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- Mais um recorde Mundial conquistado na Nazaré, mas desta vez por um atleta Português
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No dia 8 de Novembro de 2017 a Praia do Norte foi palco de um espetáculo de proporções épicas, que deu direito a diversas nomeações para os XXL Awards.
Uma das pessoas que por lá andou, deixando estupefacto quem por lá andava a observar o espetáculo no local, ou através da nossa transmissão em direto, foi o Nuno Figueiredo.
Foram momentos stressantes, mas também de coragem, de superação e camaradagem marcaram este dia especial, que tão cedo ninguém esquecerá.
Quando chegou ao “pico do canhão da Nazaré” deixou toda a gente incrédula e o que se viu a seguir foi completamente alucinante, desde impressionantes e intermináveis voos, aos drops de ondas que se revelavam autênticas montanhas de água. Mas Nuno aka “Stru” estava lá com um objetivo bem definido, conquistar o recorde Mundial para a maior onda alguma vez apanhada de Kitesurf.
O kitesurfer já acumulava uma mão cheia de prémios, entre eles o de tri-campeão nacional de kitewave em 2010/13/14, o 1º lugar na KiteCup Nazaré XXL wave contest em 2011, ou ainda o 2º lugar no PKRA (Professional Kiteboard Riders Association) de 2013.
Com base na informação recolhida no local pelo Kitesports World Records Committee (KWRC) a avaliação resultou numa medição entre os 18 a 19 metros, que em conjunto com a FHM (Faculdade de Motricidade Humana pertencente à Universidade de Lisboa) validou o recorde do mundo com um valor final de 19 metros (63 pés), tornando assim esta tentativa, na maior onda de sempre apanhada em Kitesurf.
Estivemos à conversa com o Nuno Stru, que nos explicou como foi este dia.
Beachcam- Como te preparas para um desafio destes, tanto a nível físico e psicológico como também de material?
Venho-me preparando para esta sessão já há 3 anos. Quando fui à Nazaré pela primeira vez já tinha feito uma preparação especial, fiz o curso de tow-in na towrider e vi muito bem o que poderia acontecer, ao nível de resgate e segurança e também aderi ao método DeRose - uma filosofia de yoga com uma componente de respiração e psicológica grande. Além da componente mental, existe uma parte física, nomeadamente a parte da elasticidade, pois sempre fiz surf, Kitesurf faço, também SUP. Estou sempre muito ativo e às vezes falta a parte dos alongamentos, um trabalho mais específico, e isso ajudou-me muito. Ao nível do material, tive de trazer um equipamento específico para poder fazer este tipo de ondas, para isso tive o apoio da P-Unit Surfboards, que fez uma prancha fabulosa para estas condições, foi um mix de prancha de tow-in com uma prancha de kite. Mais pesada, mais estreita, mais vocacionada para ondas gigantes. O material é super importante, tive de desenvolver coletes especiais para mim, porque não podia ter nada à volta do meu arnês. Os coletes foram feitos em casa, mesmo “home made” Stru Prductions (risos).
BC- Como analisas o swell, onde vês as previsões?
Fiz o curso de resgate de mota de água com a towrider e vejo as previsões no windguru como toda a gente, acho eu. Claro que há que saber ler bem as previsões, como o tamanho e direção do swell e igualmente importante o vento e basicamente perceber o que acontece na Praia do Norte. É uma Praia única no Mundo, que tem ali uma montanha que influencia de uma maneira enorme o vento, pois tem um efeito de aceleramento se o vento estiver num certo grau. É impressionante pois no início da praia o vento é onshore e no fim da praia é sideoff, isto claro dependendo da direção do vento. Portanto, é um sítio muito especial, cheguei a passar lá diversos dias, a surfar e a estudar os ventos para melhor perceber o local.
BC- Quando vais para lá, estás sozinho, ou tens alguma equipa contigo? Spoter, mota de água?
Da primeira vez fui com o apoio do Sérgio Cosme. Ou melhor, devia começar por responder que quando vou para lá, nunca estou sozinho, tenho um grande amigo de há muitos anos, que por coincidência é uma das pessoas mais influentes da Praia do Norte, que é o Jorge Leal (aka Polvo). É a pessoa que está sempre no sítio certo e na hora certa, na parte de filmar, e é curioso, pois as equipas que estão com ele curiosamente ganham sempre a melhor onda do ano. Por alguma razão isso acontece, porque ele sabe realmente ler muito bem a Praia do Norte e, por coincidência do destino, foi o meu braço direito em todas as sessões. Na primeira vez ajudou-me com o rádio e dentro de água o Sérgio. Conseguimos fazer um bom trabalho e carimbar desta forma o título de primeiro kitesurfer na Nazaré. Mas não foi suficiente, como se pode perceber. A onda foi grande, foi gigante, mas havia aquela dúvida do pessoal de Jaws, que também surfava ondas grandes e uma onda diferente, e, pronto, aquela satisfação foi momentânea e continuei à procura do swell épico, que considero ter sido esta quarta-feira. Foi um swell de 4,2 metros com um período de 18. É épico! Isto acontece uma vez se calhar de 5 em 5 anos e, ainda por cima, a direção do vento estava perfeita, ou seja uma combinação espetacular de 3 fatores distintos.
