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  • Bodysurfers enfrentam a Besta da Baía de Guanabara
    21 agosto 2017
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  • A Besta é uma onda traiçoeira que quebra sobre uma laje a cerca 7 metros de profundidade perto da ilha do Forte Tamandaré, uma construção abandonada, na foz da Baía de Guanabara
  • O Swell da década atingiu o Brasil na semana passada e um grupo de bodysurfers atirou-se às ondas que quebravam na rara e famosa laje na boca da Baía da Guanabara. Foi a primeira vez praticaram bodysurf no local.

    Estivemos à conversa com JSC Mauricio um dos mais conhecidos bodysurfers da comunidade que nos explicou como começou esta aventura e como tudo correu.

    - JSC Mauricio:

    A historia começou na quinta-feira anterior ao dia dos pais aqui no Brasil, quando recebi um alerta de Red Code enviado por Mark Drewelow.  Foi anunciada uma condição rara que ocorre apenas uma vez a cada década despertando a temida Besta da Baia de Guanabara. Era bom demais para ser verdade. Eu que estava morando a cerca de 15 anos na Alemanha e tinha perdido todas as outras oportunidades em que soube que ela aconteceu. Não  queria perder mais esta.

    No sábado o mega swell começava a dar o ar de sua graça agraciando o litoral brasileiro com ondas em tudo que é canto, incluindo aqueles que nunca quebram. Foi uma festa para o crowd infernal que infestou todos os picos. A Laje da Besta já começava a quebrar e alguns surfistas nela se aventuravam por curtos períodos. Era o indício de que o mega swell poderia atingir  o pico no Domingo.

    Mesmo  estando em pleno pré-lançamento da campanha de crowdfunding para os demais tamanhos do barbato que criei, a LEBLONFINS,  parei tudo para montar uma equipe e desafiar a Besta. 
    Toquei a procurar qualquer embarcação  disponível. Barco a remo, caiaque, sup, tudo que boiasse e que pudesse me levar lá. Mas ninguém quis arriscar “o equipamento”. Até que o Luiz Antonio, o Ted disse que conhecia um piloto experiente que poderia aceitar o risco e que me levaria lá. Perguntei quantos cabiam, ele me disse 8 com o piloto e nosso equipamento. 

    Seriamos 8, a sorte havia definido o número. Comecei a mandar zap pra quem tinha condições de entrar, sair vivo e ainda se divertir. E logo se formou nosso “dream team”: Jc Rodrigues, Paulo Pilleggi, Fabio Russo, JSC Mauricio (eu) e o Luiz Morizot, Dunga, Comandante do Serviço de Resgate de Miami-Dade Flórida como os bodysurfers e no apoio nada menos que os tenentes-coronéis Bombeiros Militares Fábio Braga e Dr. David Szpilman - ambos diretores da SOBRASA - Associação Brasileira de Salvamento - ISLA) e Patrick Bizzi pilotando o jetski do SURF RESGATE. Luiz António encarregado de contar a história, Amorim foi o fotógrafo e  Cacá o piloto da lancha.

    A Besta é uma onda traiçoeira que quebra sobre uma laje a cerca 7 metros de profundidade perto da ilha do Forte Tamandaré, uma construção abandonada, na foz da Baía de Guanabara. Sua existência ganha fama a partir da reportagem com Carlos Burle e Eraldo Gueiros em 2011! 

    "Antes de entrar na Baía de Guanabara, a profundidade é muito grande, cerca de 30 metros, portanto, praticamente não se percebe a onda. À medida que a ondulação se aproxima da boca da barra da baia, a energia vai se concentrando. Ao passar entre as fortalezas de São João e a de Santa Cruz, a ondulação é comprimida de tal forma que se avoluma assustadoramente, como uma tsunami. Então de repente sofre mais uma mudança brusca ao passar por cima da laje do Forte Tamandaré a cerca de 7 metros de profundidade. E surge “A Besta”! Algo como o efeito que cria as ondas gigantes no canhão da Nazaré, mas numa escala reduzida. Era ela que iríamos enfrentar.

    A adrenalina tomava conta de todos. Não tanto por conta do tamanho da onda, mas por causa das condições da boca da barra da Baia de Guanabara. Existem ali várias lajes que transformam a ondulação oceânica em várias ondas. E estas ondas não quebram apenas numa direção e num mesmo local, como nos slabs mundo afora. Existe uma turbulência generalizada como numa desembocadura de rio. Com forewashes e backwashes.

    Na verdade, foram essas condições as que induziram os portugueses quando lá chegaram num janeiro, há séculos atrás, a pensar que se tratava da foz de um rio gigantesco. E por isso chamaram a cidade de “Rio de Janeiro”.
    Finalmente chegou o Domingo tão esperado. Como combinado nos encontramos na porta do Iate Clube Rio de Janeiro, de onde sairiam as embarcações. Havia uma certa tensão no ar. Um misto de alegria e senso de perigo. 
    Imediatamente após ter deixado a doca da marina no Iate Clube Rio de Janeiro, percebemos que a previsão tinha se confirmado. Nosso barco teve que lutar bravamente para se aproximar da laje principal e evitar naufragar devido às ondas que vinham de todos os lugares. O sentimento era estar em um barco salva-vidas depois que a tempestade afundou nosso navio.
    Subíamos e descíamos nas vagas como nas filmagens do Youtube sobre navios em tempestades oceânicas. Foi uma bagunça. Por precaução vesti meu LeblonFins e os demais bodysurfers mesmo me ironizando tiraram suas nadadeiras (todos LeblonFins) do bolo e mantiveram-na segura pelas mãos.

