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- Versões contraditórias num caso que ocorreu na Nova Praia e que já chegou às redes sociais…
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Durante os primeiros dias da presente semana ficou viral nas redes sociais um texto, em tom acusatório, divulgado pelo surfista Rodrigo Miranda. O acusador, de nacionalidade brasileira, alega ter sido vítima de xenofobia por parte de um instrutor de surf durante uma sessão na Nova Praia, na Costa de Caparica. “Durante uma sessão de surf na Praia Nova fui vítima de um ataque de xenofobia por um instrutor de uma escola de surf daquela área”, escreveu. Palavras que geraram, prontamente, imenso “burburinho” na comunidade surfista.
Em exclusivo ao Beachcam, o acusado defende-se, negando grande parte da teoria exposta por Rodrigo Miranda. Apesar de admitir ter utilizado a expressão de que o surfista se queixa – [“vai mas é para a tua terra”], garante que não o fez de forma pejorativa, mostrando-se ainda escandalizado pela forma como tudo foi exposto nas redes sociais. Até porque garante que agiu sempre de forma calma, na tentativa de elucidar Rodrigo acerca das leis. “Foi uma situação surreal. Dou aulas há 8 anos e nunca me tinha acontecido tal coisa”, afirma Nuno Farinhas.
Num email que fez chegar à redação do Beachcam, Rodrigo Miranda descreveu o sucedido: “Estava com minha malta a surfar quando o dito instrutor entrou no mar e logo aí causou algum desconforto às pessoas que ali estavam, uma vez que gritava agressivamente com aqueles que remassem nas ondas dos seus alunos. É um facto que as escolas pagam concessões para poder estar ali e ter prioridade sobre as ondas. Porém a mesma concessão é passível de bom senso, pois se considerarmos que os alunos eram iniciantes e nem sequer faziam bem os take off's, mais valia levá-los para uma zona lateral mais tranquila, tendo em conta que o spot que ele escolheu estava crowdeado e isso poderia gerar perigo para os alunos e para os outros praticantes que ali estavam”.
"Quando as condições estão boas e há lá muita gente a divertir-se eu não vou lá colocar a malta da escola. A ideia passa por criar uma harmonia para que todos se divirtam" - Nuno Farinhas
Contudo, Nuno Farinhas tem uma versão diferente e explica-nos que também sentiu energia negativa vinda do outro lado. “Vou para começar uma aula com dois alunos - a maré estava a descer e quase já vazia - e fiquei a tentar perceber qual o melhor sítio para levar os alunos a passarem um bom momento e divertirem-se. Nós temos uma licença para operar na praia, num corredor específico. Curiosamente, na Nova Praia há um pico muito engraçado, com uma esquerda e uma direita, que por acaso fica mesmo dentro da área onde foi atribuída a licença à escola. No entanto, quando as condições estão boas e há lá muita gente a divertir-se eu não vou lá colocar a malta da escola. A ideia passa por criar uma harmonia para que todos se divirtam”, frisa o instrutor que é a parte acusada da história.
“No entanto, neste dia vi o senhor que mais tarde faria a acusação - o qual nunca tinha visto -, a entrar na água com um grupo organizado de pessoas. A maré estava a vazar e a minha única alternativa era ir para um pico mais à esquerda. Mas naquelas condições, com pouca água, esse pico oferecia um surf medíocre. Dessa forma, resolvi ir mais para o cantinho da zona da licença para estar ali a empurrar os meus alunos. Alunos que já estão no nível 2 e já fazem qualquer coisa. Cheguei ao pico e disse a eles para ficarem naquele cantinho. Até porque senti uma energia um pouco caótica por parte desse grupo”, relembra Nuno.
