio competitivo nos aussies. 

    A presença australiana no WCT 2019 resume-se a oito nomes, um dos elencos mais reduzidos da história, uma vez que era frequente a Austrália passar dos dois dígitos. Se tivermos em conta que Callinan é um outsider nesta zona do ranking, os destinos australianos ficam apenas entregues a Julian Wilson e Owen Wright - atualmente no 12.º posto. E, apesar de ambos terem sido apontados no início da carreira como futuros campeões mundiais, a verdade é que já estão a chegar aos 30 anos sem sequer terem conseguido confirmar esse prognóstico.

    Julian já foi vice-campeão mundial e 2019 até pode estar a ser apenas uma baixa de forma e Owen tem sido muito marcado pelas lesões, mas a verdade é que são parcos os recursos que garantam um futuro triunfal para a nação da Oceânia. Restam ainda nomes como Wade Carmichael, rookie de 2018, mas já com pouca margem de progressão pela frente, o veterano Ace Buchan, a incógnita Mikey Wright, o estreante Soli Bailey e Jack Freestone, que nunca conseguiu exibir entre a elite o potencial que lhe garantiu dois títulos mundiais juniores.

    Para piorar, três destes nomes estão em zona de saída do WCT. Freestone ainda vai a tempo de entrar no cut, mas Bailey não mostrou grandes atributos até ao momento e Mikey Wright tem estado a contas com uma lesão. Olhando para o WQS há dois nomes apenas em posição de entrada: Matt Banting, que já esteve no Tour, e Jordan Lawler, uma antiga estrela júnior, já a caminho dos 25 anos. Feitas as contas, em 2020 a Austrália poderá ter menos nomes entre o top 34 mundial, mesmo tendo em conta que o WQS ainda pode dar muitas voltas.

    A crise é ainda maior se olharmos para os jovens que começam a despontar. A Austrália continua a fornecer super talentos, mas todos eles sentem dificuldades em adaptar-se às exigências do circuito de qualificação. Jack Robinson é tido como o melhor jovem tube rider do Mundo. O conterrâneo da West OZ Jacob Willcox não lhe fica atrás, mas ambos têm tido dificuldades em qualificar-se para ao WCT. Talvez este ano “Robo” consiga contrariar isso, depois de ter vencido o Volcom Pipe Pro e de ter sido 3.º num QS6000. Mas ainda terá muita luta pela frente.


    Irá Jack Robinson ainda a tempo de contrariar esta tendência?

    Ethan Ewing foi outro nome que cedo brilhou, mas, embora tenha quebrado a barreira do WQS enquanto adolescente, acabou por nem aquecer o lugar na divisão maior. Há também o caso de Reef Heazlewood, que já esta temporada participou como wildcard em duas etapas do WCT, sendo mesmo uma das figuras em Snapper Rocks. No entanto, também tem “batido na trave” na hora de se qualificar pelo WQS. O mesmo aconteceu ao longo dos últimos anos com nomes como Cooper Chapman, por exemplo. Promessas que com o decorrer dos anos vão sucumbindo às expectativas e à dureza de uma carreira profissional.

    É preciso olhar ainda um pouco mais abaixo para tentar encontrar as estrelas do futuro do surf australiano. Nomes como Xavier Huxtable, Kyuss King – também ele com maior evidência no free surf que na competição -, Caleb Tancred, Dakoda Walters ou Joel Vaughan, alguns deles ainda groms, surgem agora em destaque, a dar os primeiros passos internacionais. Mas só o tempo dirá se terão o “arcaboiço” necessário para se tornarem campeões e lendas do surf mundial. Sobretudo, numa altura em que a pressão é muitíssima para a Austrália encontrar respostas à altura do cada vez maior domínio do Brasil neste desporto.

     

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