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  • Massimiliano Mattei em entrevista
    19 novembro 2018
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  • O 4º classificado a nível mundial em Surf Adaptado em entrevista ao SCV a menos de um mês dos ISA World Adaptive Surfing Championship.
  • A menos de um mês para o ISA World Adaptive Surfing Championship, o surfista adaptado Massimiliano Mattei fez a preparação para o campeonato no CAR Surf De Viana.

    Numa entrevista ao Surf Clube de Viana (SCV) o quarto classificado a nível mundial (em Surf Adaptado) fala de surf, carreira, vida, novos projetos e objetivos para o futuro do surf na Itália, partilhando o melhor de si. Para ele não há limites, apenas desafios. Ele não se esconde atrás da cadeira de rodas que o acompanha e o seu principal objetivo é o de partilhar o “stoke” que o faz surfar.

    Quantas vezes já estiveste em Viana?

    Esta é a terceira vez. A primeira vez que cá estive for por causa de um Projeto Europeu, de Erasmus+, organizado pelo SCV, pela Play&Train [ES] e pela Happy Wheels [IT]. Juntámo-nos em Viana para fazer avançar este projeto. O primeiro passo foi aqui, depois descentralizamo-nos para Fuerteventura. Foi um projeto muito importante para todas as associações, porque estávamos a desenvolver o futuro do Surf Adaptado juntos.

    O teu nome é já bem conhecido e reconhecido no meio do Desporto Adaptado. Qual foi o primeiro prémio que venceste, qual deles é o teu favorito?

    O primeiro foi em La Jolla (San Diego/USA), quarto lugar. Foi uma conquista importante porque competi contra um Surfista de nível muito alto, com a mesma deficiência, mas com um tipo de incapacidade diferente. Considero-me um D4-D5, falando de dano na coluna espinal, e, uma vez que não há número suficiente de atletas, não há subdivisões, então competimos todos juntos. Esperemos que, no futuro, haja mais Surfistas adaptados a Surfar a minha categoria, e aí consigamos dividi-los pelo tipo de dano na coluna espinal. Já fiz também o primeiro, segundo e terceiro lugares em “Adaptive Prone”, sem assistência, na categoria de lesão espinal muito baixa [vértebras C4, C5...] e incompleta. Neste momento, faço-me adaptar à prancha de Surf para compensar a minha incapacidade.

    Foi um acidente?

    Foi um acidente em 2005, nas Filipinas... A conduzir uma mota para “voar”, e se voei!?… Bati com a cabeça, e tudo aconteceu. Estava numa altura ótima da minha vida. Estava lá em trabalho. Quase casei… O futuro estava a parecer muito bom para mim… Estava com o meu melhor amigo, um italiano. Estávamos a planear abrir uma Surf House nas Filipinas. O acidente veio, e as coisas, realmente, acabaram diferentes na minha vida... Tive de voltar para Itália, e, a partir daí, a vida começou de novo… Tive o acidente com 27 anos.

    Então já surfavas antes?

    Sim. Comecei a Surfar aos 16 anos, ainda em Itália, e depois, por sorte, mudei-me para as Filipinas aos 20, onde tive o meu primeiro encontro real com o oceano, com um ambiente e uma envolvência totalmente diferentes. Então aproveitei mesmo o Surf lá, na altura em que ainda estava bastante inexplorado. Desfrutei mesmo do “feeling” do Surf. Tinha um bungalow na montanha, desfrutava do oceano e da beleza das Filipinas… Ainda acredito que é um país inexplorado para o Surf. Algumas partes já não o são, mas noutras consegues ter o teu “Surfing spot”.

    Quem é que te “apresentou ” o surf?

    Um amigo ainda em Itália. Eu era jovem, devia ter 16 anos, talvez 15. Ele era um Surfista muito bom, da mesma idade que eu. Ele já tinha experiência e deu-me uma prancha de graça… Na altura, ainda nem tinha “leash” para ter mão na prancha. Eu acho que me lembro de ter sido algo tipo: “Hey Massi! Queres ir Surfar?” E eu fui, “ ‘bora”, e ele passou-me a prancha. A minha mãe não gostava da ideia de me ver “dropar” ondas e a entrar no Surf. Na altura, eu jogava basquetebol e tinha escola… Ia Surfar às escondidas da minha mãe, esgueirava-me da escola.