    Muitas vezes me perguntei em qual direção nadar no caso de o barco afundar ... será que  conseguirei surfar os tsunamis que vinham contra o barco, em direção à marina?
    Mas Cacá, o piloto do barco excedeu nossa expectativa e conseguimos chegar no ponto mais próximo possível da laje da besta. Dali para a laje só de  jet ski pois a correnteza e muito forte. Quando o jet deixou todos na laje da besta, nos demos conta que estávamos no olho do furacão. Não era possível ficar num único lugar esperando a oportunidade de descer uma onda. 
    Nós nem sequer tivemos 1 minuto de descanso . Foi pauleira o tempo todo.

    Quando não eram as ondas nos atacando de todos os lados, era a correnteza nos arrastando perigosamente para o oceano aberto. Eu perdi a conta de quantas tiros seguidos de 30 ou 40 metros de crawl tivemos que executar para no final mergulhar o mais rápido possível e atravessar seis metros de ondas até sentir a explosão dela acima da gente, apenas para emergir com o pulmão explodindo, olhos arregalados tentando saber de que lado viria a outra besta e dar outro tiro em direção a ela. Isso é que adrenalizou a malta.

    Foi tenso, não havia safe zone. Não existe um line up. Não tínhamos pranchas pra descansar ou mesmo ficar sentados de pescoço esticado pra visualizar de onde vem a serie. Se você der mole e se deixar levar mais para a direita ou para frente, corre o risco de ir de encontro a estrutura ao lado do Forte Tamandaré que em dias normais fica alguns metros acima da linha d’água.
    Não foi como nada que eu já havia experimentado. E pá, eu já tinha surfado de peito no Tahiti, Havaí, Peru, Austrália, Portugal, Espanha, California e Brasil . Nós tivemos dificuldade até mesmo para ver e escutar o piloto do Jet ski. O fotógrafo teve dificuldade em nos encontrar, pois o barco tinha se deslocar em diferentes direções o tempo todo. As vagas entre nós e o barco tornava tudo mais difícil fazia com perdêssemos de vista uns aos outros. 
    Depois de cada onda vinha a adrenalina da contagem as cabeças,  para ver se eles estavam todos lá e são e salvos. O apoio do experiente piloto de surf da Surf Resgate foi sensacional. O cara nem piscava. Atuava com um cão pastor o tempo todo puxando os que se desgarravam.

    Foi tenso. Muito tenso. Foram duas horas lutando por nossas vidas, ao mesmo tempo que buscávamos uma chance de montar a besta. Cair no ponto crítico da onda em cima da  laje, seria suicídio. Não apenas pela onda em si, mas pelo pavor de ser levado do encontro as laje submersas.
    A alternativa foi dropar a rabeta da besta ", explicou Pillegi. Mas elas ou tomavam vezes tomavam outra direção devido ao backwash ou se enchiam porque as águas ao redor da laje  tem cerca de 20 metros de profundidade. Além disso as ondas eram rápidas, mais de 20 mph. Tínhamos dificuldade em dropar. Foram muitos "quase". Então, de repente, o capitão Dunga finalmente conseguiu e todos aplaudiram. Ele não conseguiu manter toda a linha e foi engolido. Mas retornou exultante! Era o que estávamos precisando e inspirou confiança em todos.

    Saímos da defensiva e passamos a arriscar mais. Todos  tentaram dropar a besta, mas apenas conseguindo fazer apenas poucos metros na linha da onda antes de serem engolido. Eu tentei duas vezes pular diretamente do jetski na onda. Mas cada tentativa exigia uma grande volta em torno da laje e logo vimos a malta sendo levada pela correnteza. Tivemos que abortar o tow-in e continuar o ataque apenas no braço. Assim foi até que Fábio Russo se encontrou no local certo no momento certo. "Eu vi que as rabetas se abriam e me posicionei mais perto da área crítica, sem arriscar muito. Eu tomei diversas na cabeça mas pra conseguir ficar no pico. Mais cedo ou mais tarde, passará por aqui", Disse Russo. “Depois de uma hora sendo sacudido, a Besta veio e parecia quer a rabeta ia se rolar sem backwash. Então liguei o turbo e remei. Quando eu vi aquela enorme rampa aberta na minha frente dropei e consegui fazer a linha da onda. Fui batendo o tempo todo, com a espuma no rosto até que a onda se desintegrou e morreu. Cara, foi incrível. Ainda não acredito que aconteceu! ", comemorava Russo, o primeiro bodysurfer a conseguir fazer toda a linha da Besta. Ele entrava para a historia do Bodysurf brasileiro. Aliás todos entramos.

    Depois de permanecermos duas horas na água, o piloto da embarcação disse que a mare começava a mudar e que não seria mais seguro ficar ali. Como se antes tivesse sido seguro.

    Então, esgotados e cheios de acido lático e endorfina nem reclamamos. O jetski levou um a um para a lancha e encerramos a aventura, cheios de alegria. Fomos onde nenhum bodysurfer tinha ido antes.

    Desafiamos a onda mais pesada da costa brasileira que só aparece apenas uma vez a cada década. Para mim isso teve um significado especial. Todos que surfaram tinham entre 30 e 40 de idade. Mas eu com quase 60 anos, tenho consciência de que essa pode ter sido a primeira e última vez que enfrentei A Besta da Baia de Guanabara. Nunca se sabe.. Espero tentar novamente e treino muito para isso.

    Para acompanhar e confirmar live, os dados sobre o estado do mar, pode usufruir da nossa rede de livecams e reports preparada para essa finalidade.

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