Natural da Nazaré, Hélio António é um dos mais reconhecidos fotógrafos de surf e bodyboard a nível nacional, sendo também presença assídua nas épicas sessões de ondas grandes que a cada inverno têm lugar na Praia do Norte. Seja para captar imagens em terra ou nas águas do famoso Canhão.
Em entrevista, Hélio fala-nos um pouco sobre a sua carreira, o crescimento mediático da Nazaré e elenca as fotografias mais marcantes que já tirou ao longo de todos estes anos dedicados a uma paixão.
Como é que nasceu a paixão pela fotografia?
Quando comecei a surfar (já lá vão 27 anos) e vi os tubos dentro de água, achei que era a coisa mais linda criada pela natureza. Esse deslumbramento levou-me a comprar algumas máquinas fotográficas descartáveis à prova de água, isto ainda o digital não tinha surgido. A partir daí a obsessão em fotografar ondas tomou conta de mim.
Existem diferenças entre fotografar surf, bodyboard ou outra modalidade? Se sim, quais as mais importantes?
As diferenças entre fotografar diferentes modalidades de ondas existem, mas não são muito significativas. É importante saber que os vários tipos de prancha têm diferentes abordagens à onda e que as manobras são diferentes, mas fora isso na minha opinião são semelhantes como objeto de fotografia. Em relação a outros tipos de modalidade, apesar de não ter muita experiência, diria que é da noite para o dia. Os momentos de disparo, enquadramentos e até as condições de luz são muito diferentes, pelo que é preciso conhecer bem cada modalidade para poder captar as imagens com maior impacto.
Costumas fotografar dentro de água. Que preparação fazes para essas sessões? E também que preparação é necessária quando se tratam das ondas gigantes da Nazaré?
Nunca fiz qualquer tipo de preparação especial para fotografar dentro de água. Obviamente como sempre pratiquei modalidades de ondas já tinha experiência em andar na rebentação e julgo que isso é a maior dificuldade para quem decide fotografar na água. Em relação às ondas gigantes da Nazaré, o racional é completamente diferente. É preciso uma moto de água fiável, um piloto experiente, um colete (de botijas preferencialmente) e ter presente que existe uma possibilidade de cair da moto ou ser apanhado por uma onda. Se isso acontecer, tudo pode acontecer.
Preferes fotografar em terra ou dentro de água?
A resposta curta é dentro de água. É uma experiência orgânica e como tal não tem qualquer comparação em termos das emoções que proporciona. No entanto, são precisas condições muito específicas para escolher ir para dentro de água e há dias em que as melhores imagens se captam de terra e/ou do ar.
Enquanto local da Nazaré, como é que olhas para toda a transformação que houve na vila devido ao fenómeno das ondas grandes?
A Nazaré foi claramente alvo de mudanças nos últimos 10 anos. A atenção mediática gerada pelas maiores ondas do mundo levou a que o turismo aumentasse exponencialmente, o que é óptimo para o comércio, hotelaria e alojamento local. Adicionalmente, surgiu um mercado de trabalho diretamente ligado ao surf de ondas grandes que simplesmente não existia. A contrastar com o lado positivo, o mercado imobiliário tornou-se incomportável para a maioria dos habitantes locais, mais especificamente a nova (ou não tão nova) geração que quer sair de casa dos pais, ou simplesmente ter uma casa com melhores condições. As rendas triplicaram no mínimo e a compra de casa tornou-se proibitiva dados os preços elevadíssimos dos imóveis e a escassez de opções acessíveis. Existe um número significativo de nazarenos que foram obrigados a sair da Nazaré, o que é desolador.
Qual foi a contribuição dos fotógrafos para esse desenvolvimento?
Fotógrafos e videógrafos tiveram um papel fulcral em mostrar ao mundo o fenómeno que aqui acontece. A existência de imagens dos momentos mais icónicos que aconteceram na Nazaré foram o catalisador para tudo o que veio de seguida. A onda grande da Nazaré foi alvo de notícias nos maiores meios de comunicação mundial. Fez capa no 'The Times', peça no '60 Minutes' da CBS, apareceu na BBC, National Geographic e tem uma série documental na HBO que já ganhou vários Emmys. As imagens da Nazaré chegaram a todos os cantos do mundo e elas são fruto do trabalho dos profissionais de fotografia e vídeo.