    Depois de começares a surfar, quanto tempo levou até começares a competir?

    Tive a primeira hipótese de competir em Cloud 9 nas Filipinas, no Open Quiksilver, mas não o fiz porque a Cloud 9 é uma onda muito difícil de Surfar. Olhei para mim mesmo e disse: “se calhar ainda não estás pronto para competir”… Estou mais virado para o free Surf do que para a competição.

    Porquê free surf?

    Porque me sinto livre, não tenho limitações, sou livre quando estou na água, posso decidir quanto tempo e que tipo de prancha uso, porque estou com amigos, porque não há “cronómetro”. É simplesmente ser parte do oceano, sentir os elementos… Então quando Surfei na minha primeira competição, há três anos em La Jolla, fi-lo porque acho que é importante levar o desporto ao degrau paralímpico, e quis fazê-lo acontecer para os que virão.
    O desporto é importante, quer seja Surf ou basquetebol, qualquer desporto é importante. Acredito que o Surf em competição, especialmente no mundo do desporto adaptado, é para elevar ao próximo patamar, como os Jogos Olímpicos, e isso vai dar uma janela de oportunidade muito grande para pessoas com trauma como eu. Vai ser um objetivo para alguém se desafiar a si mesmo e porque não conseguir uma medalha!? E partilhar o Surf em competição… Acho que é importante. Acredito que há muita gente que gosta de ser competitiva, então isto é importante para que vejam um caminho que possam tomar como seu. Mas primeiro tens de aprender a ser um free Surfer… Definitivamente. Só depois podes decidir se és uma pessoa ou um atleta competitivo ou não.

    Vives em busca da melhor onda ou focas-te mais na promoção do desporto adaptado?

    Estou mais concentrado na promoção do desporto. Como te disse, tenho 42 anos, e procurar a onda perfeita é importante para mim. Pois é algo que te faz viajar, conhecer novos locais, que potencia o teu crescimento pessoal e torna-te num melhor Surfista. Mas, acho que a partilha é uma das coisas mais importantes que podes fazer. Se tens algo para ti, é importante mostrá-lo e dá-lo aos outros.

    Então é essa a tua motivação?

    Porque acredito que ao dar algo, de alguma forma, algo volta para ti, mesmo que não seja consequência direta do que tenhas feito ou por causa do que tenhas dado. É importante partilhar. Eu partilhei com o grupo que esteve aqui há sete dias atrás [no Centro de Alto Rendimento de Surf de Viana do Castelo]… E tenho a Chantal e o Matteo, novos Surfistas adaptados, que se envolveram no Surf porque eu partilhei a minha experiência com eles. Acho que é impressionante vê-los aqui, 10 dias seguidos a evoluir. É algo que não consegues ver tão facilmente em Itália, porque as ondas são mais raras, e nem desta forma porque depois de uma sessão tem de passar uma, talvez duas semanas de espera para a sessão seguinte e para ver uma pequena evolução. E aqui, ao terem Surf constante consegues ver a evolução, o “feeling”, a excitação para entrar na água a crescer neles. E levar pessoas “adaptadas” a Surfar, do zero, sem qualquer background prévio, não é fácil sem ondas todos os dias. Não é fácil fazer pessoas “adaptadas” começarem a Surfar, porque elas não tem qualquer background. É fácil partilhar mas é difícil dar-lhes aquele “stoke”, aquela sensação que as faz adorar este desporto, mas eu não desisto.

    Porque decidiu a tua equipa italiana vir “estagiar” no Centro de Alto Rendimento de Surf de Viana do Castelo?

    Porque da primeira vez que vim, adorei o Clube, as pessoas, o João, o Marco, o Tiago, o Loic, o Gonçalo, tu e todas as outras pessoas a trabalhar cá. Sinto-me em família sempre que venho cá, encontro tudo o que preciso aqui, mesmo que não seja a competir, tens tudo cá. Tudo o que precisas para adorar Surfar, a praia é tão perto, e sem “crowd”. Tudo é acessível à cadeira de rodas, toda a estrutura é muito boa. E eu acho que o que faz a diferença entre este e outros lugares é as pessoas “dentro da casa”, o grupo que trabalha aqui é o que faz a diferença…

    Portanto sentes-te em casa em Viana?

