É um dos mais conhecidos fotógrafos portugueses de surf. António Manuel, reconhecido no meio como Tó Mané, é o primeiro entrevistado de uma rubrica que mensalmente irá dar a conhecer um pouco melhor nomes que se destacam quando o tema combina fotografia e surf.
Do início da paixão à icónica imagem da onda gigante surfada por Garrett McNamara na Nazaré, que catapultou o seu nome a nível internacional, o portuense Tó Mané fala-nos sobre o seu trajeto no mundo da fotografia de surf.
Como é que nasceu a paixão pela fotografia de surf?
A minha paixão pela fotografia de surf é resultado da profunda conexão que tenho pelo oceano e do entusiasmo do meu avô pela fotografia, que me fez despertar o interesse por essa arte quando era criança. Desde 1988, o surf é uma parte essencial da minha vida. Por isso foi natural começar a fotografar os meus amigos e tudo o que me rodeava na altura. Em 1998, ao ver a minha primeira imagem de surf publicada numa revista especializada e ser pago por isso, algo mágico aconteceu: comecei a sentir aquela imensa satisfação de procurar e capturar momentos únicos, que ainda hoje sinto!
Quais as maiores diferenças que encontra no setor entre o momento em que começou a fotografar e o presente?
A minha jornada na fotografia de surf foi marcada por uma notável evolução no mundo do surf e da fotografia. No início, enfrentei os desafios técnicos ao trabalhar com câmaras analógicas, mas a transição para o digital trouxe uma liberdade criativa incrível. Testemunhei o crescimento exponencial do surf em Portugal e no mundo, abrindo portas para mais oportunidades. Com a expansão da internet e das redes sociais, as revistas especializadas saíram de cena, mas, ao mesmo tempo, o mercado de criação de conteúdos aumentou significativamente. A chave para o sucesso é a adaptação constante, a busca contínua de aprendizagem, a evolução e também a preservação da autenticidade no que fazes. Num mundo em constante mudança, manter-se fiel à essência da tua expressão artística é crucial para sentires prazer, prosperar e destacares-te.
Quais os segredos por detrás de um bom fotógrafo de surf?
Acredito que a paixão é a base de tudo. Amar verdadeiramente o que fazemos é o combustível que nos impulsiona a superar os desafios. Além disso, a paciência desempenha um papel fundamental – aguardar pelo momento certo muitas vezes faz toda a diferença entre uma boa e uma excelente fotografia. No meu caso, conhecer profundamente o mar tornou-se uma competência essencial. Antecipar os movimentos das ondas e dos surfistas, identificar os melhores fundos e compreender as nuances das condições climáticas são aspetos que se revelam indispensáveis, sem esquecer toda a técnica fotográfica que não é irrelevante. Estas competências não só aprimoram a qualidade técnica da fotografia, mas também contribuem para a criação de imagens verdadeiramente impactantes. Em última análise, é a combinação de paixão, paciência e conhecimento especializado no surf e fotografia que transforma uma simples foto em algo extraordinário.
Qual a sensação que teve após fotografar a famosa onda do Garrett McNamara na Nazaré? Sentiu de imediato que também tinha feito história?
Fotografar o Garrett McNamara na Nazaré foi uma experiência surreal. A minha concentração estava totalmente focada em enquadrar e capturar os momentos daquele ângulo. Senti que era uma fotografia especial assim que pressionei o botão do obturador, mas a verdadeira magnitude dessa experiência só se revelou mais tarde. Foi incrível perceber que aquela imagem não apenas registou um feito histórico, mas também tornou-se icónica para muitos amantes do surf e da fotografia. A realização de ter capturado não apenas um momento, mas um instante que ecoa na história do surf, é uma sensação indescritível. Isso reforça a beleza e impacto que uma única imagem pode ter na narrativa de um desporto e na memória dos seus admiradores.
É possível ao longo dos anos fazer a preparação para um momento daqueles ou é puro instinto?
