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- 'Há petróleo dizem eles. Diz que vale a pena dizem eles.'
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O petróleo, ou óleo de rocha, é um hidrocarboneto, ou seja uma substância composta por moléculas de hidrogénio e carbono, utilizada primariamente como fonte de energia, uma fonte de energia não renovável o que significa que não se renova do dia para a noite. Demora largos milhares de anos na sua lenta transformação desde que foi restos de vida até à matéria viscosa ou gasosa que existe por aí escondida e que está quase a acabar.
Bom, eu não sou nenhum entendido na matéria, deixo as minudências científicas para um especialista como o João Camargo por exemplo, também cronista nesta casa.
Mas, na minha ignorância de um leigo tenho uma certeza mais que absoluta, mais certa que o sol nascer a oriente no início de cada dia e, se tiver sorte e as nuvens fizerem gazeta nessa jornada, vê-lo desaparecer por detrás das Berlengas, primeiro devagar, muito devagar até que de repente, assim do nada, o vermelho dos despojos da tarde é engolido pela linha de mar, lá ao fundo, no limite da visão onde dormem os sonhos de uma distância por conquistar.
E há uma quietude qualquer que se instala, uma felicidade momentânea, um esboço de eternidade nesse movimento perpétuo da terra, ainda que por um instante ou dois.
E sabem? Não há mais nada ali. Só eu e o fim, Só eu e o momento definidor de algo que se iniciará de novo dali a umas horas. É puro, é primordial, é Deus a beijar-me no rosto enquanto se despede de mim.
Tu sabes do que falo. Tu sabes porque já sentiste. Tu sabes porque vives. Tu sabes porque sabes.
Mas agora? Agora querem vir para aqui esventrar a linha do horizonte com máquinas de aço e furos em busca do famigerado ouro negro.
Há petróleo dizem eles. Diz que vale a pena dizem eles. Diz que irão chover notas de 500 euros aos magotes. É mentira, digo eu, porque essas, as notas de 500 choverão sim mas para empresas como a Galp, a Partex ou a Repsol entre outras lobas acumuladoras de impérios. Mesmo que para isso se destrua a própria vida para enriquecer só mais um bocadinho.
É perfeitamente seguro dizem eles. O meio envolvente nem vai dar por ela dizem eles. Parece que há uma técnica chamada de fracking que consiste em injectar a alta pressão milhões de litros de água, areia e um cocktail de cerca de 600 produtos químicos (muitos deles cancerígenos) na rocha de xisto para que esta fracture e liberte gás metano. Uma vez libertado o gás, esta maravilhosa mistura de componentes por ali fica, a contaminar o subsolo e a superfície das águas. Perfeitamente seguro dizem eles.
E sendo esta região como quase toda a costa portuguesa uma zona instável ao nível da oscilação das placas tectónicas (vulgo terramotos), injectar milhões de litros de entulho a alta pressão mesmo de encontro a essas placas, parece-me uma excelente ideia. O meio envolvente nem vai dar por ela dizem eles.
1755 faz-vos lembrar de alguma coisa? Pois… E eles ainda nem por cá andavam a sugar até ao tutano o equilíbrio natural do mundo que existe há muito mais tempo que o dinheiro, o lucro e a estupidez dos homens.
Aquecimento global? Isso são tudo mentiras de gente que fuma umas coisas e não sabe o que custa ganhar a vida. Dizem eles. Nada disso. Está tudo bem, como dantes, talvez um bocadinho menos de frio no inverno mas isso até é bom não é? Assim não se queixam tanto com a conta da luz. Devia era ser verão o ano inteiro. Calotas polares a derreter? Naa! Isso é propaganda, filmes de Hollywood com actores de Hollywood a mando dessa malta que fuma umas coisas e não sabe o que custa ganhar a vida. Está tudo bem. Dizem. Eles.
E eu digo. E eu escrevo, na humildade da minha ignorância científica,
Não. Não. Não. Não. Não está tudo bem.
A linha de costa que eu amo, a região que é minha e tua e de todos os que cá vêm para dar um mergulho, rasgar uma onda, comer um arroz de marisco, dos que cá vivem o ano inteiro, a vida toda… eu digo Não.
Não à prospecção e exploração do petróleo em Peniche, no Algarve, no Alentejo, na Batalha, em Pombal, na Cochinchina. Não ao petróleo em qualquer lugar e em qualquer circunstância.
Já chega porra! Engavetem a vossa ganância por um bocadinho para que possamos respirar melhor, viver mais um pouco. Saiam do alto dos vossos escritórios de vidro, dispam os fatos feitos por medida, desçam cá abaixo e venham viver também. Não precisam assim de tantas notas de 500. Para quê? Venham cá abaixo ver o pôr-do-sol e deixem-me continuar a ter o prazer de o sentir tropeçar mesmo atrás das Berlengas, livre de petróleo, livre do gás natural, do fracking, dos terramotos e sobretudo livre das pequenas enormes sanguessugas do mundo.
Já vai sendo tempo de acabar com isto.Segue o Beachcam.pt no Instagram
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