A Praia do Norte é o teu local favorito para fotografar?
É sem dúvida. Para além das suas ondas serem incríveis dos 0,5 aos 26 metros, toda a geografia é propícia a imagens impressionantes.
Que objetivos tens estabelecidos para o futuro ao nível da carreira?
O meu principal objetivo é superar-me cada vez mais. Procurar ser melhor, evoluir, criar imagens que me satisfaçam, o que pode ser uma busca infrutífera porque nunca estou satisfeito. Relacionado com este objetivo quero viajar e fotografar locais onde nunca tenha ido. Quero explorar a beleza incrível do nosso planeta e tentar captar imagens que lhe façam justiça. Tenho também como objetivo a curto prazo lançar um livro só com ondas da Nazaré e a médio/longo prazo quero lançar outro livro com as minhas melhores imagens. Este será um projeto muito especial para mim, pois será composto por imagens inéditas que nunca partilhei e que são as minhas favoritas. Quero que as pessoas que gostam do meu trabalho sejam surpreendidas a cada página com imagens que nunca viram e que na minha opinião são especiais. Idealmente gostava de lançar este livro e simultaneamente fazer uma exposição com essas imagens. Outro dos meus objetivos passa por desenvolver mais projetos em vídeo, que é uma área que me atrai muito também. Tenho uma série de outras ideias que irão depender de existir disponibilidade e viabilidade económica.
Onde é que as pessoas podem acompanhar diariamente o teu trabalho?
A plataforma que utilizo para mostrar o meu trabalho é o Instagram: @helio_antonio
Que fotógrafos a nível internacional são a maior inspiração para ti?
Existem diversos fotógrafos pelos quais tenho uma imensa admiração pelo trabalho que fazem, mas não considero que sejam uma inspiração. Vejo imagens incríveis e admiro a arte que fazem, mas isso não muda nada naquilo que é a minha paixão pelo mar e pela fotografia. Sinto-me inspirado pelas coisas simples que nos rodeiam: uma onda perfeita, a textura da água, as cores do céu, as nuvens, as folhas das árvores, um surfista em plena harmonia com o oceano. São estas as coisas que me motivam e inspiram.
Em termos internacionais qual foi o local mais marcante em que já fotografaste?
Pipeline no Havai. É a onda mais bonita do mundo. Existe uma energia naquela praia como se estivéssemos perante uma força maior.
Que conselhos dás para todos aqueles que querem fazer carreira de fotógrafo de surf/bodyboard?
Não conheço ninguém em Portugal que faça carreira apenas a fotografar surf, pelo que é preciso não iludir quem tem essas expectativas. A quem queira perseguir esse caminho, o que digo é que têm de gostar mesmo muito e ser o vosso maior crítico. Diversifiquem em outras áreas para não dependerem apenas das ondas.
Depois de todos estes anos de carreira, podes enumerar as 10 fotografias mais marcantes que tiraste e descrever cada uma delas?
É sempre difícil escolher e muitas vezes as que mais gosto não são as que as pessoas preferem. Escolhi 12 porque não consegui excluir duas.
Francisco Porcella numa onda grande e potente na Nazaré. É raríssimo enquanto fotógrafo ter a noção imediata de que a fotografia é especial, mas assim que vi esta imagem fiquei imediatamente com a certeza que era uma das minhas melhores fotos.
As formas geométricas das linhas da Praia do Norte vistas do ar.
Esta imagem foi tirada em 2006 na Nazaré e mostra as águas do rio carregadas de barro e areia a chegar ao mar.
Imagem subaquática do bodyboarder nazareno Dino Carmo na ilha Terceira, Açores.
Uma tarde dourada, de ondas perfeitas na Praia do Norte. A preparar-se para entrar na água o bodyboarder local António Cardoso.
Um dia inesquecível na Praia do Norte, tudo no seu devido lugar.
Nic von Rupp dentro de um tubo numa das pérolas da nossa costa.
Uma onda de luxo numa bancada de pedra excepcional
Um amanhecer especial na Nazaré
Uma série de ondas gigantes que parecem querer engolir o forte São Miguel Arcanjo na Nazaré
A Nazaré proporciona um dos maiores espetáculos da natureza deste nosso planeta
A onda mais surreal que já fotografei nos Supertubos em Peniche