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- Além de organizarem ações de limpeza, o movimento Plastic Free Uluwatu tenta consciencializar e educar os locais para um problema que ameaça a ilha.
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Apesar das imagens chocantes que nos chegam diariamente de Bali, que mostram um cenário cada vez mais grave de poluição, já começa a existir uma consciencialização sobre esta problemática. Sobretudo por parte do governo local, que decidiu criar leis para tentar combater este flagelo. Os locais também começam a ter mais noção da ameaça que está perante esta ilha paradisíaca. E tudo por “culpa” daqueles que decidiram vestir a camisola em nome de uma causa. Uma dessas pessoas é portuguesa. Tânia Serrano começou por organizar beach cleanups em Uluwatu, mas depressa ajudou a criar o movimento Plastic Free Uluwatu.
O movimento começou a ganhar dimensões, sobretudo pela ajuda que Tânia teve por parte do surfista e campeão local Mega Semadhi. Ambos uniram forças em prol do ambiente, multiplicaram as ações de limpeza nas praias e, acima de tudo, tentaram consciencializar e educar os mais novos, nas escolas locais, para esta problemática que ameaça toda uma ilha. Tânia garante-nos que estão a colher frutos deste trabalho e acredita num futuro melhor, sem lixo a “decorar” as paisagens locais ou plástico e outro tipo de detritos a partilharem o lineup com os surfistas e o areal com os turistas.
“Este projeto começou com um beach cleanup, que organizei pela primeira vez em novembro, através da empresa para a qual trabalhava” começa por dizer Tânia Serrano ao Beachcam. Depois de chegar a Bali em janeiro do ano passado, a ativista ambiental portuguesa não demorou muito tempo em colocar mãos à obra. “Como estava instalada em Uluwatu percebi que não havia nenhuma associação nem ninguém focado na problemática do lixo. Todas as associações ficam noutras zonas. Na altura demorei um mês a organizar um beach cleanup porque apercebi-me que não sabia para onde o lixo ia depois de o apanhar. Contactei várias empresas e nenhuma sabia ou sequer respondia. Também não estava a conseguir ter apoio do governo local, pois aqui as coisas fluem muito devagar”, recorda.
Foi aí que surgiu um contacto que acabaria por dar início a um projeto maior. “Entretanto, soube de um festival que ia haver na praia de Padang Padang com os surfistas locais e foi aí que conheci o Mega Semadhi, que me falou de uma lixeira que existia em Uluwatu. Fizemos o beach cleanup, que correu super bem. A carrinha da lixeira veio buscar o lixo. Mas eu continuei a pensar se o lixo iria ser tratado ou não. Mantive o contacto com o Mega para fazermos mais atividades e fomos também ver a lixeira, para eu poder tirar fotografias - até estava a pensar fazer uma mini-reportagem”, explica-nos.
“Nessa altura acabei por conhecer uma equipa de criativos que viu o que eu estava a desenvolver e decidiu entrar em contacto comigo para fazermos um vídeo para ajudar os locais de Uluwatu. Fomos à lixeira e fizemos, então, o vídeo. Utilizámos o Mega como cara do movimento, uma vez que ele já faz cleanups há três anos e é muito respeitado aqui, porque é dos melhores surfistas em Padang. A partir daí as coisas começaram a fluir mais depressa e começou a haver mais interessados no projeto. Decidimos, então, criar um movimento chamado “Plastic Free Uluwatu”, para poder utilizar este modelo de cleanup e copiar para outras vilas”, descreve Tânia.
Temos outras pessoas voluntárias que se dedicam às escolas, onde levam os miúdos a apanhar o lixo e a explicar-lhe como se deve separar. Já estão a ser desenvolvidos programas para educar as crianças neste sentido. O movimento Uluwatu une voluntários que se querem dedicar a várias áreas e unir forças. Aqui existem muitas associações, mas cada um quer usar apenas a sua t-shirt. Não unem forças. Este movimento quer cortas essas barreiras, de forma a que todos unam forças para uma causa maior.
A presença de Mega Semadhi no projeto tornou-se essencial. E a ajuda acabou por ser mútua. “Entretanto, o Mega não sabia como se fazia ouvir e eu entrei para ajudá-lo. Ele é muito importante porque meteu-me em contacto com os locais e com o governo local. A partir daí comecei a ter contacto direto com eles e eu é que faço toda a parte do marketing e publicidade. Estamos a criar um movimento chamado “Adopt a Bin”, cuja ideia passa por ter todos os restaurantes e hotéis aqui a adotarem um caixote público. Isto porque os caixotes de lixo foram todos doados às famílias pelo governo, para que estes possam juntar dinheiro para sustentar a lixeira de Uluwatu, que só tem um ano”, refere-nos.