    Sim, até comecei à procura de casa para a minha mãe e para o meu padrasto, porque eles gostavam de vir para Portugal. É o plano de reforma deles, então…

    Voltando ao SCV, qual é na tua opinião a importância das atividades que temos vindo a desenvolver em prol do desporto adaptado?

    Eu acho que vocês procuram realmente entender o que é o desporto adaptado. Ao desenvolver melhores ferramentas para o Surf, quer sejam elas uma prancha de Surf ou um ginásio, exercício ou mesmo dieta e comida. Eu considero isso muito importante, mas também vejo o vosso foco na competição, provavelmente porque há um futuro nos Jogos Paralímpicos. Mas, como te disse, o pessoal, como o Gonçalo, o Tiago, o presidente João, não diferencia um Surfista adaptado de um Surfista normal, e eu acho que essa é a melhor característica deste lugar.

    Viste as atividades de Surf Escolar aqui no Centro e o nosso trabalho junto da geração mais nova, o que pensas disto?

    Adorava ver o mesmo em Itália. Isso é o que eu adoro, é a razão de eu estar cá, é um sonho para mim. Mesmo sem o grupo italiano, sou parte do grupo [do SCV] de Viana. Acordar de manhã e saber que vou ter hipótese de preparar o pequeno-almoço para o grupo de miúdos franceses [em estágio no Centro], para mim significa muito. Especialmente vindo eu de um background como cozinheiro, sinto-me completo. Posso preparar-me para San Diego [Campeonato do Mundo de Surf Adaptado] e, ao mesmo tempo, posso cozinhar para outras pessoas, e isso é o que adoro. Preparar comida e oferecê-la aos outros.
    De manhã faço omelete francesa para todos, até para os franceses (risos), e isso era algo que estava a faltar na minha vida. Fi-lo, gostei, e eles apreciaram a minha omelete italiana-francesa (risos). Isto é um sonho para mim e espero que haja mais centros como este de Viana. Em Itália seria o nosso sonho ter algo assim. Já falei ao Governo e à Câmara Municipal. As pessoas precisam perceber que é importante ter um lugar assim, onde possamos promover o Surf junto dos mais jovens… Talvez um dia… Neste momento, a minha associação tem um pequeno bungalow, frente à praia, e um armazém para o equipamento, mas talvez, depois de uma entrevista como esta em que damos a conhecer a nossa causa, o Presidente ou o “Mayor” possam entender o quão é importante. Mesmo que não tenhamos ondas constantes, temos outras atividades. Precisamos de um lugar, de um teto. De uma sala onde possamos acomodar outras atividades como o SUP, que é algo com que conseguimos trabalhar mesmo que não haja ondas. Podemos andar com as pessoas pelo mar, fazer competição, “long distance” ou “race” e, claro, podemos aproximar a comunidade, ensinar o básico do Surf quer em Itália quer onde for, intercambiando a comunidade, aqui, em França ou Fuerteventura. É importante ter uma base, uma sede, não apenas um bungalow mas uma sala, com beliches, um centro, onde possamos reunir a comunidade e partilhar o que é Surfar. Esperemos que um dia isto aconteça.

    Tens noção de que és um exemplo de superação para esta equipa francesa que está em estágio no CAR, qual é a sensação?

     Senti que, ao princípio, estavam um pouco preocupados comigo e tímidos em aproximar-se, porque existe uma cadeira de rodas. Então dei-lhes um pouco de atenção, a música, a comida e começamos a entender-nos. Agora, querem que vá Surfar com eles esta tarde. Infelizmente, a minha prancha partiu no outro dia, mas graças ao Loic [Shaper e professor de Surf no SCV], vai ser arranjada, e depois de amanhã vou ter uma sessão com este grupo, que eu acho que é super interessante. Eu vejo outros, e acho que eles são muito educados, bons miúdos, com um bom Surf!

    Achas importante que percebam que, mesmo que algo aconteça, esse “algo” não vai necessariamente impedir-te de viver os seus sonhos, mas talvez moldá-los noutra realidade?