A preparação é contínua. É fundamental conhecer o local, as condições climáticas e estudar o comportamento das ondas para obteres as melhores perspetivas. No entanto, no momento crucial, é o instinto que entra em ação. É a capacidade de te adaptares e fluíres com as condições do momento e reagir intuitivamente, que leva às melhores fotografias.
O que mudou na sua carreira de fotógrafo após esse momento?
Aquela imagem trouxe reconhecimento internacional e abriu portas para colaborações incríveis. Aumentou a minha responsabilidade como fotógrafo, mas também foi motivo de inspiração para continuar a procurar momentos únicos e autênticos nas ondas.
No presente que trabalhos está a desenvolver a nível nacional e internacional?
De momento, encontro-me envolvido em projetos tanto a nível nacional como internacional. Colaboro com marcas de renome global, como Roark, Electric e Suntribe, representadas pelos Wilderness Brothers, e também com a Indosole, Merge4, Mizu, Slowtide e Wacaco, representadas pela Cool and Funcional. Ambas as empresas destacam-se pelo seu sólido compromisso com a sustentabilidade ambiental. Adicionalmente, mantenho o papel de embaixador para a Combi Coffee, Deeply, SharpEye Surfboards Portugal e a Think Thank Photo. Estas parcerias refletem o meu compromisso contínuo com marcas que partilham os valores ecológicos e de qualidade que considero fundamentais. Dentro desse contexto, dedico-me à criação de conteúdo que capte a autêntica essência da natureza, do surf e das minhas viagens em colaboração com essas marcas. O meu objetivo permanece na partilha genuína e inspiradora dessas experiências. Adicionalmente, tenho a honra de desempenhar o papel de jurado no Mercedes-Benz Nazaré Winter Sessions Awards, uma prestigiada competição de fotografia e vídeo no Canhão da Nazaré e na Praia do Norte. Mantenho relações profissionais e de amizade de longa data com o Surf Clube de Viana, Onda Pura e Academia de Surf do Norte. Faço parte do coletivo 'Salitre', o qual me orgulho de integrar, pertencendo a um grupo de fotógrafos que me inspiram diariamente. Atualmente, temos um livro a ser comercializado, o Salitre Vol. III. É com grande satisfação que colaboro esporadicamente com a Beachcam e a Surfline, capturando as melhores ondas da minha região. Convido todos a ficarem atentos às minhas redes sociais, pois novos projetos promissores estão prestes a ser revelados. A jornada continua e estou entusiasmado por partilhar mais momentos inesquecíveis e inspiradores convosco.
Tem alguma praia favorita para fotografar?
Cada praia tem a sua magia ímpar. Adoro explorar novos destinos, porque acredito que cada local oferece oportunidades únicas para fotografar imagens épicas. Mantendo-me sempre aberto a novas experiências, o meu grande objetivo é capturar fotografias icónicas de toda a costa portuguesa. Quero imortalizar a diversidade e a beleza singular de cada lugar, contribuindo para um registo abrangente e significativo da riqueza do litoral do nosso país.
Depois de todos estes anos de carreira, consegue enumerar as 10 fotografias mais marcantes que tirou e descrever cada uma delas?
“Big Monday” Praia do Norte, Nazaré, Portugal, 28/01/2013
A icónica fotografia de Garrett McNamara a surfar o que todos chamam de “onda de 100 pés”, provavelmente a maior onda alguma vez surfada no mundo, na Praia do Norte, Nazaré, Portugal.
“An ODE to The MISSION” Foz do Douro, Porto, Portugal, 24/11/2022
Esta imagem significa para mim a busca eterna das ondas. Às vezes, mesmo em dias de grandes tempestades é possível encontrar ondas surfáveis. Naquele dia, Elohe Alvarez e eu fomos ao rio Douro para verificar as condições. Não tivemos sorte em encontrar algo surfável desta vez, mas tivemos a sorte de tirar esta fotografia. Na próxima grande tempestade, estaremos à procura novamente.
