Na temporada de ondas grandes de 2023/2024, realizou-se a segunda edição do Mercedes-Benz Nazaré Winter Sessions Awards, concurso de vídeo e fotografia sobre o Canhão da Nazaré e destinado a profissionais, amadores e estudantes da arte.
Na categoria Wipeout em vídeo, Frédéric Maitre foi um dos vencedores, tendo arrecadado o terceiro prémio, correspondente a 250 euros.
Em entrevista, o fotógrafo dá-se a conhecer um pouco melhor, fala-nos sobre o trabalho premiado, toda a ligação que possui à Nazaré, entre outros tópicos.
Beachcam (BC) - Como é que nasceu a paixão pela fotografia/vídeo de surf?
Frédéric Maitre (FM) - A minha paixão pela fotografia e pelo vídeo de surf nasceu de uma combinação entre a minha prática pessoal de surf e o meu amor pelas artes visuais.
Comecei a surfar aos 13 anos, em França. Com o tempo, e na companhia de quatro amigos, começámos a viajar para explorar novos locais. O que sempre me fascinou na fotografia de surf foi a magia das luzes, das cores e das formas efémeras: a capacidade de congelar um momento único e poderoso.
Em 2002, embarcámos numa volta ao mundo que me permitiu passar um ano na Nova Zelândia, onde aperfeiçoei as minhas competências e descobri paisagens espetaculares. Esta viagem foi uma oportunidade para produzir imagens e vídeos que documentam a nossa aventura e colaborar com parceiros de media e patrocinadores do projeto.
Mais tarde, vivi cinco anos no Brasil, um país onde o surf e a cultura visual estão por todo o lado, o que enriqueceu ainda mais a minha perspectiva artística.
Desde então, a fotografia e o vídeo de surf, assim como o free surf, tornaram-se pilares do meu estilo de vida.
BC - A ligação que tens à fotografia/vídeo é profissional ou lazer?
FM - A minha ligação à fotografia e ao vídeo é tanto profissional quanto profundamente enraizada na minha paixão pessoal. Há mais de 25 anos que navego no universo do surf e da fotografia, o que me permitiu unir prazer e profissão num equilíbrio inspirador.
Ao longo dos anos, diversifiquei os temas e os tipos de conteúdos que produzi, realizando inúmeros projetos fotográficos e de vídeo para media, patrocinadores e iniciativas pessoais. Também colaborei em projetos tecnológicos, como o desenvolvimento de uma aplicação móvel dedicada ao vídeo. Paralelamente, explorei a escrita, tendo publicado um livro que reflete a minha visão e as experiências vividas, mostrando outra forma de captar e partilhar momentos únicos.
Outro universo que me inspira profundamente é a caminhada de longa distância, especialmente nos caminhos de Santiago de Compostela. Essas jornadas, impregnadas de espiritualidade e introspecção, oferecem-me uma perspectiva diferente sobre o tempo, as paisagens e a forma de documentar os instantes. Durante essas caminhadas, encontrei uma nova fonte de inspiração para as minhas criações, sejam elas fotográficas, em vídeo ou literárias.
Atualmente, a minha prática oscila entre paixão e profissão, sendo sempre guiada por uma vontade incessante de explorar, seja numa onda, num caminho ou através da lente da minha câmara.
BC - Como é que descobriste as ondas grandes da Praia do Norte?
FM - Descobri as ondas gigantes da Praia do Norte, na Nazaré, graças à minha paixão pelas ondas grandes, pelos setups únicos e pela atmosfera espetacular que envolve esses lugares míticos. Vivendo relativamente perto da costa basca e landesa, sempre fui fascinado pelos spots de ondas grandes da região. Tive a oportunidade de assistir a dias memoráveis em Belharra, Roca Puta em Espanha, Guéthary e na praia norte de Hossegor. Essas experiências ensinaram-me a respeitar a força bruta do oceano e a precisão das condições necessárias para formar essas ondas extraordinárias.