"Remei para perto dele e começámos ali uma acirrada discussão. Os meus amigos, que estavam na água, aproximaram-se para perceber o que se passava. Nesse momento, o instrutor aproxima-se de mim e lança a prancha na minha direção" - Rodrigo Miranda
Foi então que terá acontecido o desentendimento no qual Rodrigo se queixa de ter sido, inclusive, agredido com uma prancha. “Apanhei uma esquerda e quando já estava a surfar a onda o instrutor empurrou a aluna na onda. Ainda consegui desviar-me e não atingi a jovem. Saí da onda e olhei seriamente para o instrutor, que veio de imediato gritar comigo, dizendo barbaridades como: ‘volta mais é para a tua terra’. Remei para perto dele e começámos ali uma acirrada discussão. Os meus amigos, que estavam na água, aproximaram-se para perceber o que se passava. Nesse momento, o instrutor aproxima-se de mim e lança a prancha na minha direção. Por sorte era uma softboard e não me machucou”, pormenoriza o surfista. Uma situação que Nuno Farinhas nega veementemente. “Não é verdade que lhe tenha atirado a prancha. Pode ter sido um movimento com o balanço do mar, que lhe tivesse tocado. Mas era uma softboard, nem sequer tem bico. Falei sempre calmamente com ele”, garante-nos.
O instrutor também recorda a onda dividida pela aluna e pelo acusador, mas tem uma versão diferente sobre o início da discussão. “Vem uma onda e dei uma ajuda à aluna para apanhá-la. Ela levanta-se, começa a surfar e de repente ouço alguém a falar muito alto. Era o tal senhor da acusação, que já vinha a surfar há alguns metros naquela onda. Ele foi ter com a aluna a levantar os braços e numa atitude muito intimidadora. Quando vi aquilo dirigi-me a ele. Pedi desculpa e expliquei-lhe que ele estava numa zona de escola, frisando que estávamos um pouco mais no canto dessa zona para todos poderem estar a divertir-se. No entanto, pedi apenas para que quando os meus alunos fossem numa onda, eles apanhassem outras. Quando digo isto o senhor em questão fica muito excitado, começa a falar aos berros e dirige-se para os amigos com o fim de querer criar conflito. Entretanto, olhei para a minha aluna e ela estava assustada. Continuei a dizer que aquela zona era de escola e existia uma licença. Penso que ele não me ouviu, pois continuava a falar muito alto”, diz Nuno.
A versão de Rodrigo confirma a presença dos amigos depois do episódio da prancha. “Os meus amigos aproximam-se e começam também uma discussão com o instrutor, que insistia que aquela parte pertencia somente à escola, mostrando ali que continuaria a sua saga de agressividade para com os outros surfistas. Após o ataque de xenofobia e a agressão, remei para perto do instrutor, a fim de receber pelo menos um pedido de desculpa pela infeliz declaração, que veio a acontecer de forma desdenhosa e hostil, como quem obviamente não estava interessado em se desculpar”, alega Rodrigo Miranda.
"Ele manteve-se agarrado ao conflito e eu fui ter com os meus alunos. Mas o senhor não me largava, sempre a picar e a dizer que queria falar, mas para criar conflito" - Nuno Farinhas
A versão do instrutor volta a ser diferente daquela que o surfista apresenta. Nuno repete que esteve sempre calmo, ao contrário da outra parte envolvida nesta história. “Ele, entretanto, ficou super revoltado, a perguntar se quando a escola entrava mais ninguém podia apanhar ondas. Eu expliquei-lhe que não tinha dito isso, apenas que estava numa zona de escola e que tínhamos de ser condescendentes uns com os outros. Ele manteve-se agarrado ao conflito e eu fui ter com os meus alunos. Mas o senhor não me largava, sempre a picar e a dizer que queria falar, mas para criar conflito. Eu virei-me para ele e pedi-lhe, por favor, para me deixar trabalhar, porque ele não estava bem a perceber a situação e nem sequer me ouvia. Chegou a um ponto em que deixei de falar porque nem valia a pena estar a gastar o meu latim. Acho que ele ficou ainda mais chateado por causa disso. Até que chegou a um ponto em que lhe disse para me deixar trabalhar e saiu-me um ‘vai lá para a tua terra’. Mas não foi de forma pejorativa. Como disse ‘terra’ poderia ter dito outra coisa qualquer, nem sequer estava a pensar no Brasil”, argumenta.