“Dream” Pico do Trol, Vila Nova de Gaia, Portugal, 01/12/2022
Durante anos folheei as páginas de revistas australianas de surf alimentando-me da beleza capturada nas imagens do backwash em ondas perfeitas. Esse cenário, que sempre foi um sonho meu, parecia distante até este momento. Numa sessão de ondas clássicas no Trol testemunhei pela primeira vez a majestade de uma onda que se desdobrava em perfeição. Sob condições de luz deslumbrantes, o universo conspirou para que vivesse aquele momento mágico que tanto ansiava. Naquele breve instante, a realização do meu sonho materializou-se, deixando-me imerso na inspiração que as ondas, em sua grandiosidade, podem proporcionar. Esta onda foi única nesse dia e até hoje não vi mais nenhuma! Foi com muita satisfação que vi esta fotografia publicada no livro Salitre, vol. III.
“Universal Alignment” Praia do Cabedelo, Viana do Castelo, Portugal, 06/01/2019
Às vezes tudo está alinhado: bancos de areia, tamanho e direção da ondulação, maré, direção do vento e luz. Tudo se torna simples! Nesta manhã fui cobrir o Campeonato Nacional Surf Esperanças – Finalíssima – Femininos Sub-16 e Sub-18, em Viana do Castelo, organizado pelo Surf Clube de Viana. Deparei-me com estas condições clássicas! Na companhia da minha mulher, Paty, decidimos não perder esta oportunidade e subir o Monte de Santa Luzia para fazer esta imagem de um ponto de vista privilegiado. Esta imagem é um convite para que todos procurem momentos singulares e apreciem a beleza efémera da vida.
“Better than Sex...” Pico do Paredão, Leça da Palmeira, Portugal, 28/03/2012
Num dia épico em Leça da Palmeira, diante do imponente Pico do Paredão, registei esta cena extraordinária protagonizada pelo talentoso surfista e amigo, João Guedes. Equipado com a minha caixa estanque, uma criação do Nuno 'Nunito' Cardoso, fundador da Wave Solutions Water Housings, e munido de uma lente olho de peixe, aproximei-me do pico enfrentando a corrente enquanto remava para o outside. O João Guedes apanhou uma onda perfeita, enquanto me esforçava para encontrar a posição ideal e disparei a minha câmara para não perder este momento único. Infelizmente, as condições do mar deterioraram-se com a chegada de um vento adverso, impactando a qualidade das ondas. Desanimado, abandonei a água. Contudo, uma reviravolta emocionante aguardava-me no jardim de Leça, quando eu e Patrick Jongenelen examinámos as imagens. Aí percebi que tinha uma foto especial que ele também admirou. Foi a primeira vez que olhei para a imagem que mais tarde se tornaria a minha primeira publicação na prestigiada revista 'Surfing Magazine'. Este momento marcou uma etapa significativa na minha carreira. A publicação na Surfing não apenas validou o meu trabalho, mas também representou um importante avanço na minha jornada profissional.
“Slab Hunter” “Costa da Morte”, Galícia, Espanha, 14/11/2012
Numa jornada pela Costa da Morte, enfrentei medos e desafios ao explorar esta onda única surfada por Éric Rebière. Aventurei-me com um grupo em busca desta onda temível, enfrentando uma ondulação gigante. Após várias recusas de pescadores, devido ao mar tempestuoso, encontramos um corajoso para levar-nos até ao local. Enquanto preparávamos o barco no porto de abrigo, o motor falhou diversas vezes, gerando momentos de ansiedade e insegurança.
Lá partimos para uma viagem intensa com várias pessoas a bordo. Assim que chegamos ao pico, o motor parou de trabalhar muito próximo de onde a onda quebrava. Foram momentos de pânico a bordo. O motor pegou e, por fim, esta sessão ficou carregada de momentos inesquecíveis e adrenalizantes. A fotografia eterniza essa experiência épica, uma jornada única e audaciosa onde desafiámos a morte, para capturar a essência da natureza selvagem da 'Costa da Morte', Galiza, Espanha. Esta imagem foi publicada em revistas de surf em todo o mundo: a onda que desafia a morte de Éric Rebière.
