Pedro Mestre. É um dos mais jovens fotógrafos de surf do momento em Portugal, mas já é um dos mestres do ofício.
Nos últimos anos, habituamo-nos a ver Pedro nos diversos campeonatos da World Surf League (WSL) que ano após ano têm lugar no nosso país.
Mestre integra a equipa que capta as inesquecíveis imagens das provas levadas a cabo. Através da sua lente, podemos observar como foi o antes, o durante e o depois desses emotivos e inesquecíveis eventos.
Em entrevista, Pedro Mestre dá-se a conhecer um pouco melhor, falando da sua ascensão no mundo da fotografia de surf, o papel da "sua" Ericeira no desenvolvimento como fotógrafo, os desafios que enfrenta naqueles campeonatos que obrigam a estar horas a fio no areal, entre outros temas.
Sem nunca esquecer as fotografias mais marcantes que já tirou ao longo da carreira, com a respetiva descrição das mesmas.
Como nasceu a paixão pela fotografia?
Antes de tudo agradecer ao MEO Beachcam pela a oportunidade de falar um pouco sobre o meu percurso. Tenho acompanhado a série de entrevistas que têm feito a vários fotógrafos e são conteúdos que me despertam sempre bastante interesse.
Respondendo à tua pergunta, na realidade as minhas primeiras paixões foram a praia e o surf. No início, a fotografia era mais um meio para me manter dentro desta rotina. A paixão pela fotografia foi-se construindo à medida que ia desenvolvendo aptidões técnicas. Hoje em dia é simultaneamente a minha profissão e o meu maior hobby.
O facto de teres crescido na Ericeira foi decisivo para despertar o interesse pela fotografia de surf?
Completamente e acho que até aos dias de hoje a Ericeira mantém essa centralidade no meu trabalho. É possivelmente o melhor sítio de ondas do mundo e o ritmo da vida na vila muda consoante as condições do mar.
O que significa para ti a fotografia?
É a minha principal forma de expressão e molda toda a minha vida, tanto a profissional como a pessoal.
Há 10 anos que és fotógrafo da World Surf League (WSL) nos eventos em Portugal. Como surgiu essa oportunidade?
Foi através dos Rip Curl GromSearch que nessa altura fotografava para a extinta revista SurfPortugal. A equipa de produção (Ocean Events) era a mesma que produzia os campeonatos da WSL. Acredito que gostaram do meu trabalho e da minha postura low profile. Então, convidaram-me para fazer parte da equipa.
Estás sempre presente nos campeonatos da WSL realizados no país. Quais os maiores desafios que um fotógrafo enfrenta no terreno durante todos aqueles dias?
Para além das mudanças do tempo que podem dificultar e muito o trabalho, acho que a maior luta de qualquer fotógrafo “residente” é o equilíbrio entre a fome de fazer imagens que chamem bastante a atenção e ao mesmo tempo perceber que sou parte de uma equipa grande. Muitas vezes, a foto que a equipa precisa não é necessariamente o fotão que o meu ego pedia.
De todos os campeonatos em que já estiveste presente, qual aquele que mais te marcou?
Bem, o meu primeiro campeonato a trabalhar com a WSL foi o Mundial Júnior em Ribeira d'Ilhas em que o Tomás Fernandes ficou em terceiro e o Vasco Ribeiro foi campeão do mundo Júnior. Esse foi sem dúvida muito marcante. De resto, sinto-me um sortudo sempre que trabalho num campeonato que fica na história como o ano em que o John John foi campeão em Portugal. Também és fotógrafo do team Billabong. Existem muitas diferenças entre fotografar uma sessão de free surf e um campeonato?
Algumas, a nível técnico sendo o mesmo desporto acaba por ser parecido. No entanto, o planeamento e as emoções que tento transmitir são completamente diferentes. Numa sessão de free surf, o objetivo é que as pessoas sonhem um bocado ao ver as imagens. Já na competição, o objetivo é que quem veja as imagens perceba o que se passou durante o campeonato e idealmente todo o drama e tensão que estão em cima daqueles "atletas'. Pessoalmente, não me sentiria completo sem fotografar regularmente as duas vertentes.
Como olhas para o facto de seres muito jovem, mas já és reconhecido como um dos melhores fotógrafos de surf a nível nacional?
Tenho a presunção de achar que sou um dos mais apaixonados por esta atividade e quando isso me traz algum reconhecimento obviamente que gosto. A questão de ser um dos melhores e a idade sinceramente não me diz muito. A fotografia de surf está tão dependente das ondas e do surfista que a comparação entre fotógrafos acaba por ser inútil. Agora, quando falo com um colega e em determinado swell ele teve mais dedicado que eu, isso sim fico todo picado.
Por vezes, também costumas fotografar na água. Desperta-te mais emoções captar imagens dentro de água ou em terra?
Ambas despertam-me emoções. Na água como é mais difícil essas emoções vão mais ao extremo. Tanto quando me corre bem fico radiante, como também quando sai tudo ao lado fico super frustrado.
No teu entender, quais os segredos por detrás de um bom fotógrafo de surf?