“Já tenho muitos anos disto e sei o que funciona e não funciona, não há nada para inventar. Penso que ele ficou ofendido por estarmos a aproveitar aquele espaço onde há mais potencial de surf. Quando entrei até olhei para eles e percebi que tinham nível de surf, logo, quando temos experiência até devemos tentar dar o exemplo para com os iniciados. Mas, infelizmente, não é isso que acontece”, lamenta Nuno Farinhas, sobre uma prática que diz ser recorrente.
Além da acusação publicada nas redes sociais, Rodrigo garante que apresentou queixa na polícia contra o instrutor e a escola. Nuno revela-nos que ainda não foi identificado e que se tal acontecer irá falar com o advogado. “Fiquei escandalizado pela forma como alguém vai denegrir o meu nome e da minha empresa para as redes sociais. Eu tentei explicar-lhe o que se passava, mas depois ele começou a querer intimidar-me com o grupo dele. Estamos a falar de alguém que não sabe como funciona a lei, nem tem a humildade de querer saber. Eu por ter uma licença na praia não significa que seja o dono do mar. Até tento colocar os meus alunos longe do crowd e de onde está nível de surf. Mas neste dia as condições não davam alternativas, tivemos de ficar no cantinho. Depois aconteceu isto. Ainda para mais, estando eu legal. E, a meu entender, este senhor também estava a prestar um serviço àquele grupo, mesmo sem possuir qualquer documentação legal. Até porque soube que ele está ligado a empresas de surf”, aponta Nuno.
O surfista lamenta ainda que estas situações aconteçam com instrutores. “Uma questão igualmente importante que devemos atentar é o facto de iniciantes da modalidade estarem entregues nas mãos de instrutores sem formação pedagógica adequada. Além de ensinar a remar e a fazer um take off, é importante que o instrutor seja o exemplo de respeito dentro de água. Felizmente, os alunos que estavam com ele eram adultos capazes de filtrar aquela situação e perceber que aquilo não era uma postura adequada para um professor de surf e muito menos para um surfista”, assevera Rodrigo.
"Sinto que ele quer-me acusar e prejudicar e isso não é correto, sobretudo porque não tem, de todo, razão, nem sabe do que está a falar. Quem me conhece sabe que sou profissional e não preciso de trabalhar na ilegalidade" - Nuno Farinhas
“Tive azar com isto tudo, sobretudo pela publicidade negativa para com a escola e pelas proporções que isto tomou. Isto é mais prejudicial para o meu lado. Sinto que ele quer-me acusar e prejudicar e isso não é correto, sobretudo porque não tem, de todo, razão, nem sabe do que está a falar. Quem me conhece sabe que sou profissional e não preciso de trabalhar na ilegalidade. Existe uma lei e há muita gente que não a conhece e pensa que a razão é toda deles. Apesar de tudo, já sei como são estas coisas e mantive a calma. Correu bem, eles apanharam mais ondas e divertiram-se, mesmo com ela aquela energia negativa que estava presente”, frisa o instrutor, antes de acrescentar que “há muita coisa” que Rodrigo Miranda não disse. Principalmente o facto de, aparentemente, o desaguisado ter ficado resolvido logo ali na praia, antes de a acusação ter surgido nas redes sociais. “Tudo acabou com um aperto de mão entre nós”, assegura-nos Nuno.
Independentemente de sabermos de que lado está a razão – e não nos cabe a nós julgar isso - este é um exemplo que pode muito bem ser extrapolado para realidade vivida em toda a nossa costa, onde é importante que a lei e o bom senso estejam de mãos dadas.
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FonteRedação
