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- Já há quem alerte os clientes que optam por comer nas esplanadas para a possibilidade de verem os seus pratos 'roubados' por uma gaivota mais perspicaz.
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Perderam o medo dos humanos e lançam-se, sem hesitação, sobre zonas onde há comida, nomeadamente restaurantes e esplanadas. Com fome, as gaivotas estão em todo o lado e difícil é fazer com que deixem os centros das cidades.
No Porto, os relatos de ataques a transeuntes são cada vez mais recorrentes. Elas vieram para ficar.
Nos restaurantes, já há quem alerte os clientes que optam por almoçar nas esplanadas para a possibilidade de verem os seus pratos "roubados" por uma gaivota mais perspicaz. E é assim um pouco por toda a Europa.
Por isso, países como a Bélgica e a Espanha já adotaram medidas. Na Bélgica, por exemplo, estão a ser colocados dispensadores de ração com contracetivos. E em Inglaterra o aumento do número de ataques às pessoas fez com que, em 2015, o então primeiro-ministro David Cameron levasse o problema ao Parlamento britânico.
Élio Vicente, biólogo marinho, considera, no entanto, que as gaivotas são "vítimas" e não "um problema". E atribuiu o aumento do número de aves nos centros das cidades aos maus hábitos dos humanos, como as lixeiras a céu aberto, que lhes proporcionam comida, ou o hábito de as alimentar com restos.
Em Portugal, as gaivotas também estão cada vez mais longe do mar. E, nas cidades costeiras, é vê-las a dividir o espaço urbano com os moradores.
Vejam aqui o vídeo produzido pelo Jornal de Notícias:
"Perderam o medo"
Da Ribeira à Rua de Santa Catarina, no Porto, multiplicam-se os episódios em que as gaivotas atacam quem vai na rua. Atraídas pela quantidade de alimento que encontram junto aos contentores do lixo e pela possibilidade de fazerem os seus ninhos nos telhados das casas e dos prédios, estas aves marítimas parecem ter mudado de comportamento. Algo que facilmente se percebe, até porque, apesar de ser proibido, há ainda quem mantenha o hábito de as alimentar.
"Moro no bairro do Duque de Saldanha e costumo ver, principalmente ao fim da tarde, muitas gaivotas nos telhados", conta Álvaro Ferreira, 72 anos, que atribui a presença das aves aos "contentores do lixo" e às "pessoas que lhes dão comida". Apesar de achar que "a gaivota devia ser arrastada do centro da cidade", o morador não tem dúvidas: "Enquanto tiverem comida, vão ficar", afirma, concluindo que "isso é mau".
"Isso é que é mesmo preocupante, porque mostra que elas [as gaivotas] perderam o medo", comenta Marcos Cruz, 45 anos, residente na Rua da Alegria. "Vivo num quinto andar que tem uma varanda grande e costumo ir para lá apanhar sol", indica o morador, adiantando que "é normal passarem as gaivotas, a grande altura, em voos circulares". Mas, na presença de pessoas, o seu comportamento muda. "Assim que se apercebem de que está lá gente, começam a fazer voos rasantes", explica, garantindo que já foi duas vezes atacado.
"Há pouco tempo, comprei um pastel de Chaves em Santa Catarina e fui a comer pelo caminho, até ao ginásio. Uma gaivota viu-me e veio em direção a mim", acrescenta, concluindo que teve de adotar uma postura "mais brusca" e olhar de "forma mais agressiva" para a ave, que ainda pousou no muro, mas "voltou a atacar".
Invadem esplanadas
Em plena Baixa da Invicta, nas esplanadas, são, muitas vezes, os turistas que mais sofrem. Por isso, em alguns restaurantes da cidade, os clientes são alertados para a possibilidade de serem atacados.
O pior dia é a segunda-feira, garante Márcio Bateira, responsável pelo Café Mengos, situado na Rua de Santa Catarina. "É que, como ao domingo estão muitos estabelecimentos fechados, à segunda-feira elas [as gaivotas] têm mais fome", explica o comerciante, que assiste, muitas vezes, às invasões à esplanada do café. "Ou é um pastel que está na mão do cliente, ou uma sardinha que o cliente está a comer... Passa a gaivota, faz um voo rasante e come", acrescenta, concluindo que "situações deste género" acontecem com maior frequência nos últimos dois anos.
Assustam crianças
Tânia Leão, 41 anos, é socióloga e trabalha na Rua dos Bragas. E, também ali, garante, a presença das gaivotas origina situações imprevistas. "Há alguns dias, estava um casal a passear aqui na rua e vi uma gaivota levar a comida da senhora", revela, acrescentando que naquela zona "há muitas gaivotas". Algo com que se preocupa, principalmente desde que o filho, Francisco, de cinco anos, "foi atacado".
"Vivemos num condomínio fechado, que tem um espaço para os miúdos brincarem. E houve uma altura em que deixamos de conseguir ir para lá porque as gaivotas atacavam", explica. "Quando o meu filho foi atacado, não tínhamos comida sequer, ele estava só a brincar", acrescenta, concluindo que "são bichos grandes" e que, por isso, as crianças ficam assustadas "quando elas sobrevoam a pique".
"Banco de peixe"
Alarmada está, também, Teresa Carrington, 63 anos, residente na Rua de Miguel Bombarda. "É normal que as pessoas se assustem porque não estão à espera de serem vistas como se fossem um banco de peixe", afirma a moradora, preocupada com o facto de as gaivotas se comportarem "nos centros das cidades exatamente da mesma forma que se comportariam à beira-mar".
A verdade é que, nos últimos tempos, alguns moradores e comerciantes têm procurado medidas que dificultem a permanência das gaivotas junto às casas. É o caso da loja "Me Allegro", na mesma artéria, que decidiu instalar nos parapeitos das janelas pinos metálicos que impedem o pouso e a nidificação das aves.
Câmara rejeita praga
Ainda assim, não tem havido grandes reclamações às autoridades. À Câmara do Porto chegam, sobretudo, segundo a Autarquia, reclamações "que se prendem com o barulho provocado [pelas gaivotas] durante a época de reprodução". São, também, participadas ocorrências referentes "à sujidade provocada pelos dejetos e pelo fornecimento de alimento indevido na via pública".
Salientando que não se trata de uma praga, fonte oficial da Autarquia diz que "as situações de "ataques" devem ser contextualizadas, porque, "em época de reprodução", o instinto protetor faz com que "a gaivota se torne naturalmente agressiva". E salienta que, "a fim de minimizar os incómodos causados", realiza "ações de sensibilização" e "capturas pontuais em locais de concentração" quando está em causa a "saúde pública".
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Fonte: JN
Fotografia: TJ
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