Num mundo em que predomina a informação instantânea, disponibilizada no online, o projeto 'Salitre' representou uma verdadeira lufada de ar fresco nos conteúdos de surf em Portugal, nomeadamente ao nível da fotografia. Uma espécie de regresso ao passado.
Criado em plena pandemia, 'Salitre' é o nome de um livro de capa dura que já vai no seu terceiro volume, oferecendo 109 páginas recheadas de imagens deslumbrantes da extensa costa portuguesa.
Cortesia de cinco fotógrafos que dispensam apresentações ao nível da fotografia de surf em Portugal: André Carvalho, João 'Brek' Bracourt, Hélio António, Pedro Mestre e Tó Mané .
Em entrevista, André Carvalho fala-nos um pouco sobre este coletivo, que pretende publicar volumes anualmente até "sermos muito velhinhos".
Como surgiu a ideia do projeto 'Salitre'?
A ideia deste projeto surgiu em plena pandemia. Estava com tempo a mais para pensar em coisas e o desejo de juntar um grupo de bons fotógrafos e fazer coisas já vinha de trás. Com o fecho das revistas ficou aqui um gap no que diz respeito a conteúdos impressos. Todos acreditámos que as pessoas queriam voltar a ter um objeto físico com boas fotografias. O Instagram é muito giro, mas dignifica pouco o nosso trabalho. Como havia muito tempo e pouco trabalho foi perfeito para nos organizarmos.
Qual a origem do nome 'Salitre'?
Para o bem e para o mal, o 'Salitre' está sempre presente nas nossas vidas. Seja nas máquinas, pestanas, fechos de malas e fatos. 'Salitre' não é geralmente conotado com algo muito positivo, mas para nós é sinal que estamos perto do mar, das ondas e do surf.
DR/Salitre
Qual foi o critério de escolha dos cinco fotógrafos que integraram o livro? Esperam integrar outros fotógrafos no projeto?
O principal critério foi a qualidade do trabalho, a dispersão geográfica e o carácter humano de cada um. Conhecia todos os fotógrafos, exceção feita ao Hélio, mas como me pareceu um gajo fixe avancei com o convite. Na realidade, todos eles me inspiram e inspiraram. É um privilégio poder tê-los comigo, seja a partilhar fotos, pensamentos e trabalho. Honestamente não esperamos integrar mais ninguém, pelo menos na parte da fotografia. Já somos cinco e todos nos entendemos bem, mais vale não mexer. Agora se o 'Salitre' evoluir como gostaríamos para outras plataformas, era bom termos alguém na parte do vídeo, ilustração, escrita e por aí fora. A ideia é ter um coletivo de malta criativa ligada ao surf.
Numa altura em que o online predomina, o que significou lançar um projeto em papel?
É uma boa questão, mas acho que o online predomina apenas na informação imediata e descartável. Sempre acreditei que o online não substituiria o papel em projetos de qualidade e o 'Salitre' é a prova disso. Há fotografias que merecem ser vistas em página dupla, merecem que percamos mais do que 10 segundos a olhar para elas e acima de tudo merecem viver no tempo e quem sabe um dia os nossos netos poderão folhear estes livros com a mesma alegria que nós fazemos.
DR/Salitre
Quais os maiores desafios sentidos na elaboração do livro?
O maior desafio é mesmo chegar aos apoios imprescindíveis para a produção. Os diretores de marketing muitas vezes não nos respondem ou quando respondem não têm dinheiro para investir. Não é fácil em Portugal levar a cabo um projeto cultural porque lá está, as marcas muitas vezes querem resultados imediatos e num livro isso é mais complicado, o retorno é dado a médio/longo prazo, mas não desaparece depois de dares um like. Mesmo assim temos tido alguns apoios desde o primeiro volume que nunca desistiram. Obrigado Despomar, Câmara Municipal de Mafra, Surf Clube de Viana, Praia do Norte, Oslo, Câmara Municipal de Cascais, MEO, Visit Portugal, Volcom e 58 Surf.
Onde pode ser adquirido o livro?
O livro pode ser adquirido no nosso Instagram, por email salitrefotografia@gmail.com ou no nosso Linktree . A Oslo tem à venda nas suas lojas e a Praia do Norte também.
Que feedback tem recebido da comunidade surfista acerca do projeto?
Vai do 8 ao 80. Às vezes acho que a geração mais nova dá pouco valor ao trabalho aqui feito e como isto os promove enquanto surfistas. A mim custa ver putos que nunca saíram numa revista, mas estão presentes no livro a nem sequer partilharem os conteúdos, a não passarem a palavra. Acho que é uma geração muito desligada de tudo o que foge dos ecrãs e acima de tudo pouco agradecida no geral. Já dos 30 para cima o feedback é incrível. As pessoas tinham saudades de agarrar num objeto físico e verem boas fotos impressas em bom papel. É muito gratificante ver o sorriso na cara dos nossos leitores quando agarram nesta peça.
DR/Salitre
Para o futuro estão planeados mais projetos semelhantes?
Claro! Este é o terceiro volume e queremos publicar um por ano até sermos muito velhinhos. Também gostávamos de fazer mais coisas enquanto coletivo, mas a verdade é que temos todos contas para pagar e trabalho para fazer, o que dificulta um bocado avançar para outras frentes. Mas com calma vamos lá chegar.
Através da rede de livecams , podes visua lizar em direto e em tempo real toda a evolução do estado do mar e da praia.
Podes também confirmar as previsões relativas a todas as praias através da nossa página Praias Beachcam .
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