“Old Golden Days” Pico do Paredão, Leça da Palmeira, Portugal, 27/03/2012
Numa tarde, recebi um telefonema de Pedro Maria Bettencourt que descreveu um mar imponente em Leça da Palmeira. Sem hesitar, decidi ir. Ao chegar deparei-me com uma visão deslumbrante, quase no pôr do sol, onde a luz conferia uma tonalidade dourada única, iluminando o paredão. Esta imagem espetacular não apenas capturou a destreza de Pedro Maria, mas também tornou-se uma imagem de destaque global. Publicada em revistas de bodyboard em todo o mundo, alcançou um patamar especial ao ser incluída no livro anual da revista 'Movement'. Este livro seleciona as melhores fotografias de cada ano, onde tive o privilégio desta fotografia ser publicada em página dupla. Uma história que testemunha como agarrar uma oportunidade pode levar-nos a momentos extraordinários. Desde um telefonema até ao impacto global, cada passo dado é uma celebração da paixão, coragem e beleza que encontramos ao seguir os nossos sonhos.
“(Im)Perfect” Praia do Norte, Nazaré, Portugal, 29/10/2020
A caminho do Porto e ter de voltar para a Nazaré, por esquecimento de umas baterias, pode ser frustrante. Neste caso, mal sabia eu, foi uma bênção que me permitiu fazer esta fotografia. Esse dia para mim foi um dia (im)perfeito! As condições estavam realmente clássicas. Fotografei o dia todo sem parar e sempre a ficar surpreendido com cada onda gigante surfada. A Paty, a minha mulher, ia pondo as baterias a carregar no café mais próximo e o meu filho Rodrigo passava as fotos do cartão para o disco externo enquanto eu fotografava. Quando todos os surfistas saíram do mar, na Praia do Norte, arrumamos o material e arrancamos para o Porto já muito cansados. Durante a viagem lembramo-nos das baterias e tivemos de voltar ao local onde as deixamos. Fomos maravilhados por este pôr do sol. Apesar de já ter estado várias vezes na Nazaré, nunca tinha visto o sol a pôr-se atrás das Ilhas Berlengas. Quando fluímos somos sempre surpreendidos e o surf ensina-nos essa lição.
“Dreams!" Praia da Baia, Espinho, Portugal, 23/03/2019
Esta imagem foi capturada às 7h08 da manhã, em março de 2019. Eu e os meus amigos acordámos ainda de noite e o sol começou a nascer. Presenciar o nascer do sol com a lua no céu, ondas perfeitas e sem ninguém por perto. É uma experiência verdadeiramente única! Além disso, esta imagem simboliza o facto de que perseguir ondulações leva- me a lugares e paisagens incríveis, momentos de convívio, sabores memoráveis, experiências enriquecedoras e amizades para a vida. Em resumo, o surf é isso para mim e esta fotografia representa tudo o que vivi nesta onda até hoje.
“Fly High...” Pico do Paredão, Leça da Palmeira, Portugal, 27/04/2010
Num amanhecer em Leça da Palmeira, capturei esta imagem do Sebastião 'Sebas' Furtado, enquanto ele desafiava as ondas ao nascer do sol. As direitas com junções para o paredão com o sol a iluminar a onda, deixando o paredão na penumbra, proporcionaram o cenário perfeito. Foi uma das primeiras imagens em que eu e o surfista planeámos uma fotografia e a manobra – um aéreo. Após várias tentativas, ele executou um aéreo gigante com grabe, resultando nesta imagem que ganhou destaque em revistas de surf internacionais. Neste caso, salienta-se a colaboração entre fotógrafo e surfista, que resultou nesta fotografia que foi selecionada e publicada no prestigiado 'F-Stop' da Surfline. Uma verdadeira celebração do trabalho em equipa e dedicação para capturar momentos únicos.
Podes acompanhar o trabalho do fotógrafo Tó Mané através da sua conta oficial na rede social Instagram , bem como via o seu sítio oficial de internet .
Através da rede de livecams , podes visua lizar em direto e em tempo real toda a evolução do estado do mar e da praia.
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