“Contudo, isto é um processo complicado porque a lixeira não é conhecida e a maior parte do lixo acaba numa lixeira ilegal - ninguém sabia do conhecimento da outra. Neste momento, estamos a angariar fundos para tentar melhorar as condições da lixeira pública, que conta com 20 trabalhadores a trabalhar todos os dias, que nem luvas de plástico têm… O problema é que o governo devia ajudar mais a lixeira legal de Uluwatu, mas não ajuda no sentido de o dinheiro que devia ir para a lixeira não estar a ser bem aplicado. Não existe um sistema de recolha eficiente, têm uma carrinha grande e outra pequena para chegar a uma vila inteira. Imaginem isso para chegar a Cascais inteiro… É insustentável. Eles precisam da ajuda dos estrangeiros, porque só a ajuda local não é suficiente. Fizemos este movimento também para tentar chegar ao máximo de pessoas e tentarmos termos investimento estrangeiro para ajudar a lixeira”, frisa Tânia.
Apesar de a situação parecer insustentável, Tânia Serrano acredita que tudo irá melhorar em Bali. “Vai melhorar, apesar de os locais não estarem muito cientes do problema, pois sempre utilizaram coisas orgânicas. A ideia do deitar fora não era errada, pois utilizavam o que vinha da natureza e apenas o devolviam. Com a chegada do plástico eles não veem mal em deitar fora, porque pensam que aquilo se vai desintegrar da mesma forma que a matéria orgânica. As pessoas não têm tanta consciência disso, sobretudo os mais velhos. Os mais novos, como os surfistas, por exemplo, já começam a ganhar consciência, porque não é nada engraçado estar a nadar com sacos de plástico e pacotes de noodles à volta. São eles que organizam mais cleanups aqui pela ilha”, salienta.
“O mais complicado neste momento é realmente educar os mais velhos. Já se vê o próprio governo a tomar medidas contra o uso de plástico e todos os restaurantes e hotéis têm 6 meses para restruturar isso. Depois serão aplicadas multas a quem não cumprir com isso, o que penso ser uma boa medida e um avanço. Bali não vai deixar de ser o paraíso que é se todos começarmos a tomarmos medidas. De dia para dia há mais associações e pessoas a unir esforços contra este problema. Cada vez mais sou contactada por outras associações que querem unir forças. Só é pena que a maioria delas não sejam locais, mas acredito que daqui a pouco tempo as coisas irão mudar. Até porque o governo já começa a sentir pressão da imprensa estrangeira. Penso que seja até mais por isso que eles estão a adotar estas medidas contra a poluição”, aponta a ativista portuguesa.
Em relação ao turismo massivo que está a invadir a ilha, Tânia justifica que, apesar disso ter potenciado a situação de poluição, o próprio turismo também irá servir de ajuda par resolver o problema. “O turismo foi um grande potenciador deste problema, sim. Mas neste momento o turismo está a ser a grande ajuda para combater este problema. Porque os estrangeiros que cá vêm e se apercebem do problema ajudam a limpar as praias. Já se vê pessoas a limpar as praias antes de irem embora, o que é bom porque os locais vêm isto e acaba por ser uma forma educacional para eles. Mesmo que os beach cleanups não sejam eficientes no sentido de não sabermos para onde o lixo vai, e muitas vezes acabar por voltar à praia, pelo menos os locais vêm aquilo que estamos a fazer. Maior parte do lixo está à beira da estrada ou na parte de trás dos hotéis, é um nojo. Mas eles já começam a perceber que é errado o que estão a fazer. Mas já há locais, como o Mega, a expor e denunciar estas situações nas redes sociais”, frisa.
Tânia Serrano reforça que a “reação dos locais de Uluwatu é bastante positiva” em relação ao projeto. “Sinto um grande apoio da parte deles e muitas vezes agradecem-me, porque não conseguem fazer isto sozinhos”, argumenta. Apesar de ter deixado de trabalhar para a empresa que lhe permitiu ter começado tudo no ano passado, Tânia decidiu continuar por Bali e manter de pé o projeto. “Entretanto, a empresa em que eu trabalhava foi à falência, mas decidi continuar este projeto sozinha, porque já o tinha começado. Tudo começou a ganhar maior proporção e a minha grande motivação foi ter os locais a apoiarem, vendo o projeto a ganhar forma e tendo cada vez mais pessoas a vir ter connosco a dizer que querem ajudar. Só por isso já vale a pena”, conclui.
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FotografiaDR Tânia Serrano
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FonteRedação