Não há grandes segredos. Persistência e conhecimento do mar são sem dúvida características necessárias.
A nível nacional tens alguma praia favorita para fotografar?
Não, mas custa-me mesmo muito sair da Ericeira se houver ondas aqui.
Em termos internacionais qual foi o local mais marcante em que já fotografaste?
A Dakine Expedition 2022 em Marrocos foi muito marcante. Não só pelo surf, mas o facto de antes subirmos o Toubkal envolveu muita emoção e superação.
Que conselhos dás para todos aqueles que pretendem fazer carreira de fotógrafo de surf?
Talvez pensar nas imagens antes. Porque é um género de fotografia feita na praia normalmente entre malta boa onda. Às tantas se não tens objetivos é fácil relaxares e passares o dia na praia sem fazer nada que te dê orgulho.
Para além da fotografia de surf, o que mais gostas de fotografar?
Gosto de tudo o que me desafie a melhorar. Tenho como objetivo dedicar cada vez mais tempo a fotografar atividades que têm tendência a desaparecer com o tempo. Gostaria que o meu trabalho ganhasse essa dimensão de registo histórico.
Onde é que as pessoas podem acompanhar diariamente o teu trabalho?
O meu portfolio está em www.pedromestre.com e o meu Instagram é pedromestrephoto . Porém, não prometo atualizações diariamente.
Depois de todos estes anos, podes enumerar as 10 fotografias mais marcantes que tiraste e descrever cada uma delas?
Não consigo ter 10 favoritas. Então, escolhi 10 que de alguma maneira foram moldando o meu percurso.
Tiago Pires, Coxos, Dezembro de 2010
Esta foi a primeira imagem com a qual recebi feedback da SurfPortugal. Até aqui fazer carreira da fotografia era um sonho distante. Infelizmente (para mim), o Tiago estava prestes a mudar de patrocínio, então a imagem não pôde ser usada, mas fiquei com canal aberto para mostrar mais regularmente o meu trabalho ao editor João Valente.
Mariscador, Coxos, Dezembro de 2011
Esta é a primeira imagem do meu portfólio em que, na minha opinião, consigo transmitir um pouco do que é a Ericeira.
Eric Rebiere, Ericeira, Fevereiro de 2012
O Eric, por ser meu vizinho na altura, foi o primeiro surfista profissional que tive a oportunidade de trabalhar de maneira mais próxima. Aprendi imenso, principalmente a aumentar a minha exigência. Para estarmos nos sítios certos à hora certa não é só sorte: é preciso algum planeamento.
Ramon Laureano e António Silva, Estúdio, Fevereiro de 2013
Esta imagem fiz para uma entrevista na SurfPortugal. Quando recebi o pedido, achei que era uma boa oportunidade para mostrar que podia fazer mais do que “só” fotografar ação. Acho que o resultado final cumpriu o efeito.
Parker Coffin, Foz do Lizandro, Outubro de 2013
Esta imagem não tem nenhum statement, mas é daquelas que tem que estar. Desde este dia que a tento recriar, mas é difícil apanhar um céu com esta composição de nuvens e ao mesmo tempo ter um aéreo tão alto.
Tiago Pires, Cabo Verde, Janeiro de 2014
Esta foi a primeira viagem que fiz em trabalho. Apesar de não termos apanhado altas ondas, o feedback em relação ao meu trabalho foi muito bom. Acabei por conseguir publicar na OnFire Surf e na Surfers alemã.
Gony Zubizarreta e Jayce Robinson, Coxos, Março de 2014
Dois tubos em simultâneo nos Coxos é possivelmente a maior sorte que tive a fotografar. Valeu-me uma página dupla na Surfer, a minha primeira numa revista internacional.
Kai Lenny, Nazaré, Fevereiro de 2020
Tenho de incluir uma imagem de competição devido à importância que estes eventos têm tido na minha evolução, deixo abaixo a descrição que a WSL fez da imagem.
"By proving the impossible is possible, @kai_lenny 's performance on this day, on this board, and on this wave, represents progression in its purest form. Certainly one of the most amazing surfing moments ever captured, digitally or otherwise."
São Julião, Abril de 2020
Imagem só possível devido ao confinamento. Acho que a partir dessa altura comecei a querer envolver mais a vida à volta das ondas nas minhas imagens. Talvez por este susto das coisas poderem não voltar a ser como antes.
Ericeira, Dezembro de 2021
Dentro desta lógica de ter a vila dentro dos meus enquadramentos e ao mesmo tempo mostrar a perfeição das ondas, acho que esta é das imagens mais bem conseguidas que fiz.
Martim Fortes, Foz do Lizandro, Dezembro de 2023
Deixo aqui esta “extra” só por ser o Martim, que é um miúdo que me tem dado imensa pica de fotografar. Acho que ainda vamos fazer muitas imagens memoráveis.
Através da rede de livecams , podes visua lizar em direto e em tempo real toda a evolução do estado do mar e da praia.
Podes também confirmar as previsões relativas a todas as praias através da nossa página Praias Beachcam .
Segue o Beachcam.pt no Instagram