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- Um negócio que pode fazer circular qualquer coisa como 1600 milhões de euros. Mas que também está a destruir, sem retorno, um dos maiores tesouros da Ria Formosa.
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A Ria Formosa, no Algarve, já albergou, em tempos, a maior comunidade de cavalos-marinhos do Mundo. No entanto, o cenário atual mostra-nos uma triste realidade. Os cavalos-marinhos estão mesmo em risco de extinção no Algarve. Tudo por culpa do tráfico ilegal para a China. Uma reportagem publicada no passado fim-de-semana o jornal semanário “Expresso” alerta para a situação.
Durante um mergulho de 30 minutos numa área de 240 metros quadrados, no Canal de Faro, o biólogo Miguel Correia encontrou apenas um cavalo-marinho. Leu bem. Um! Há cinco anos, durante a pesquisa para o doutoramento sobre as duas espécies existentes no Parque Natural da Ria Formosa, contabilizou naquele local, em frente ao cais comercial, dezenas de exemplares. “É uma depressão, um desânimo inexplicável”, comenta. É este o mote para a reportagem levada a cabo pelo “Expresso”.
Miguel Correia repetiu o exercícios 15 vezes, tantas quantas as zonas de amostragem analisadas para o censo populacional, realizado no primeiro semestre de 2018, pelo investigador do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve. Em 8 dos 15 mergulhos não teve qualquer registo de cavalos-marinhos. Em quatro dos outros locais registou apenas um ou dois animais.
Nos restantes locais, os números variaram entre os cinco e um máximo de 21. No total, nos 3800 metros quadrados de área protegida que perscrutou pessoalmente só contabilizou 40. Números desoladores e preocupantes, sobretudo se tivermos em conta a quantidade de cavalos-marinhos que ainda há bem pouco tempo ali existiam.
Registou-se uma diminuição de cerca de 80 por cento da população de cavalos-marinhos da região, em relação ao censo de 2012. Um cenário que coloca a espécie em risco. A maior comunidade do mundo foi praticamente devastada, reduzida a um mínimo tão baixo que, nas condições atuais, pode já não assegurar a reposição.
A estimativa aponta para que atualmente não restem mais do que 155 mil cavalos-marinhos na Ria Formosa. Em seis anos desapareceram quase 600 mil. O cenário é ainda mais devastador quando comparado com 2001, altura em que a investigadora canadiana Janelle Curtis descobriu que em mais nenhum lugar havia uma população tão numerosa: eram então 1,3 milhões.
Como? Tráfico ilegal para a China. “Os rumores de que havia captura ilegal para o mercado asiático, de centenas de indivíduos diariamente, e de que se vendiam cavalos-marinhos secos a cinco e 10 euros a unidade já eram há muito uma certeza. Mas o pior é que essa prática continua. É feita de uma forma brutal, por arrasto de vara, em que um barco arrasta uma rede fina que apanha tudo por onde passa. Os cavalos-marinhos são sedentários, vivem em áreas de 100 metros quadrados e os arrastos são sempre superiores a isso, dizimando totalmente os locais. Os que não são apanhados ficam isolados, reduzindo a possibilidade da reposição da população. E, além de levar os cavalos-marinhos, a rede destrói as pradarias impossibilitando o regresso da espécie. Durante os mergulhos é visível o desaparecimento de largas extensões de ervas marinhas. Fica só lama, sem locais onde os cavalos-marinhos se agarrarem”, relata Miguel Correia ao Expresso.
As denúncias também chegaram ao Serviço de Investigação Criminal da Polícia Marítima. O inquérito foi aberto há poucos meses mas o Expresso avança que já foi possível identificar um “esquema de tráfico em rede, extremamente lucrativo, a operar em Olhão e com ligações ao oriente e a Espanha”, e um modus operandi que se repete, independentemente dos intermediários e mandantes. O valor das encomendas subiu nos últimos tempos devido à escassez de cavalos-marinhos, o que pode aliciar ainda mais pescadores para o crime.
O negócio terá começado há cerca de três anos, quando começaram a aparecer na zona compradores orientais de pepinos do mar, um invertebrado da família da estrela-do-mar apanhado aos milhões para satisfazer a procura de chineses e japoneses que lhe atribuem, na versão seca e sem vísceras, poderes medicinais perto do milagre: desde a cura do cancro do cólon à da artrite, da impotência à fadiga. Para se ter noção um quilo de cavalos-marinhos pode valer cerca de 4 mil euros.
Um negócio que pode fazer circular qualquer coisa como 1600 milhões de euros. Mas que também está a destruir, sem retorno, um dos maiores tesouros da Ria Formosa.
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Fonte: Expresso
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