A cortina caiu em Paris’2024, depois de uma das Olimpíadas mais bem-sucedidas da história, onde o surf teve um papel de relevo, com a aparição das pesadas ondas de Teahupoo e das mágicas paisagens taitianas como pano de fundo. Segue-se a caminhada para Los Angeles’2028. Se quatro anos parecem muito tempo, a verdade é que a cidade norte-americana já prepara tudo ao pormenor para suceder à capital francesa como organizadora do maior evento desportivo do planeta.
Numa altura em que a grande maioria dos desportos já conhece o palco oficial de provas, depois de vários anúncios feitos nas últimas semanas por parte do Comité organizador, o surf é das poucas modalidades onde ainda nada se sabe sobre o local da realização da disputa pelas medalhas mais desejadas do Mundo. Apenas alguns rumores e alguma discussão em torno de uma questão algo sensível: oceano ou piscina de ondas.
Após um ciclo olímpico em que o Comité francês optou por realizar um concurso, que acabou por levar, em 2019, à escolha de Teahupoo, em pleno Oceano Pacífico e a mais de 15 mil quilómetros de distância de Paris, depois de ter batido as candidaturas continentais de Lacanau, La Torche, Hossegor e Biarritz, desta feita, ainda nem fumo há sobre que palco vai suceder a uma das ondas mais famosas do planeta.
No site oficial de Los Angeles’2028 já existe informação sobre os palcos da grande maioria das modalidades, mas nada sobre o surf, que em maio do próximo ano ficará a saber se a proposta de inclusão da disciplina de longboard foi aceite ou não. Nos sites especializados também pouca informação existe. Apenas nos fóruns se começam a multiplicar os rumores, saindo mais recentemente a público a opinião de algumas figuras do surf mundial.
Uma das opiniões mais generalizadas é a de fazer a prova em Trestles, com os argumentos a evidenciarem a qualidade da onda, que tanto quebra para a esquerda como para a direita, dando igual oportunidade a goofys e regulares. Além disso, a altura do ano é propícia a boas ondulações. O problema poderá ser a logística associada ao palco que tem recebido a finalíssima do World Tour, pois a acessibilidade não é a melhor e a presença massiva de público associado às Olimpíadas não seria ideal para a sustentabilidade do local.
“Penso que deveria ser em Trestles, caso conseguissem licença para isso”, começou por dizer Shane Dorian, num artigo da Surfer Magazine. “É, de longe, a onda mais consistente e alta performance da Califórnia. O facto de ter direitas e esquerdas também a torna numa escolha justa. Se não conseguirem fazer em Trestles, então deveria ser no Surf Ranch. Em termos televisivos, todos saberiam o horário da competição, não haveria janela de espera, e seria incrível”, projetou o big rider havaiano. A favor de Trestles há outros nomes como Bede Durbidge, antigo top do CT, que atualmente faz parte da equipa técnica australiana, Luke Egan, Aritz Aranburu ou Molly Picklum.
Huntington Beach seria outra das hipóteses naturais, pois trata-se de uma verdadeira Surf City. É certo que o palco anual do US Open of Surfing teria todas as condições logísticas e funcionaria como um estádio natural. Contudo, a qualidade da onda deixa muito a desejar para uma prova desta dimensão. E apresentar ao Mundo um beach break de ondas pequenas, depois da apoteose gerada por Teahupoo representaria uma sensação de anticlímax. Ainda assim, há quem defenda esta escolha, como é o caso de Kanoa Igarashi.
Outros nomes são apontados, ainda que com poucas bases de fundamento, como Oceanside, um palco também habituado a provas da WSL. Depois há a opção utópica chamada Pipeline, trazida à discussão por muitos fãs. É certo que seria uma jogada idêntica à de Teahupoo, uma vez que também é um dos melhores e mais perigosos tubos do planeta e fica no Havai, que é território norte-americano. No entanto, essa hipótese cai por terra, pelo facto de os Jogos Olímpicos se realizaram em Agosto, fora da época de ondas de qualidade na bancada rainha do North Shore de Oahu.
É assim que chegámos a outra das opções muito badaladas: uma piscina de ondas artificiais. Não é segredo que a entrada do surf nos Jogos Olímpicos sempre esteve associada a este tipo de equipamentos, que serão de utilidade extrema quando as Olimpíadas se realizarem em países sem mar. O formato competitivo das provas em piscinas de ondas assenta que nem uma luva no espectro olímpico e isso facilitaria imenso a transmissão das provas de surf para todo o Mundo, uma vez que não havia dependência do “humor” da natureza.
Contudo, esta opção retiraria toda a imprevisibilidade associada ao surf, que lhe confere tanta emoção e beleza. Poucos desportos têm uma incerteza tão grande em relação ao resultado final. Mas isso acabaria numa piscina de ondas, pois a competição tronar-se-ia mais mecânica e monótona, com os surfistas mais técnicos a dominarem os primeiros lugares. Foi assim nas etapas do World Tour já ali realizadas e assim seria nos Jogos Olímpicos, com muito pouco risco e suspense à mistura.
Um cenário que divide opiniões. A verdade é que as maiores estrelas do surf mundial sabem que tirariam vantagem de competir numa piscina de ondas. Até Kelly Slater já veio a público defender a ideia, ou não fosse ele proprietário do Surf Ranch, que seria uma das opções mais credíveis para receber a prova de surf de Los Angeles’2028, caso a decisão final não passasse pelo mar.
“Depois de ver duas edições dos Jogos Olímpicos, percebemos que é um evento bem diferente do World Tour. Penso que deveria acontecer numa piscina de ondas, com um formato adequado. O elemento sorte iria sair de cena e vimos muitas vezes a sorte a decidir heats de ritmo lento em Teahupoo. Também seria mais fácil para o comum dos mortais perceber a competição”, destacou o 11 vezes campeão mundial.
Recentemente, foi a vez do australiano Jack Robinson dar o seu ponto de vista. Medalha de prata em Paris’2024, Robinson é a favor da natureza. “Pessoalmente, defendo que se o país organizador tem ondas, então tem de usá-las. Os Estados Unidos têm ondas de qualidade no Havai e na Califórnia. Sei que muitas pessoas preferiam a piscina de ondas, porque assenta-lhes no estilo de surf, mas, na minha visão, trabalhar com a natureza faz parte do surf competitivo. Como espectador, também penso que as piscinas de ondas não oferecem um espetáculo agradável de ver. Talvez um dia, mas, por agora, é algo muito repetitivo. São as mesmas manobras repetidas vezes sem conta. Nada contra as piscinas de ondas, mas penso que, por agora, não se adequam aos Jogos Olímpicos”, frisou.
Aguardam-se novidades nos próximos tempos sobre uma decisão ou eventual processo de escolha por parte do Comité organizador. Até lá muita tinta deverá correr, sobretudo, entre os defensores do surf no seu estado natural e os que pretendem levá-lo para um palco artificial.
E vocês, qual pensam que seria a escolha ideal para palco do surf em LA’2028?
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