Descobrir a Nazaré foi como mergulhar num universo ainda mais grandioso. A beleza selvagem das ondas, a potência que emanam e o entusiasmo coletivo de surfistas, fotógrafos e espectadores tornam a experiência única. Mais do que um simples spot de surf é um palco onde a natureza oferece um espetáculo majestoso e onde a paixão pelo oceano atinge o seu auge.
BC - O que significa o Canhão da Nazaré para ti?
FM - O Canhão da Nazaré representa, para mim, muito mais do que uma simples curiosidade geográfica. É um setup único no mundo, uma maravilha da natureza que produz algumas das maiores e mais belas ondas já vistas. Uma verdadeira arena a céu aberto.
BC - Em todas estas temporadas, consegues quantificar o número máximo de horas que já tiveste a filmar na Nazaré?
FM - Inúmeras… ou talvez seja mais fácil contar pelos discos rígidos cheios de material! Não se conta o tempo quando se ama, não é verdade? Cada momento passado a filmar na Nazaré é uma imersão total, uma busca por luzes, ângulos e histórias. O tempo simplesmente desaparece quando estamos tão absorvidos pela magia do instante.
BC - Durante o inverno, estás toda a temporada na Nazaré ou apenas viajas antes da chegada de um novo swell?
FM - O simples ato de ir à Nazaré para filmar já é, por si só, uma verdadeira surf trip. Entre a preparação, a antecipação e aquela leve apreensão, é uma experiência completa. Cada visita é uma espécie de parêntese encantado nas nossas vidas modernas, um momento raro de conexão com o presente e de contemplação.
BC - O que te levou a participar no concurso Mercedes-Benz Nazaré Winter Sessions Awards?
FM - Um pouco por acaso, e como acontece frequentemente, o acaso escreve as histórias mais bonitas quando estamos dispostos a acolhê-lo. Entrei com algumas expectativas, mas rapidamente me deixei levar pela experiência. Este concurso foi uma oportunidade de seguir um caminho inicialmente planeado, mas que acabou por me levar a encontros e descobertas inesperadas.
BC - Qual é a história que está por detrás do vídeo premiado?
FM - A história por detrás do vídeo premiado remonta a fevereiro de 2024, um mês marcado por três ou quatro dias consecutivos de condições gigantes na Praia do Norte. A filmagem foi realizada no segundo dia, quando o mar estava em plena apoteose. Várias equipes estavam na água, enfrentando ondas monstruosas, e o espetáculo estendeu-se do nascer ao pôr do sol.
A particularidade deste vídeo está na sequência tensa que ele captura. Um big rider, ao tentar surfar uma onda pesa, partiu de uma posição muito no interior. Rapidamente percebeu que estava preso numa situação de altíssimo risco, com o lip prestes a desabar sobre ele. Demonstrando experiência e frieza, tomou a decisão de antecipar o impacto inevitável, ativando imediatamente o seu sistema de segurança. Essa ação permitiu que fosse projetado e minimizasse as consequências do turbilhão gigantesco.
Essa cena não é apenas um testemunho da força brutal da Nazaré, mas também uma ilustração da preparação, da técnica e instinto necessários para navegar nestas águas extremas. O contraste entre o perigo, a precisão do gesto e a beleza selvagem dos elementos fez deste vídeo um momento inesquecível, que cativou tanto os espectadores quanto o júri, garantindo-lhe a vitória no concurso.
BC - Qual a importância deste tipo de iniciativas?
FM - Essas iniciativas são essenciais para dar a conhecer Nazaré, que é, na minha opinião, uma das maravilhas efémeras do mundo. Estes eventos permitem reunir apaixonados pelo surf, pela fotografia e pelo vídeo, ao mesmo tempo que destacam uma região incrível. São um convite para partilhar uma paixão, mas também para celebrar a beleza e a diversidade das culturas.
BC - O que ainda te falta filmar na Nazaré?
FM - Muita coisa. Cada dia traz novas oportunidades: ângulos inéditos, luzes em constante mudança, histórias efémeras. Nazaré é um lugar vivo e em perpétuo movimento, onde há sempre algo por descobrir e por contar. E é isso que me faz voltar, vez após vez.
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