    No primeiro impacto, pensas “Oh Meu Deus!” Indo atrás no tempo, quando ainda andava, achava que isto nunca me ia acontecer. É terrível, mas não vou voltar à minha vida novamente. Se eu vir um exemplo, um bom exemplo, vou perceber que a minha vida não pode parar independentemente do que aconteça… Como um acidente… As coisas acontecem-te, mas a tua força de vontade é forte. Se és um exemplo a seguir, mesmo que não sejas o melhor desportista do mundo, se mostrares o que consegues fazer, as pessoas vão respeitar-te e acreditar que talvez elam também o consigam. É importante tomar ação. Não desejo o meu ferimento a ninguém, mas ele está lá e se algo “dá para o torto” podes fazer dos outros um exemplo e gerir a tua situação.

    Se fosses para casa hoje, o que levavas desta experiência?

    Todas as coisas que fizemos com este grupo e todas as coisas que fizemos com o outro grupo italiano. A construção deste sentido de comunidade e de experiência… Olha o Gautier, ele é uma pessoa tão “low profile”. Quando o conheci não fazia ideia que ele tinha estado no Billabong XXL e Surfado ondas de mais de 15 metros. É impressionante porque ele é um treinador desta nova geração. Isso é um exemplo. Ter lidado com este grupo é algo importante para crescer enquanto treinador experienciado. Desta experiência levo isso, porque também sou um treinador. Vou levar tudo isto de volta para Itália e tenho a certeza que este vai ser um 2018 excitante, com mais coisas boas para vir. Falamos com o João [presidente do SCV] e estão a planear outro encontro Europeu de Surf Adaptado, no próximo ano. Estou ansioso por ser novamente parte dele e por dimensionar o Surf Adaptado, não só o Adaptado… Existe uma Federação em Itália que deve saber que há um CAR Surf aqui para treino de equipas e que leve isso em consideração no futuro, tudo porque a Happy Weels veio cá.

    Fala-nos da tua experiência como treinador, como tem sido?

    Não é fácil, porque, às vezes, gostava de ter duas pernas e mover-me por aí mais depressa… Mas eu tento dar o exemplo do que sei que consigo fazer. Em Itália, nas férias escolares de verão, os miúdos vêm à nossa Associação na praia… É engraçado porque são muito jovens e querem perceber tudo acerca do que é Surfar. Algumas vezes é um bocado triste porque damos aulas sem ondas, mas fazemos circuitos na praia, balanço na prancha, salpicamo-los com água. É tudo o que temos e tiramos o máximo partido disso (risos). Tenho-me divertido muito como treinador. Claro que sou um professor de nível básico, mas gostava de partilhar e de dar mais conhecimento a estes novos Surfistas adaptados, eles têm potencial para ir a San Diego [Campeonato do Mundo de Surf Adaptado] e, provavelmente, vão ser escolhidos este ano, a Chantall e o Matteo. No entanto, se não for este ano e se continuarem a trabalhar, eles chegam a um Campeonato do Mundo, e eu desejo tudo de melhor a toda a equipa Happy Wheels.

    É compensador?

    Sim, é. A primeira vez que fui a San Diego foi organizada por mim. O investimento foi difícil porque estava sozinho com dois colegas. No último ano, fui com a Federação, que cobriu as despesas, e, este ano, o mesmo. Vamos ver o que acontece. O ano passado, cheguei ao quarto lugar, este ano, vou tentar o terceiro.

    Outros planos para o próximo ano?

    Voltar [a Itália], preparar o verão 2019. Há tanta coisa pela qual estou desejoso… Como te disse, não penso em construir um Centro como este, mas talvez procurar uma pequena Surf House… Seria o nosso próximo passo... De um bungalow na praia para uma pequena casa onde começássemos a trabalhar com o grupo. Há um circuito de competição adaptada que quero “ver”, como Reino Unido, Portugal, porque não Hawaii. Seria interessante ir em 2019 … É outro sonho ir lá com o pessoal da minha Associação. E também construir uma nova prancha. É algo que quero fazer, agora, com o Loic. Temos falado com o João. Vamos pôr as nossas mentes a trabalhar juntas e ver se conseguimos construir uma prancha de Surf Adaptado aqui no Centro e partilhá-la com os outros. É um projeto pelo qual anseio.

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