Desta vez, ia ter o apoio do Andrew Cotton, mas como é do conhecimento de todos o Cotty teve um problema grave após uma queda aparatosa, nessa mesma manhã de quarta-feira. Liguei nessa mesma manhã ao Jorge Leal a perguntar se estava tudo ok, ao que ele me respondeu que o Cotty tinha ido para o hospital, que o mar estava muito agressivo e que as coisas estavam um bocado complicadas. Claro que depois de vários anos de preparação e estando psicologicamente super motivado para ir para dentro de água, ouvir isto nunca é muito bom. De qualquer forma liguei ao Rafael Tapia, que estava com o Nuno Violino e perguntei-lhe: ‘então como é que é, está tudo bem?’ E a resposta dele foi: ‘Nuno, acabei de apanhar a maior porrada da minha vida, isto está completamente gnarly. Você tem a certeza que vai entrar?’ Eu disse: ‘Oh pah, se me deres um apoio, eu só estou à espera que o vento aumente um bocadinho e vou lá para dentro. Se puderes dá aí uma olhadela’. Ao que Rafael respondeu: ‘Então bora, mas tem cuidado que isto está mesmo gnarly, está mesmo do piorio’ (risos do Nuno). E, pronto, mentalizei-me. Mesmo com tantos obstáculos, nada me iria impedir de fazer o que eu estava ali para fazer.
Na minha cabeça tinha quarto etapas: primeiro passar as ondas a 4 km da Praia do Norte, mesmo assim estavam ondas com 4 a 5 metros nos sets, nada que não conseguisse fazer com o apoio da minha prancha. Com os straps, conseguia saltar por cima das ondas, esperar pelo momento certo e começar a minha descida, que é a segunda etapa, a parte do downwind, que seria descer ao vento até ao “pico do canhão da Nazaré”. Quando cheguei lá, a terceira etapa era realmente perceber o que é que estava a acontecer, onde estava a quebrar, o posicionamento, o cuidado com as outras motas de água e depois fazer a maior onda da minha vida. A quarta etapa seria sair de uma forma segura. Desta vez, fiz as coisas bem-feitas. Da primeira vez saí um bocado à campeão (risos) e acabei por levar uma espuma de sul para norte, assim uma coisa absurda, que podia ter corrido muita mal. Mas nesta quarta-feira não havia margem de manobra, não poderia haver qualquer tipo de erro e acabei por sair no terceiro pico, no parque de estacionamento onde o pessoal normalmente surfa. Portanto correu tudo bem, sem qualquer tipo de vacilo.
BC- A tua carreira mudou em termos de visibilidade e apoios depois de te teres aventurado na Nazaré?
Claro que a carreira mudou. Ser o primeiro kitesurfer na Nazaré deu-me muita visibilidade lá fora e, agora, estou plenamente convencido que depois desta sessão ainda mais visibilidade terei, aliás como já tenho constatado. Porque, realmente, é curioso, a minha carreira mudou, mas poucas pessoas reparam, pois sou um rider internacional. Vou a Espanha, vou a França e sou muito bem recebido, por pessoas que me veem de outra forma, veem-me como um profissional. Enquanto cá em Portugal, não tenho muito reconhecimento. É um facto curioso, mas não deixa de ser a realidade. Obviamente que influenciou a minha carreira, pois toda a gente que vai com sucesso à Nazaré tem um boost ao nível dos patrocinadores e espero que isso continue.
BC- Próximas metas ou objetivos?
Engraçado, o pessoal nunca está satisfeito. Já me apareceu aí outra situação e temos de continuar ativos. Portanto, por que não? Sempre a puxar os limites do Kitesurf, que é o que tento mostrar, quer seja para fazer tubos de kite, fazer ondas gigantes de kite… dá para fazer tudo com o kite. É uma questão de perceber que quando não está vento, ok, faz-se surf. E quando está vento, pah faz-se kite.
BC- Como te sentes, sendo recordista Mundial?
É um bónus. Tudo o que fiz foi para mim. Sonhei e concretizei!
Da parte do MEO Beachcam só te podemos dar os parabéns por este feito grandioso, que, uma vez mais, vira as luzes da ribalta para Portugal e em específico para a Nazaré.
Notícia: Previsão de Ondas para esta semana
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Fotos - Praia do Norte
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